A integração de serviços de saúde e o uso de tecnologias digitais têm se mostrado fundamentais para otimizar a jornada dos pacientes, tanto em modelos públicos como privados. Essa temática foi discutida por especialistas durante o painel Modelos públicos e privados de integração de serviços, com utilização de tecnologias digitais para otimização da jornada de pacientes, no Congresso de Atenção Domiciliar, realizado durante a Hospitalar.
Um dos pontos destacados foi a necessidade de superar a fragmentação e a falta de interoperabilidade existentes no setor de saúde. “O setor como um todo sofre com essa desfragmentação. Todo mundo está mais preocupado com seus resultados trimestrais do que em melhorar o setor. Falta interoperabilidade, a sinistralidade está explodindo e caos no SUS. Todo mundo quer mudança, mas ninguém quer mudar”, provocou o moderador do painel, Arthur Hutzeler, sócio da Trigger Participações e membro do conselho de administração da Humana Magna.
Para superar esses desafios, investir em melhor gestão e melhores processos é a saída. Mariana Borges Dias, coordenadora de atenção domiciliar do Ministério da Saúde, ressaltou que a estratégia de digitalização tem o potencial de facilitar o cuidado com as pessoas no SUS. “A evolução tecnológica, impulsionada também pela pandemia, proporcionou o uso de serviços digitais, como aplicativos, que podem contribuir para o autocuidado e a melhoria da saúde da população”, pontuou. Além disso, a digitalização permite o acesso remoto e o monitoramento à distância, ampliando a capacidade de acompanhamento dos pacientes.
No contexto do SUS, que atende a toda a população brasileira, foi mencionado o programa "Melhor em Casa", coordenado pelo Ministério da Saúde. Esse programa abrange milhões de cidadãos em diversos municípios e estados do país, oferecendo serviços de atenção domiciliar. A integração e o financiamento adequado são princípios fundamentais para garantir a qualidade desses serviços, além de equipes especializadas para cuidados paliativos e a redução de filas.
Foram apresentados casos de sucesso, como as experiências de Santo André e Poços de Caldas, que demonstraram estratégias eficientes de integração do cuidado ao paciente. “Essas iniciativas têm como foco a organização dos processos, a criação de equipes multiprofissionais e o uso de tecnologias digitais para aprimorar a comunicação, o conhecimento e a gestão do cuidado”, estacou Mariana.
Gestão, tecnologia e pessoas
Em Belo Horizonte, focar em tecnologia, gestão de pessoas, e melhoria de processos também permitiu um monitoramento mais preciso da jornada do paciente na rede municipal de saúde. A cidade é dividida em nove regiões e atende a uma população de seis milhões de pessoas, sendo que 26% delas apresentam elevado risco de vulnerabilidade. A atenção domiciliar é abordada por meio de equipes multiprofissionais, envolvendo cerca de 19 mil colaboradores. “A jornada do paciente nem sempre é linear, e é necessário agregar valor ao processo, levando em consideração fatores como ambiente, trabalho, resultados e cultura”, explicou Edmundo Araújo, gerente de integração do cuidado à saúde, na secretária municipal de Saúde de BH.
“A utilização de recursos tecnológicos e digitais tem se mostrado uma ferramenta criativa e eficaz nesse processo. A comunicação, a gestão do conhecimento e a melhoria da qualidade são benefícios percebidos com a adoção dessas tecnologias”, salientou.
Um exemplo trazido pelo executivo foi a implementação de uma carteira de saúde digital, que permite que os pacientes acessem suas informações, recebam mensagens e anexem exames. Essa iniciativa visa fortalecer o vínculo entre profissionais de saúde e pacientes, promovendo uma maior participação ativa na gestão do cuidado. “É importante ressaltar que as tecnologias devem ser vistas como ferramentas que auxiliam no cuidado, e não como substitutas do relacionamento humano. A integração entre os diferentes atores envolvidos no processo de atenção domiciliar é fundamental para a construção conjunta de planos terapêuticos e para garantir um cuidado abrangente e eficiente”, relatou.
Enfrentar os desafios da implementação de modelos de integração de serviços de atenção domiciliar com o uso de tecnologias digitais requer esforços contínuos e ações coordenadas, e o constante monitoramento dos resultados. “É necessário definir indicadores adequados, promover a cultura do monitoramento e buscar a equidade no acesso aos serviços de saúde. A digitalização pode ser uma aliada nesse processo, proporcionando uma maior eficiência, segurança e qualidade no cuidado aos pacientes”, destacou Araújo.
A busca pela melhoria na jornada do paciente envolve a superação de desafios e a adoção de soluções inovadoras. A integração dos serviços, aliada ao uso inteligente das tecnologias digitais, pode promover uma transformação significativa na forma como a atenção domiciliar é prestada, proporcionando melhores resultados e experiências para os pacientes.