A resistência antimicrobiana - a capacidade de bactérias, parasitas, vírus e fungos resistirem a esses medicamentos - foi considerada pela OMS como uma das dez maiores ameaças à saúde pública global em 2019, junto a mudanças climáticas e ebola, por exemplo. No mesmo ano, a organização elaborou um plano estratégico que durará 5 anos para combater os 10 problemas selecionados.
Se nenhuma ação for tomada estima-se que até 2050 este problema em específico causará, anualmente, a perda de 10 milhões de vidas em todo o mundo. A previsão de prejuízo econômico é da ordem de 100 trilhões de dólares, que considera, por exemplo, a perda considerável da força de trabalho e o aumento dos custos da saúde.
Parte do plano estratégico da OMS é monitorar a porcentagem de infecções da corrente sanguínea devido a organismos resistentes a antimicrobianos. A meta é que em 2023 haja uma redução em 10%.
No Brasil, as infecções bacterianas ou fúngicas sistêmicas diagnosticadas no curso da internação hospitalar são de notificação compulsória. Além disso, são utilizadas como indicador de qualidade do serviço prestado.
Enquanto a indústria farmacêutica tradicional luta há anos para desenvolver novas drogas contra os microrganismos resistentes, em 2019 a CB Insights publicou em seu Game Changers – startups selecionadas com potencial de mudar a sociedade e as economias para melhor – a categoria Superbug Killers, ou seja, startups que abordam o surgimento de superbactérias resistentes a antimicrobianos. As selecionadas que estão enfrentando este problema são as seguintes:
Todo antibiótico que foi ao mercado até hoje criou resistência antimicrobiana. O que variou foi o tempo entre sua implantação e o desenvolvimento de resistência a ele. O PhageBank™ foi criado por esta empresa americana com a promessa de quebrar esse ciclo. Suas terapias estão em testes experimentais e já possuem estudos de caso disponíveis.
Os fagos, formalmente conhecidos como bacteriófagos, são vírus que apenas matam e atingem seletivamente bactérias. Eles são as entidades biológicas mais comuns na natureza e demonstraram combater e destruir efetivamente bactérias resistentes a vários medicamentos. Ou seja, quando todos os antibióticos falham, os fagos ainda conseguem matar as bactérias e podem salvar uma vida de uma infecção1.
O canal do YouTube "Kurzgesagt - Em poucas palavras" explica como os bacteriófagos infectam e destroem as bactérias neste vídeo animado:
A Bugworks tem laboratórios nos EUA, Austrália e Índia. Sua principal frente de trabalho é a pesquisa e o desenvolvimento de novas gerações de antibióticos de amplo espectro capazes de tratar infecções hoje resistentes.
A partir de modelagem molecular, bioquímica e estruturas biológicas criaram a plataforma batizada de ELUDE™ - que previne o efluxo do antibiótico na bactéria (uma das formas de resistência). As pesquisas até agora estão na fase in vitro.
Uma empresa que foca no descobrimento, desenvolvimento e comercialização de terapia antimicrobiana de combate aos superbugs. Seus cientistas estão tanto nos EUA como na China cooperando nesta busca e já possuem um pipeline com 4 potenciais candidatos.
Considerações finais
A humanidade e sua curta memória parecem ter esquecido como era a vida antes dos antibióticos e os tratam hoje de forma displicente e não como um medicamento que revolucionou a vida neste planeta. A série documental Explicando da Netflix reservou um episódio inteiro para abordar o tema e nos conta detalhadamente como iniciou algumas das pandemias mais aterrorizantes do mundo, como a da gripe suína.
O uso excessivo e inadequado destas drogas, não apenas pela medicina humana, mas da mesma forma pela veterinária, especialmente na produção de carne, nos fez chegar a este ponto. Os esforços terão que ser contínuos e colaborativos entre todos os setores envolvidos daqui pra frente, principalmente a saúde e a agropecuária.
Educação continuada de profissionais da saúde, controle do uso de antibióticos hospitalares, campanhas de conscientização pública são medidas mandatórias, mas que ainda representam apenas a ponta do iceberg se não quisermos ser dizimados por estes seres microscópicos.