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Parcerias estratégicas podem agilizar a capacitação dos profissionais em saúde digital

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Colaboração entre as áres da saúde, educação e tecnologia são a chave para capacitar profissionais e acelerar a transformação digital do setor. No entanto, não ocorre na velocidade necessária. Saiba mais!

Parcerias entre instituições de saúde, universidades, empresas de tecnologia e organizações governamentais são fundamentais para a capacitação dos profissionais em saúde digital. Essas colaborações permitem o compartilhamento de recursos, conhecimentos e tecnologias, promovendo a educação contínua e a adoção de práticas inovadoras. No entanto, elas ainda não são uma realidade no país.

Com o rápido avanço das inovações em saúde, em especial em relação ao uso da inteligência artificial, o profissional precisa se adaptar e estar capacitado para o uso destas tecnologias, que serão grandes aliadas tanto para promover um melhor atendimento quanto para reduzir os custos em saúde.

Algumas instituições de saúde investiram fortemente em estruturas educacionais, oferecendo cursos de extensão, graduação e pós-graduação Stricto e Lato Sensu, como o Hospital Israelita Albert Einstein, o Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, além de outros modelos de parcerias de instituições de saúde com instituições de ensino, sempre com a clara intenção de intensificar a qualificação dos profissionais para as necessidades do mercado.

“Embora existam muitas iniciativas, o gap de profissionais qualificados para liderar a transformação digital na saúde brasileira ainda é enorme. Os gestores atuais dos hospitais brasileiros, em sua maioria, ainda não estão qualificados para liderar a transformação digital, e demonstram muitas dificuldades no entendimento dos potenciais oferecidos pelas tecnologias emergentes”, analisa Vitor Ferreira, presidente da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS).

Experiências de parceria ainda estão engatinhando

Rodrigo Villar, co-fundador e CEO da Iniciativa FIS, um ecossistema de saúde que oferece programas e recursos para o desenvolvimento de lideranças e promove a inovação na saúde, diz que a chamada cooperação competitiva ainda está longe de ser a ideal entre as instituições de saúde quando o assunto é capacitação profissional.

“Cada instituição ainda tem o olhar muito voltado para si própria, o que é uma questão que precisa ser melhorada. As parcerias são o caminho para que o setor possa se manter financeiramente saudável. O quadro atual é de falta de mão de obra em saúde digital, falta de capacitação. E as instituições de saúde, no momento, são uma opção mais rápida para preparar os profissionais do que as faculdades. As associações também podem ajudar a encabeçar esse movimento.”

Villar cita como exemplos de sucesso as parcerias entre indústrias farmacêuticas para o desenvolvimento de medicamentos, que perceberam como a união pode potencializar negócios para ambos os lados. “Esse setor tem lidado com as parcerias como algo que traz resultados. Já o setor de serviços precisa amadurecer nessa questão, mas é preciso ser mais ágil.”

A ABCIS, por exemplo, disponibiliza material, cursos e treinamentos em sua plataforma virtual ABCIS Academy (https://abcis.virtual.org.br/), que contempla assuntos de interesse dos associados e conteúdos alinhados com as principais tendências do mercado. São cursos, apresentações e tutoriais que ajudam a qualificar gestores para a liderança na transformação digital de suas instituições.

Entre instituições de saúde, a parceria do InovaHC com a BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo prevê ações para facilitar a digitalização dos profissionais, por meio de programas de treinamento e desenvolvimento, para ampliar o acesso à saúde com a rede 5G

“Inicialmente, o projeto em parceria com a BP tem como objetivo utilizar conectividade 5G para oferecer serviços de telediagnóstico em regiões carentes. Mas além disso, estão previstos programas de treinamento específicos para capacitar os profissionais de saúde no uso das novas tecnologias que serão implementadas”, conta Marco Bego, diretor executivo do Instituto de Radiologia (InRad) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) e do InovaHC.

Esses programas incluirão cursos sobre o uso de 5G, telemedicina e outras tecnologias emergentes. Também serão oferecidos programas de desenvolvimento contínuo para garantir que os profissionais estejam sempre atualizados com as últimas inovações e práticas em saúde digital.

“Essa colaboração também envolve o avanço de inteligência de dados na saúde pública, realidade virtual e aumentada em atendimentos, telemedicina, computação em nuvem, IoT, blockchain, diagnóstico por voz, além de novos equipamentos e Big Data. A parceria estratégica permitirá a integração de soluções inovadoras ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao repertório dos profissionais envolvidos, o que consideramos essencial”, destaca ele.

No Hospital Moinhos de Vento, algumas iniciativas vêm sendo adotadas para capacitar profissionais em saúde digital. “Participamos ativamente de conselhos de classe e associações, onde contribuímos com nosso conhecimento e experiência para desenvolver diretrizes e práticas recomendadas no uso de tecnologias em saúde”, conta Felipe Cabral, gerente médico de Saúde Digital do hospital.

Na Câmara Técnica de Telemedicina do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (CREMERS), ele e sua equipe contribuem com a elaboração de relatórios e pareceres sobre temas de saúde digital tanto para médicos quanto para a comunidade. “Durante todo este ano, temos produzido conteúdo sobre transformação digital na saúde através do ‘Moinhos em Série’, com o intuito de capacitar nossos colaboradores, instituições de saúde e interessados no tema. Abordamos assuntos como governança de dados, interoperabilidade, análise de dados, inteligência artificial, prontuário eletrônico, entre outros temas”, diz Tiago de Abreu, gerente de Tecnologia da Informação.

Outra iniciativa que visa a educação permanente do profissional em saúde digital vem da Universidade Federal de Minas Gerais, em uma parceria com o Ministério da Saúde. No final de 2023, a UFMG lançou os três primeiros cursos da Plataforma Educa e-SUS APS. O objetivo é alcançar 800 mil trabalhadores do SUS, em resposta à demanda do Ministério para qualificar a atenção primária à saúde no uso de aplicativos como o prontuário eletrônico do cidadão (PEC). O conteúdo do curso vai ao encontro do uso correto e responsável dos recursos digitais no cuidado, vigilância e gestão em saúde.

São sete trilhas formativas: para profissionais de saúde, profissionais de saúde bucal, profissionais de tecnologia da informação, agentes de saúde, técnicos da atenção primária, gestores e técnicos de saúde bucal. Os cursos são direcionados tanto para o público iniciante no uso do prontuário eletrônico como para aqueles que já têm experiência no uso dessa ferramenta e de seus aplicativos.

Zilma Reis, professora da Faculdade de Medicina da UFMG e coordenadora do projeto, explica que a criação da plataforma foi uma demanda do Ministério da Saúde por avaliar a necessidade de o profissional de saúde se manter atualizado e também de repensar sua prática em busca de melhorar o atendimento.

Um ponto que ela destaca é que qualquer pessoa pode acessar a plataforma, que não é restrita apenas a profissionais do setor público. Até o momento, mais de 22 mil alunos já realizaram os cursos, entre enfermeiros, médicos, cirurgiões dentistas e outros profissionais.

“Nosso desafio diante da saúde digital é que temos profissionais que resistem à tecnologia. E nesse cenário, temos que ensinar desde fundamentos básicos até questões como qualidade dos dados e segurança digital. Todo o nosso conteúdo tem como foco a literacia digital e é oferecido em diversos formatos, com o uso de games e simulações, para mostrar que o ambiente digital faz parte da rotina”, explica Zilma.

Porém, ela destaca que é necessário que exista uma conscientização de que a transformação digital não é só ter acesso a uma rede de internet e a computadores. “A transformação digital que queremos se faz com pessoas com competência em literacia digital. É fato que temos um déficit entre o currículo das universidades e o mercado, que está imerso em tecnologia. Esse gap precisa ser sanado.”

Parcerias com empresas de tecnologia

A parceria com empresas de tecnologia é outra solução que pode ajudar a agilizar a formação de profissionais em saúde digital. O IBKL+ é uma start-up dedicada a desenvolver soluções educacionais para capacitar profissionais e acadêmicos da área de saúde.

A empresa atua em três frentes: treinamento e suporte em simulação realística com o objetivo de preparar profissionais de saúde para situações reais, como prática em ambientes controlados e seguros; soluções digitais imersivas e gamificadas, e programas de treinamento personalizados.  A experiência se inicia no mundo digital, atravessa o ambiente imersivo e finaliza na prática presencial, unindo o tradicional e o inovador na jornada de aprendizagem.

Os treinamentos são realizados junto às mais diversas instituições de saúde, como hospitais privados, filantrópicos e públicos. “Capacitamos esses profissionais e ainda trazemos o ganho de o ambiente de aprendizado ser digital, ou seja, não há necessidade de movimentar todos os profissionais para uma sala de aula”, conta Luiza Gazola, CEO.

Técnicos e enfermeiros, por exemplo, recebem treinamentos que englobam desde habilidades clínicas, como suporte básico ao paciente e reanimação, até habilidades comportamentais. “Nos nossos treinamentos, a tecnologia facilita o aprendizado de atividades que são exigidas no dia a dia.”

Já para os médicos, o IBKL+ oferece o aprendizado de práticas médicas no metaverso. “Durante o treinamento, o profissional recebe um caso clínico em realidade virtual para que possa ter acesso a imagens em 3D que propiciarão a ele treinar práticas cirúrgicas antes de entrar na cirurgia, minimizando assim as chances de erro e, consequentemente, proporcionando uma redução de custos”, pontua Luiza.  

No entanto, mesmo diante de tanta inovação, Luiza diz que a maioria dos treinamentos ainda é focada em aprendizados básicos. “Estamos ensinando o que é tecnologia e como ela pode contribuir para o dia a dia do profissional, mas precisamos avançar se quisermos que uma transformação digital aconteça.”

Benefícios da cooperação

Para Bego, as parcerias são fundamentais no ecossistema de saúde, já que permitem a construção de redes de cooperação que fomentam a inovação e ajudam no desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e serviços. Elas transformam a maneira como a assistência ao paciente é prestada e como as instituições de saúde são geridas.

“A união entre os diversos atores do sistema de saúde é essencial, pois com o uso de tecnologias avançadas e profissionais bem treinados é possível reduzir as desigualdades no acesso à saúde em nosso país, especialmente em regiões carentes”, diz Bego.

O especialista destaca ainda a importância da integração pública e privada para evolução positiva do sistema de saúde em geral e principalmente onde o SUS atua sozinho.

“A complementaridade pode ser um caminho promissor para melhorarmos o acesso à saúde e prepararmos nossos profissionais para um contexto cada vez mais digital. Acredito que integrar parceiros, como universidades, governo e empresas, colabora para o amadurecimento de projetos e na escala de iniciativas, já que proporciona recursos e conhecimentos necessários para seu desenvolvimento e implementação. Além da escala, também podemos alcançar maior número de beneficiários, e, assim, provocar uma transformação significativa na saúde”, analisa.

Ferreira destaca que os principais benefícios que podem surgir das parcerias entre instituições de saúde são a atualização e o alinhamento conceitual sobre o potencial que as tecnologias emergentes oferecem para que possam ser resolvidos problemas crônicos e complexos que a saúde brasileira enfrenta, qualificando profissionais com os saberes adequados para as novas ferramentas digitais.

“Não existem soluções para esses problemas que não passem pelo incremento tecnológico intenso e inteligente, em projetos abrangentes, que exigem uma consciência coletiva e entendimento profundo da transformação digital. Temos uma revolução pela frente, mas temos o desafio de qualificar os gestores e acelerar exponencialmente o uso das ferramentas digitais.”