faz parte da divisão Informa Markets da Informa PLC

Este site é operado por uma empresa ou empresas de propriedade da Informa PLC e todos os direitos autorais residem com eles. A sede da Informa PLC é 5 Howick Place, Londres SW1P 1WG. Registrado na Inglaterra e no País de Gales. Número 8860726.

“Future of Digital Health”: debatendo o que virá depois daquilo que está chegando

digital-health-guilherme-hummel.png

Em março começa o primeiro “digital health future thinking” do país

“O medo é uma experiência universal. Até o menor inseto sente medo. Entramos nas poças da maré e colocamos o dedo perto dos corpos macios e abertos das anêmonas-do-mar, e elas se fecham rapidamente. Todos espontaneamente fazem isso, incluindo empresas e mercados. Não é uma coisa terrível sentir medo e dúvida quando nos deparamos com o desconhecido. As coisas ficam muito claras quando não há para onde escapar. Bravura não é a ausência de medo, mas a intimidade com ele”, explica a monja budista Pema Chödrön em sua obra “When Things Fall Apart: Heart Advice for Difficult Times” (1996).

Nenhuma indústria de serviços sentiu tanto receio, apreensão e preocupação nos últimos tempos quanto o setor de saúde. Dos píncaros da pandemia aos temores da eficiência vacinal, passando pelos altos investimentos em 2020/2021 até as reduções surpreendentes dos últimos meses, as lideranças convivem com a inquietação e a dúvida. Mesmo as grandes empresas, que fazem sólido esforço de digitalização, ou as que nasceram startups e viraram healthtechs após a Covid19, ou mesmo o Estado, todos sempre se perguntam: “Será que estamos mesmo fazendo o que deveríamos fazer para superar as dificuldades e os desafios?”; ou “Quais as possibilidades de estarmos promovendo inovações de maneira errada, ou rápido demais, ou demasiado lento?”

As incertezas não são só nacionais. Todos os sistema de saúde reagem de modo entrópico ao pós-Covid, indo da ameaça de fechamento em massa de hospitais nos EUA, passando pela profunda crise dos serviços públicos de saúde na Europa, até as longas filas de procedimentos represados no mais respeitado sistema público de saúde do mundo (NHS). Todos vivem no cruzamento entre a ansiedade e a insuficiência. A incerteza acorda com o stockholder, vai dormir com o stakeholder, não reelege o government-holder e “infecta” de medo a mente de bilhões de pacientes. Mas isso também é bom. São as ‘dores metamorfósicas’ da Saúde 5.0, uma revolução de novas práticas, comportamentos e estratégias que vai redirecionar tudo aquilo que hoje fazemos em cuidados médicos. Apressurando as turbinas dessa imensa massa de transformações está o bioma digital.

A melhor forma (talvez única) de reduzir as apreensões na tomada de decisão é a informação, o conhecimento e a preparação. O economista Joseph Schumpeter escreveu em sua obra-prima “Capitalism, Socialism and Democracy” que “a destruição criativa é o processo de mutação industrial que incessantemente revoluciona a estrutura econômica desde o seu interior, insistentemente destrói a velha estrutura e ininterruptamente cria uma nova”. O que ele chama de “destruição criativa” chamamos hoje de disrupção tecnológica. Schumpeter escreveu essa magnífica obra em 1942, morrendo em 1950. Portanto, a disruptura não é algo novo. Ainda assim, quando estamos diante de uma força desconhecida e impactante, tendo que decidir algo relevante (alocação de recursos em inovação, por exemplo) sempre estamos diante de uma encruzilhada: (1) se dá para enfrentar o ‘desafio’ e eu enfrento, chamam de coragem; (2) se dá para enfrentar e eu fujo, sou qualificado como covarde; (3) se não dá para enfrentar e eu fujo, chamam de prudência; (4) mas se não dá para enfrentar e eu enfrento é quase certo que isso será considerado uma irresponsabilidade.

Como explicaria o saudoso psicoterapeuta Paulo Gaudêncio: “cenários de alta dificuldade e baixa habilidade geram distresse (estresse negativo); cenários de alta habilidade e baixa dificuldade nos remetem ao tédio (desinteresse, conformismo); somente cenários em que existe o medo (‘sal da vida’) e a alta preparação geram eustresse (estresse positivo). É nele que desabrocha o desafio e a paixão. A ansiedade sem preparação (estudo, informação, debate, conhecimento) bloqueia”. Em outras palavras, o gestor de saúde (CEO, CIO, CMO, etc.) é hoje um ser acuado, refém do experimentalismo e da indecisão. Há muitas opções abertas pela tecnologia digital e pela ciência de dados, mas poucas orientações sobre como cada uma delas resolve o cipoal de desafios dos novos tempos, que não estão no passado ou no presente, mas sempre no futuro.

Um exemplo é o que aconteceu nos últimos três anos com o comportamento do consumidor de serviços de saúde. Uma pandemia depois, o paciente se movimenta cada vez mais para “assumir o controle de sua saúde e bem-estar”. Se havia dúvidas sobre isso, a Covid-19 eliminou. A (1) Saúde e o (2) Condicionamento Físico foram classificados em conjunto como o 4º valor pessoal mais importante para o consumidor em 2020 (era o 12º em 2019), chegando em 2022 ao 3º valor pessoal mais importante (fonte: GfK). Como reagir a esse novo comportamento? Qual o perfil do consumidor de planos de saúde em 2025?

Para decidir com cautela, reduzindo o medo e as incertezas na tomada de decisão, talvez devêssemos “seguir os bebês”, como explica o sociólogo Mauro F. Guillén em seu livro “2030: Cómo las tendencias actuales darán forma a un nuevo mundo”. Nesse sentido, se analisarmos a taxa de fertilidade (recém-nascidos por mulher) vamos verificar que em 1955, nos países emergentes, a média era de 5 a 6 crianças por mulher. Em 2020 está perto de 2,5, em 2028 pode chegar a 2,3 e em 2050 pode ser menor do que 2. Por outro lado, em 2020 o Brasil tinha uma população de 67,5 milhões de indivíduos com idade entre 15 e 34 anos (top do consumo), em 2030 não chegarão a 62,3 milhões. Se você é uma healthtech ou homecare, e busca seu próximo cliente, pense na população brasileira de 60+, que hoje é de 29,9 milhões de indivíduos e será 42,2 em 2030. Peso de digital health na pediatria: 10. Na geriatria, 50. Façam suas apostas!

Outra Pesquisa, divulgada em dezembro de 2022 pela Wolters Kluwer (“Pharmacy Next: Health Consumer Medication Trends”), mostrou que no futuro (5 anos à frente) 61% dos adultos nos EUA já avaliam usar serviços de atendimento primário em farmácias ou clínicas de varejo em vez de ir a um médico. Ou seja, a escassez da oferta de serviços e o aumento dos custos indica uma transição para configurações de varejo em busca de melhores resultados. O estudo mostra também que 56% dos consumidores norte-americanos confiariam em farmacêuticos para o primary care, com enfermeiros recebendo 55% da confiança. Por outro lado, cerca de três quartos dos americanos (72%) estariam abertos a receber medicamentos prescritos por um farmacêutico especialmente treinado. Se estamos buscando oportunidades de investir, os dados da OCDE mostram direções: somente 2,7% dos gastos mundiais em saúde são direcionados à prevenção de doenças. Quantas são as operadoras de saúde no Brasil com planos reais e concretos de promoção, prevenção e predição de morbidades crônicas? Quantas são as seguradoras com programas formacionais em teleatendimento para autocuidado ou alfabetização em saúde? Perto de zero. Até o fim da primeira metade deste século, a maior empresa do mundo será uma companhia de Tecnologia em Saúde Direct-to-Consumer (D2C e DTC), ou seja, “uma vertical que elimina intermediários, comercializando um produto ou serviço sanitário diretamente com o consumidor final”. Motivo: pacientes estão infelizes, cansados, insatisfeitos com os custos, com a qualidade do atendimento e com o retorno que essa ‘camada de serviços’ reflete em sua saúde e bem-estar. A promessa de que os intermediários melhorariam a personalização do atendimento está fracassando.

O Brasil inaugura uma nova fase governamental. Parece que a ciência voltou ao cockpit. Nesse sentido, há muita expectativa de que as ‘transformações digitais na saúde pública e privada’ ganhem arranque. Talvez o país enfrente a sua mais determinística década de enfrentamento sanitário. Seu mais desafiador confronto progressista é assumir padrões digitais em saúde, como interoperabilidade e compartilhamento de dados. Se continuar nessa indecisão corrosiva, vai continuar sendo um mero Sísifo, rei da Tessália, condenado por Hades (rei das sombras) a empurrar um rochedo até o cimo da montanha, caindo sempre de volta quando atinge o topo. Sísifo empurrou a pedra montanha acima por toda a eternidade. Sem Transformação Digital, a Cadeia de Saúde (incluindo o Estado) continuará condenada a exponenciar recursos financeiros em infraestrutura de “tijolo e argamassa”, imunizar a população com baixa rastreabilidade tecnológica, inventar programas de medicação sem controle digital de produção, consumo e efeitos colaterais, ou continuar fragmentando o setor sem o mínimo compartilhamento de dados clínico-assistenciais. A pedra vai voltar todos os anos ao mesmo local, vai subir todos os dias a mesma montanha, vai gerar o mesmo ‘esforço sisífico’ e obter os mesmo resultados de exclusão, iniquidade e alto custeio. Há um risco maior para nosso ‘sísifo-nacional’: a pedra voltar no meio do percurso e esmagar o impulsionador. Quase 700 mil mortos pandêmicos mostram como somos vulneráveis aos aclives da natureza.

Considerando todas essas perspectivas, demandas e carências de conhecimento, a Informa Markets (HospitalarHub) e a EMI (eHealth Mentor Institute) desenvolveram o projeto “Future of Digital Health” (FDH), uma plataforma podcast (áudio & vídeo) que objetiva abordar e debater a saúde dentro de uma “concepção eminentemente póstera, voltada a incluir o futuro em nossa agenda estratégica”.  O alvo é deslocar a saúde digital do futuro para o agora e analisá-la como perspectiva motriz para solução de demandas. O propósito do projeto é antecipar e prematurar as competências, avanços e inovações que ainda vão chegar ao setor, mas que já podem ser vislumbradas a luz de dados sociais e científicos. Serão 12 sessões ao longo de 3 meses, semanais, iniciadas em março e ambientadas em modo podcast, não sendo, porém, aula, ou curso, ou Live, ou mesmo sessões didático-motivacionais. Serão encontros virtuais agitadores, provocativos (no sentido de promover a diversidade analítica) e baseados e estudos comportamentais, dados científicos, pesquisas tecnológicas e, acima de tudo, em informação atualizada. A audiência das sessões do “Future of Digital Health” (FDH) está centrada nos “tomadores de decisão da Cadeia de Saúde e nos provedores de tecnologia em digital health”. Nesse sentido, o conteúdo parte de premissas de notório conhecimento dessa esfera de profissionais (vamos dar a largada na “página dois”, sem tempo para alfabetização primária dos iniciantes). Especialistas e lideranças do setor de saúde estarão debatendo o chamado “pós-futuro imediato”. Trata-se de uma plataforma aberta (spotify; apple podcasts; google podcasts, youTube; HospitalarHub, etc.) sem nenhum custo de participação.

O projeto “FDH” pode ser resumido como um “digital health future thinking”, um espaço de previsão (foresight) e debate sobre o porvir em eHealth. Uma plataforma para, por exemplo, discutir os dados apresentados no CES 2023, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo (realizado em janeiro deste ano), mostrando que “dados de assistência médica representam um terço de todos os dados coletados no mundo, sendo que mais de 95% deles não são usados pelos provedores de assistência médica para melhorar o atendimento” (fonte: CES 2023). Como essa informação pode atrair competidores internacionais à Saúde Suplementar nacional? Por que a única saída para sustentação do SUS nas próximas duas décadas está no dado acima?

Como host efetivo de todas as sessões do “Future of Digital Health”, convido a todos para fazer parte desse ‘campo de observação e investigação’. Embora o bioma digital permeie todas as sessões, faremos paralelos sociológicos, antropológicos e culturais que permitam identificar qual será o novo perfil do consumidor de serviços de saúde no país. Observação: o “FDH” vai perseguir rotas estratégicas de longo prazo, não se interessando pelo passado ou pelo presente das questões setoriais. Não estamos interessados em investigar “o que deu ou não certo, ou porque não deu certo, ou quem é o causador dos atrasos”. Essa ‘contenda brejeira’ é um dos motivos pelos quais não avançamos na Saúde. Nos últimos anos, as lideranças foram tomadas pela ardente necessidade de explicar os atrasos, justificar as indecisões, esquecendo de dedicar tempo para discutir o “futuro” do futuro, ou, ...estudar, por exemplo, porque quase metade dos pais (46%) interagem mais com seu núcleo familiar pela internet do que pessoalmente; ou porque mais da metade deles (55%) já sente hoje que a internet aumentou a conexão com sua família (fonte: Child Mind Institute, Morgan Stanley – novembro/2022). Essas transformações estão no core do que vamos fazer no Brasil com a Saúde. Discuti-las sem medo e com elegância é a finalidade do “FDH”.

O “novo” não entra em nossas vidas por acaso, nem é por acaso que ele nos transforma. Somos reféns do novo porque nem o passado e nem o presente nos garantem o devir. Não somos animais, e como humanos que precisam sobreviver só temos esperança no futuro. Ninguém tem esperança no passado ou no presente. Quem tem certeza e evidências do que vai acontecer, não precisa esperar ou alimentar esperança. Só espera aquele que não tem certeza de que algo aconteça. Assim, é preciso antecipar o futuro. Forjá-lo, permiti-lo, estar pronto para a sua chegada. Quem no século XXI continuar a pensar que “o futuro a Deus pertence” não vai merecer estar nele. O “futuro vem do futuro” e não pode ser somente uma ambição ou aspiração, precisa de garimpo, descobrimento, conhecimento e estratégia.

Guilherme S. Hummel

Scientific Coordinator Hospitalar Hub
Head Mentor – EMI (eHealth Mentor Institute)

*em breve forneceremos maiores informações sobre o contexto temático e agenda do “FDH”, um projeto da Informa Markets (publisher) em seu vetor SaudeBusiness, com curadoria e hosting da EMI e participação de parceiros investidores.