Em recente final de semana para mais um evento médico em Curitiba, intercalando com já tradicionais noites no Bardo Tatára (Paulo Paim, presidente da Academia Brasileira de Medicina Hospitalar, também músico e poeta, é amigo de João Gilberto Tatára, dono do bar alternativo), escutei história de Reginaldo G. De Oliveira Filho, exemplo de Medicina Hospitalar como realidade no Brasil, e possibilidade de carreira médica para uma vida plena e feliz.
Reginaldo formou-se médico em Joinville/SC em 2012. Na graduação, escutou pela primeira vez o termo “hospitalista”. Era utilizado para um médico que passava rápido pelo hospital uma vez por dia. Via pacientes no Pronto Atendimento que aguardavam leito em enfermaria. Aquela função "BAND-AID" não despertou nele o mínimo interesse ou admiração.
Em 2014, Reginaldo desembarcou em Boston/EUA para curso na Harvard Medical School com foco em Medicina Baseada em Evidências. Como sobravam alguns turnos livres, e estava sedento por conhecimento, acompanhou a Medicina Interna no Massachussets General Hospital. Foi a segunda vez que ouviu falar do hospitalista. Mas, diferente da outra vez, percebeu a Medicina Hospitalar como uma especialidade médica dedicada à entrega de cuidados médicos abrangentes a pacientes hospitalizados, nada parecidos com os proporcionados pelo “hospitalista” de seu internato.
“Demorei para entender o que significava, e o peso, da palavra “abrangente”. E só compreendi testemunhando a atuação destes profissionais em suas rotinas hospitalares. O que me encantou foi a maneira holística como os pacientes eram conduzidos: sem segmentação, sem dividir o paciente em órgãos ou em especialidades. O tempo total de dedicação dos profissionais à beira do leito, perto do que eu estava acostumado, surpreendeu muito positivamente. Voltando ao Brasil, estava convencido que era aquilo que eu queria para minha carreira”, contou.
Algum tempo depois ele estava atuando em enfermaria de um hospital da região metropolitana de Curitiba com aproximadamente 20 leitos de baixa à média complexidade - um trabalho horizontal, de 8 horas diárias, que o permitia ter tempo para conversar dignamente com os pacientes, examiná-los, estudá-los, voltar à beira leito fosse necessário, e traçar, ao final, planos terapêuticos individualizados.
“Em 2016, através do convite de uma pessoa muito especial em minha vida e a quem devo muita gratidão - Dr. Paulo Paim (atual presidente da ABMH) - pude participar do II Congresso Brasileiro de Médicos Hospitalistas, onde me inteirei melhor sobre o movimento de Medicina Hospitalar no Brasil. Alguns meses após, recebi o grato convite para trabalhar como hospitalista no Hospital São Vicente. Atualmente, desenvolvo lá atuação horizontal, com um teto de 10 pacientes por dia, em enfermaria de Clínica Médica com ênfase em pacientes oncológicos que apresentam descompensações clínicas. Estou realizado!
Creio que o momento que estamos vivendo ficará na história como divisor de águas. Temos o privilégio de ser testemunhas oculares de uma mudança cultural, de busca por uma prática médica mais sóbria na relação com o doente hospitalizado, e que ainda otimiza os escassos recursos disponíveis. Vou repetir, sinto-me realizado”.
Saiba mais sobre hospitalistas em Boston/EUA em http://saudebusiness.com/conheca-medicina-hospitalar-do-bidmc-da-harvard-medical-school/