Somos responsáveis por nossa saúde. Por mais que a gente confie – e devemos confiar! – na ciência e na boa prática da Medicina, é importante termos consciência que a evolução da nossa saúde e o bem-estar dependem muito mais do estilo de vida do que da genética. Na maioria das vezes, depende exclusivamente das nossas escolhas, algo condicionado ao meio ambiente onde vivemos, ao controle do estresse e cultivo de boas relações, de amarmos e perdoarmos em vez de guardamos ódio e rancor, de temos uma alimentação saudável. E, claro, praticarmos atividades físicas: difícil imaginar que alguém ainda hoje não tenha compreendido que se a fantástica máquina do corpo humano não for colocada permanentemente em movimento ela para – e quebra.
Subscrevo à proposta de Nigel Crisp, ex-diretor-executivo do NHS (Serviço Nacional de Saúde, o sistema público de saúde britânico) e ex-secretário de Saúde do Reino Unido, de construirmos uma sociedade saudável e produtora de saúde. Está ao nosso alcance. É nossa responsabilidade. E é aí que, consequentemente, reside um dos pontos relevantes para o debate sobre a sustentabilidade do sistema de saúde suplementar.
Contar com um plano de saúde é um dos três principais desejos do brasileiro, mas não conseguimos superar, ao longo das décadas, a taxa de cobertura de 25% da população. O acesso depende, cada vez mais, de uma estrutura equilibrada que reduza custos pela eliminação de desperdícios e equacione as ofertas de produtos e serviços de saúde de forma a caber no bolso dos cidadãos. Esse acesso também valoriza ainda mais o nosso SUS, ao ser aliviado e preservando atendimento aos demais brasileiros.
Temos produzido no Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) um vasto conteúdo, em diversas formas e plataformas, para apontar meios de promover a sustentabilidade assistencial, econômica, financeira e social do setor de planos de saúde.
Há desafios imensos como repensar os modelos de pagamento por serviços de saúde, combater desperdícios – especialmente e sobretudo de fraudes –, evitar situações que exponham o paciente a riscos desnecessários e que agravem a situação clínica. Os custos são pressionados também por avanços tecnológicos e pela incorporação de novas tecnologias sem, muitas vezes, considerar a capacidade financeira do sistema parar arcar com esses custos. Essa agenda tem sido enfrentada e seguirá em pauta permanente.
Outro catalizador de custos está ligado à longevidade dos brasileiros: vivendo mais anos, se não tivermos condições adequadas de saúde, demandamos mais pelas estruturas do sistema. Por isso, é fundamental entender que o sistema de saúde suplementar está assentado sob o princípio do mutualismo, da coletividade, no qual cada beneficiário de forma interdependente subsidia o acesso e o uso do outro.
Quanto mais cada um administra corretamente sua própria saúde, usa com eficiência os produtos e serviços disponíveis pelo plano, realiza exames e acompanha o comportamento de sua saúde, maior é a possibilidade de se buscar o equilíbrio do sistema, evitando episódios agudos e urgentes e, assim, promovendo modicidade de preços e reajustes menores.
Reitero o que já disse em outros fóruns: os planos de saúde são caros e os reajustes altos porque tratar doenças tem custo alto, que cresce mais do que a inflação e as rendas. Por isso, cuidar da saúde vai ficando mais caro, e os preços também.
E planos caros e reajustes altos não interessam a ninguém: aos pagadores, por óbvio; ao governo porque afetam a inflação; às operadoras porque estimulam saídas antisseletivas. Se quisermos planos baratos e reajustes menores, precisamos conter os custos, especialmente pela eliminação dos desperdícios. Não tem outro jeito.
Há um dito popular chinês que diz o seguinte: se cada pessoa varrer seu quintal e sua calçada, toda a cidade e todo o país ficarão limpos. Na saúde, em grande parte das vezes, essa lógica também é válida: quanto mais cuidarmos da nossa própria saúde, sermos atentos ao nosso estilo de vida, maiores as chances de termos ótima saúde e um sistema suplementar acessível.