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Tempo Médio de Permanência e gestão clínica em hospitais

Tempo-medio-de-permanencia-hospitalar.png

Amplamente difundidos, conceitos de Qualidade nos hospitais, como o TMP, melhoram desfechos clínicos e desempenho comercial, gerenciando leitos de forma eficiente, além de reduzir riscos e custos.

"A prova do nosso progresso não é se aumentamos a abundância dos que têm muito, mas se providenciamos o suficiente para os que têm muito pouco.”

Franklin D. Roosevelt, ex-presidente dos Estados Unidos

Há muitos anos, os conceitos de Qualidade têm sido incorporados no dia a dia dos hospitais, como tentativa de melhorar os desfechos clínicos dos pacientes aos seus cuidados, e também melhorar seu desempenho comercial – este sendo resultado direto do primeiro.

Até aí nada de novo. Todas as organizações hospitalares têm atualmente, em proporções variáveis, essa preocupação, a despeito do flerte contínuo com a insolvência econômica, no caso dos hospitais privados, e com os rombos orçamentários e fracassos gerenciais no caso dos hospitais públicos.

De fato, a aplicação das ferramentas de Qualidade tem relação direta com o registro de indicadores hospitalares, a partir de situações gerenciais do cotidiano. E, dentre estes, acho muito oportuno refletir com maior profundidade sobre o indicador “Tempo Médio de Permanência”, considerado como integrante do grupo dos indicadores de desempenho hospitalar.

Não se trata de nenhum demérito dos demais indicadores, todos com seu potencial enriquecedor para as melhorias assistenciais, que é ao final a função dos indicadores. Mas nesse caso, o arcabouço teórico que lhe serve de base, assim como seus múltiplos desdobramentos, faz do Tempo Médio de Permanência, doravante chamado TMP, uma ferramenta muito poderosa para trazer ao gestor informações com alto grau de relevância:

“Seu potencial de contribuição está assentado numa base sólida conceitual, que inclui a compreensão do que vem a ser a Ciência Econômica e seus pressupostos teóricos, sua interseção com as políticas de saúde (cristalizadas na Economia da Saúde), e seu íntimo relacionamento com as concepções de eficácia tão bem elencadas nos pilares da Governança Clínica. Tempo Médio de Permanência (TMP) tem relação direta com a qualidade assistencial, e pode ser capaz de revelar caminhos para uma boa gestão clínica dos pacientes internados nos hospitais” (SCARDUA, 2021)

Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o cálculo do TMP se faz a partir da fórmula:

TMP: Σ número de pacientes/dia no período / Σ número de saídas no período
Numerador: somatório de pacientes-dia do hospital no período de um mês
Denominador: somatório de altas, transferência externas e óbitos no período de um mês

Sua importância justifica-se pelos seguintes motivos:

1- Importância para os pacientes, para que sejam adequadamente assistidos e seus problemas sejam resolvidos no menor tempo necessário;

2- Importância para os hospitais, para que o tempo necessário de internação seja suficiente e adequado na resolução dos problemas clínicos dos pacientes, evitando prolongamento desnecessário da permanência, e assim reduzindo riscos de eventos adversos e consequentemente maiores custos de internação;

3- Importância para as fontes mantenedoras, que dão suporte financeiro à estrutura assistencial hospitalar, este por sua vez condicionado a repasses orçamentários de acordo com o atingimento de metas específicas de produção e processo, sem desperdício de recursos;

4- Importância para a sociedade como um todo, que vai se utilizar dos serviços oferecidos pelas instituições hospitalares com maior acessibilidade, em função de maior disponibilidade de leitos, por sua vez melhor gerenciados dentro de um contexto de melhor qualidade assistencial.

Em suma, o adequado gerenciamento do TMP pode significar uma melhor eficiência assistencial, aumentando a rotatividade de leitos e fazendo com que mais pacientes possam se beneficiar de um leito hospitalar para a resolução de seus problemas de saúde que não podem ser resolvidos em outro ambiente

A Agência Nacional de Saúde – ANS, em 2013, define o Tempo Médio de Permanência:

           “...está relacionado a boas práticas clínicas. É um indicador clássico de desempenho hospitalar e está relacionado à gestão eficiente do leito operacional. O leito hospitalar deve ser gerenciado como um recurso caro e complexo, o qual deverá ser utilizado de forma racional e com a indicação mais apropriada de forma a estar disponível para os indivíduos que necessitem deste recurso para recuperação da saúde. A média de permanência em hospitais agudos acima de sete dias está relacionada ao aumento do risco de infecção hospitalar” (AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS), 2013).

Existem diferentes percepções acerca de qual seria o TMP adequado para o melhor desempenho da organização hospitalar, pois estão subordinadas a diferenças culturais, estruturais e de função social de cada hospital, em cada país. Mas o fato em si não se altera. A identificação de fatores que podem contribuir para prolongar o TMT são imperativos quanto à busca e sua erradicação. E e são numerosos, boa parte deles fugindo do alcance de medidas que poderiam trazer melhoria por parte da gestão dos hospitais. Mas também são muitas aquelas que podem ser corrigidas ou mitigadas, por se tratarem de processos (ou a falta deles).

Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos – DIEESE, o Brasil tem 2,3 leitos hospitalares para cada mil habitantes, inferior à média global (3,2 por mil) e da recomendação do Ministério da Saúde de 2,5 leitos por 1.000 habitantes. A face mais dramática dessa desproporcionalidade foi escancarada na recente pandemia por COVID, onde muito morreram por falta de, e principalmente, leitos hospitalares disponíveis.

A figura a seguir reflete bem a situação do Brasil em comparação com outros países:

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Os gráficos abaixo exemplificam alguns dos vários aspectos relacionados ao TMP. Um deles está ligado ao tipo de hospital de acordo com a esfera gerencial:

tmp-brasil.png

Esta outra imagem mostra o estimado para hospitais do Sistema Único de Saúde – SUS (e que facilmente podem ser extrapolados para a assistência suplementar), de acordo com o tipo de especialidade:

tmp-SUS.png

Fonte: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Regulação, Avaliação e Controle de Sistemas Critérios e Parâmetros Assistenciais para o Planejamento e Programação de Ações e Serviços de Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde. Brasília, 2017

O mais importante, dentre todas as considerações, é desenvolver a sensibilidade quanto a questão da necessidade de reunir dados que consigam traduzir aquilo que a organização é, e aonde quer chegar, independente de seu porte, de sua estrutura hierárquica, de sua esfera de prestação de serviço, de sua localização, de sua base de financiamento ou de seu perfil assistencial.

Por que dá trabalho ir atrás dessas informações. Exige planejamento e uma equipe motivada, inclusive para estabelecer perfis para benchmark com organizações semelhantes. Precisa do apoio irrestrito da alta direção e precisa saber escolher os melhores caminhos. Enfim, precisa de liderança, organização e estrutura operacional. E é bom que seja dito: não necessariamente necessita da contratação de uma entidade certificadora de Acreditação Hospitalar para alcançar tudo isso de uma só vez.

O TMP espelha uma das facetas das organizações hospitalares, dentre muitas. Sua vantagem sobre as demais reside no fato de ser de fácil obtenção, fácil processamento e no potencial imenso de juntar informações relevantes que pode reunir, identificando os gargalos assistenciais que impedem o melhor resultado assistencial e operacional, com a rápida e segura experiência do paciente. Isso, por si só, já cria um diferencial competitivo de enormes proporções, além de incutir na comunidade à qual presta seus serviços a cobiçada estrelinha chamada reputação.

Um grande problema é que os esforços para a obtenção e acompanhamento dos dados e a sua transcrição para a elaboração do indicador não costumam ser privilegiados dentro da rotina hospitalar, perdidos que estão dentre tantas atribuições. Mas se não há uma estrutura completa para esse propósito, e se o orçamento anda curto, conhecer a operação hospitalar mais de perto se utilizando de um indicador como o TMP pode ser um ótimo começo.

Afinal, uma longa jornada começa com um único passo.

 

Referências: 

1 - Scardua, S.M.F.: “Análise do indicador Tempo Médio de Permanência e sua contribuição para um melhor desempenho assistencial em hospitais do Sistema Único de Saúde”. Disponível em https://economia.saude.bvs.br/base_ecos/?filter=author:%22Sc%C3%A1rdua,%20Sandro%20M%C3%A1rcio%20Frizzera%22. Acesso em: 27 jun. 2024

2 - AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR (ANS). Média de Permanência Geral. [s.l: s.n.].Disponível em: . Acesso em: 27 jun. 2024

3 - LA FORGIA, G. M.; COUTTOLENC, B. F. Desempenho Hospitalar no Brasil - Em Busca da Excelência.1. ed. [s.l: s.n.]81–861 p

4 - Informe DIEESE RS de 08 de abril de 2020 Disponível em https://cpers.com.br/wp-content/uploads/2020/04/20200408-Informe-ERRS_Numero-de-leitos-por-habitante.pdf Acesso em 29 jun 2024