O MIT (Massachusetts Institute of Technology) está financiando projetos de inteligência artificial no Brasil e no mundo para entender e mitigar problemas de saúde urbanos a partir da coleta de dados. Recentemente, a instituição aprovou o custeio de um programa de capacitação que levará pesquisadores para dar workshops sobre o uso de Inteligência Artificial (IA) no tratamento de dados de hospitais da região Norte do país.
Evento IA e Saúde: aplicações e resultados
A novidade foi compartilhada por Fábio Duarte, diretor associado e pesquisador principal do MIT Senseable City Lab, um laboratório que desenvolve soluções de planejamento urbano utilizando tecnologias para obtenção de dados. "Com este novo projeto, o MIT irá colaborar com pesquisadores de universidades e hospitais na região Norte para integrar inteligência de dados em soluções para saúde pública", explicou.
Duarte foi um dos palestrantes da primeira edição do evento IA e Saúde, realizado na última terça-feira (25) no Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês. Organizado pela Securitas Bioholdings, Datarisk, Biozeus, FinHealth, MIT e Sírio-Libanês, o seminário apresentou resultados bem-sucedidos da aplicação de tecnologias de inteligência artificial para facilitar diagnósticos e processos na área da saúde.
Desafios e futuro da IA na saúde
Luis Cláudio Garcia de Souza, co-fundador da Securitas Bioholding, foi um dos responsáveis pela realização do evento IA e Saúde. Investidor em projetos de ciências da vida e biotecnologia, o empresário disse que criou o fórum de discussão com o objetivo de mostrar caminhos para que a utilização da inteligência artificial se concretize na sociedade.
"Reunimos aqui as melhores mentes para desmistificar a IA e demonstrar como ela pode ser aplicada para atender necessidades reais. É possível empreender neste campo. Este é o primeiro de muitos eventos que ainda realizaremos para disseminar este conhecimento", afirmou.
Tecnologia na prática: totem de termografia e robôs de coleta de esgoto
Jhonata Emerick, CEO da empresa de inteligência de dados Datarisk, também palestrou no evento e afirmou que o uso de ferramentas de IA é uma realidade que está remodelando os parâmetros do exercício da medicina. Emerick destacou ainda a necessidade de um componente cultural para a disseminação desses conhecimentos entre os futuros profissionais da área.
"As escolas e faculdades deveriam investir no aprendizado de IA para coleta de dados. Todo este processo envolve a formação de pessoas, cada uma ao seu nível. Capacitar profissionais com essa cultura permite às empresas de saúde terem ferramentas de trabalho que têm impacto positivo na operação final", disse o CEO.
Durante o evento, Jhonata falou sobre o caso do totem de termografia, amplamente utilizado durante a pandemia de Covid-19. Com um equipamento de captura de imagem termográfica instalado na entrada dos hospitais, era possível detectar a temperatura corporal de uma pessoa antes de ela entrar no ambiente. Se o paciente estivesse com febre, era indicado imediatamente o protocolo adequado. "Este totem saiu dos hospitais e chegou aos shoppings. É ciência aplicada à vida real. Um exemplo de inovação científica que se transformou em um negócio global", comentou Emerick.
Fábio Duarte também apresentou um caso relacionado à pandemia de Covid-19. O MIT desenvolveu robôs que coletavam amostras de esgoto de bueiros para análise do material biológico presente. A tecnologia não só detectava coronavírus, mas também outros tipos de vírus, drogas, bactérias e disfunções alimentares. Com os dados de localização dos bueiros, era possível mapear as doenças e propor políticas públicas específicas para cada região. A tecnologia foi aplicada em Boston (EUA), Valência (Espanha), Seul (Coreia do Sul) e Kuwait City (Kuwait).
O pesquisador do MIT enfatizou que o grande trunfo desses projetos de sucesso está em observar o que normalmente passa despercebido. "Geramos dados diariamente sem perceber. Como podemos utilizá-los de forma eficaz para resolver problemas urbanos, sem recorrer aos métodos tradicionais de pesquisa e análise? A resposta está na tecnologia", provocou.
"Costumo brincar que os dados estruturados são aqueles que encontramos em uma planilha do Excel; tudo o mais são dados não estruturados. O mundo está repleto de dados não estruturados e a inteligência artificial ajuda a superar essa barreira. Agora, é muito mais viável obter informações", completou Emerick.
Além de Jhonata Emerick e Fábio Duarte, participaram do evento Felipe Veiga, diretor médico de informática em imagens médicas do Sírio-Libanês; Ailton Brandão, CIO do Sírio-Libanês; Luiz Reis, diretor de pesquisas do Sírio-Libanês; Marco Gutierrez, engenheiro e professor da FMUSP; e Antonildes Assunção Jr., médico cardiologista.
Projetos e resultados do Hospital Sírio-Libanês
No seminário, o Hospital Sírio-Libanês apresentou o projeto CareGaps, que identificou e corrigiu uma lacuna no fluxo de saúde de mulheres com suspeita de câncer de mama. A equipe do DataLab, laboratório de dados da instituição, desenvolveu uma ferramenta de inteligência artificial para classificar mais de 26 mil laudos de radiologia. Na análise, descobriu-se que dos 1036 laudos com resultados BI-RADS 4 ou 5 - categorizações de achados suspeitos em exames de mama -, apenas 331 foram submetidos à biópsia.
Com esta descoberta, o hospital iniciou uma ação para contatar cada uma das pacientes que não havia realizado o procedimento, visando dar continuidade ao tratamento. O resultado foi um aumento de 26% na taxa de conclusão do ciclo de tratamento dessas mulheres.