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Capacitação profissional: um desafio diante de uma saúde cada vez mais digital

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Veja como os profissionais de saúde estão se preparando e se qualificando para a era da inovação.

O uso de tecnologias em saúde tem avançado e este parece ser o único caminho possível para garantir a sustentabilidade do setor. Mas para isso, um passo preciso ser dado rumo à capacitação dos profissionais, o que atualmente ainda é visto como um desafio, devido à resistência de alguns e à rapidez com que a inovação evolui. No entanto, essa não é a única barreira. Segundo especialistas, também é preciso desenvolver ferramentas que auxiliem os profissionais nessa trajetória. 

“A saúde segue na mesma direção dos demais setores da economia. Além da dificuldade de encontrar profissionais qualificados, a permanência e manutenção do engajamento necessitam de lideranças que valorizem mais o indivíduo e fortaleçam o senso de pertencimento. Uma indústria da saúde forte no país, e até mesmo para atender os preceitos do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, exige conhecimento e mão de obra qualificada, até para incentivar as atividades de pesquisa”, diz Fernando Silveira Filho, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde (Abimed).  

Segundo Alex Vieira, superintendente de Inteligência Digital e TI do Hcor, o déficit de mão de obra capacitada é particularmente evidente em áreas como a análise de dados de saúde, análise de negócios de tecnologia, inteligência artificial e gerenciamento de sistemas de informações de saúde. 

Esse déficit de profissionais qualificados pode ter como razão o fato de que muitos não tiveram a oportunidade de se preparar adequadamente para a velocidade com que as tecnologias estão chegando ao setor. “Muitos profissionais da saúde não recebem treinamento adequado ou contínuo em novas tecnologias, e a falta de programas de capacitação e desenvolvimento impede que adquiram habilidades necessárias para utilizar essas ferramentas de forma eficaz”, diz Michele Aleves, gerente executiva da Saúde Digital Brasil (SDB). 

Para o professor e chefe da Disciplina de Telemedicina da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Chao Lung Wen, existe um estímulo de  promover a difusão e formação em saúde digital em algumas instituições. No entanto, falta uma ação estruturada e contínua, que tenha início ainda nos cursos de graduação. “Das cerca de 360 escolas de medicina no Brasil, não mais do que 20 têm matérias obrigatórias de telemedicina. Enfrentamos uma lacuna de formação nessa área e em todo o núcleo digital, que pode apoiar o sistema de saúde.” 

No entanto, para Wen, é preciso que as instituições ofertem cursos mais dirigidos, que vão além da telemedicina e telessaúde. Como exemplo, ele cita cursos focados no desenvolvimento da ética e da bioética digital, da telepropedêutica, entre outros.  

A falta de mão de obra capacitada é um desafio, mas não o único, acredita. “Precisamos de pessoas que saibam como aplicar a tecnologia também dentro de inovações de processos. Se uma inovação não estiver dentro de uma cadeia de processos, não terá impacto positivo e pode, no caminho contrário, acelerar uma série de desordens”, pontua Wen. 

Dados do relatório HIMSS U.S. Leadership and Workforce Survey indicam que cerca de 70% dos hospitais e sistemas de saúde relatam dificuldades para encontrar profissionais qualificados em TI de saúde. “Essa falta de mão de obra especializada representa um obstáculo significativo para a plena implementação e utilização das tecnologias de saúde, impactando a capacidade das organizações de melhorar a eficiência operacional e a qualidade do atendimento ao paciente”, diz Michele.  

Como os profissionais de saúde estão se atualizando 

Diante do cenário de transformação digital, os profissionais de saúde necessariamente precisam tornar-se mais proficientes em tecnologias como telemedicina, registros eletrônicos de saúde, ferramentas de análise de dados e a própria inteligência artificial, tanto na parte de gestão como no atendimento e no suporte à decisão clínica. Por isso, a formação contínua e o aprendizado sobre novas tecnologias se tornaram partes essenciais de rotinas profissionais. 

Silveira Filho aponta que os profissionais do setor têm identificado a necessidade de se manterem atualizados por meio de cursos e novos estudos. “As indústrias de saúde no Brasil, até para fortalecerem sua posição competitiva no mercado nacional e global, devem investir em treinamentos contínuos, com cursos e certificações, para a qualificação de talentos, o que pode facilitar o desenvolvimento conjunto de soluções inovadoras, melhoria da assistência à saúde e preços competitivos.” 

Com um cenário em que a velocidade da demanda é maior que a de formação, instituições de saúde e de ensino têm oferecido cursos técnicos, especializações e pós-graduação, inclusive, de curta duração e à distância. “As instituições podem contribuir para a digitalização adotando como estratégia o desenvolvimento de seus recursos humanos em todas as áreas, não só do profissional de saúde. Todos devem trabalhar em conjunto nesse processo, e para isso é primordial entender que a saúde digital é irreversível”, diz Wen. 

Silveira Filho conta que empresas do segmento de dispositivos médicos associadas à Abimed têm investido em cursos, por meio de parcerias ou próprios, e até mesmo em plataformas com programas de educação e treinamentos, inclusive para profissionais de saúde, apoiando as práticas diárias e melhoria no atendimento ao paciente. 

Em 2022, a instituição lançou o Campus Abimed, com o objetivo de aprimorar a formação e a capacitação de profissionais e colaboradores das empresas associadas. Os cursos e formações, oferecidos de forma modular, são resultados de parcerias com instituições, como o Senai Cimatec. O curso de pós-graduação lato sensu MTI Health Tech, por exemplo, busca desenvolver habilidades e competências nas áreas da saúde e tecnologia. Já a Fundação Instituto de Administração (FIA) Business School foca em capacitação de gestores, com o Programa de Excelência em Gestão “Management Excellence Academy”, que visa preparar os profissionais para assumirem posições diretivas. Propõe o de desenvolvimento de visão e orientação estratégica de negócios compatíveis com as transformações que estão ocorrendo no ambiente competitivo global. 

A SDB também desenvolveu, em parceria com a Med.IQ Academy, um curso EAD de boas práticas de telemedicina e telessaúde voltado a profissionais que atuam na área. O curso não é direcionado somente a profissionais de saúde que lidam com a tecnologia para realizar atendimentos em suas especialidades, mas também gestores de clínicas, hospitais, laboratórios, entre outros, assim como representantes de outras áreas que desejam entender esse mercado. 

O curso trabalha conceitos e modalidades de telessaúde e telemedicina, como:

  • Integração do atendimento presencial e remoto;
  • Emissão de documentos médicos e prescrição por telemedicina;
  • Desafio de associar a tecnologia com humanização;
  • Segurança da informação e proteção de dados pessoais;
  • Legislação e especificidades na área de saúde;
  • Princípios e boas práticas sobre prescrição eletrônica;
  • Desafios no avanço da interoperabilidade.

O que o mercado oferece de tecnologias para treinamento 

O treinamento na área da saúde tem sido significativamente aprimorado, devido a diversas tecnologias. Essas inovações proporcionam experiências de aprendizado mais interativas, realistas e acessíveis, preparando melhor os profissionais para os desafios do ambiente clínico real. Algumas tecnologias utilizadas para o treinamento na área da saúde incluem: 

  • Simulações de alta fidelidade: manequins avançados replicam uma ampla variedade de condições clínicas, permitindo que os profissionais de saúde pratiquem procedimentos complexos em um ambiente controlado e ambientes de simulação clínica;
  • Realidade virtual: ambientes imersivos permitem a prática de procedimentos em cenários clínicos;
  • Realidade aumentada: suporte visual em tempo real, a partir de dispositivos que sobrepõem informações visuais, diretamente no campo de visão dos profissionais durante o treinamento. Há também treinamento colaborativo, que facilita a interação simultânea de vários profissionais com modelos 3D anatômicos e outros recursos visuais, promovendo o aprendizado colabora: cursos on-line incorporam simulações para proporcionar uma experiência de aprendizado mais rica e envolvente;
  • Inteligência artificial: assistentes virtuais oferecem feedback imediato e orientações durante a prática de procedimentos, e simulações adaptativas, que ajustam o nível de dificuldade e os cenários de treinamento com base no desempenho do usuário, personalizando a experiência de aprendizado;
  • Impressão 3D de dispositivos e próteses: treinamento no uso e ajuste de dispositivos médicos e próteses neste tipo de impressão, oferecendo uma experiência prática e tangível;
  • Dispositivos portáteis e wearables: reinamento em condições reais em dispositivos como smartwatches e monitores de atividade que podem ser usados para simular e monitorar condições reais;
  • Biofeedback: tecnologia que fornece informações sobre respostas fisiológicas dos profissionais durante o treinamento, ajudando na gestão do estresse e na melhoria do desempenho.

Capacitação profissional na melhoria do sistema de saúde 

A capacitação profissional traz uma série de benefícios para o sistema de saúde. O uso correto de prontuários e registros eletrônicos de pacientes, por exemplo, estão melhorando a coordenação do cuidado e reduzindo erros médicos. Michele destaca que, de acordo com um estudo da McKinsey, cerca de 90% dos profissionais de saúde acreditam que a digitalização está melhorando a qualidade dos cuidados oferecidos. A telessaúde e todas as suas modalidades de atendimento estão aumentando o acesso à assitência e otimizando tempo de pacientes e profissionais de saúde. 

“A análise de dados e a inteligência artificial estão aprimorando diagnósticos, permitindo tratamentos personalizados e prevendo surtos de doenças. Na gestão de saúde, sistemas integrados estão automatizando tarefas administrativas, melhorando a eficiência operacional e financeira”, analisa Michele.  

Além disso, tecnologias como aplicativos de saúde estão promovendo maior transparência e engajamento do paciente, permitindo que acompanhem seu próprio estado de saúde e acessem informações médicas de forma conveniente. “Em resumo, essas inovações estão tornando a prática médica mais eficiente e personalizada, e a gestão de saúde mais eficaz e transparente”, comenta.