Assim como os seres humanos, organizações têm ciclos de vida com etapas muito bem definidas assim como crises para cada uma delas.
Durante a nossa infância, o nosso crescimento é acelerado, temos poucas ou nenhuma responsabilidade, acumulamos uma grande quantidade de informação em um curto período e somos potencialmente seres vencedores. No entanto, no mesmo período, somos muito mais frágeis a doenças e mais dependentes dos outros.
Na fase da juventude, as responsabilidades vão se acumulando gradativamente, temos que dar satisfação a mais pessoas e passamos a organizar, ainda que de forma muito simples, algumas atividades de nossa vida.
Essas etapas e transformações também carregam várias crises que antecipam as mudanças ou que são geradas logo após as mesmas ocorrerem.
Bons educadores, médicos, pais ou qualquer pessoa envolvida com o crescimento de um indivíduo, baseado em anos de estudos e observações, saberá os marcos das mudanças e também terá essas crises mapeadas, podendo antecipá-las e, claro, fazer a pessoa tirar o melhor proveito das mesmas.
Alguns autores de administração como Churchill e Lewis, entenderam esses processos nas empresas empreendedoras e identificaram algumas etapas e características dos empreendedores e das organizações que são:
Existência
Nessa etapa a preocupação é sobreviver, a empresa é toda controlada pelo empreendedor, não existem controles formais e o negócio é dependente do dono e confundido com o mesmo. Nesse momento ainda há poucos colaboradores que são facilmente gerenciados pelo fundador.
Sobrevivência
Nessa fase a estratégia principal é sobreviver. A empresa começa a se organizar, já há alguns sistemas formais, alguns gerentes e temos uma das primeiras crises que é a necessidade de liderança. Aqui a organização está na fase onde o empreendedor ainda é o DONO mas tem, mesmo que com relutância, passar a delegar obrigações e mais importante e mais difícil, PODER.
Sucesso
Na fase de sucesso a estratégia principal é crescer, manter a rentabilidade e, eventualmente, buscar recursos para financiar esse crescimento. Nesse momento o empreendor começa a ter a certeza que não conseguirá atender a todas as competências necessárias para o crescimento de seu negócio e que é cada vez menos DONO do mesmo. Ao mesmo tempo, já superada a crise da necessidade de delegar tarefas, passa a conviver com a crise de ter que lidar com uma grande quantidade de formalizações que a organização passa a exigir.
Decolagem
Agora a palavra de ordem é crescer. Os gerentes passam a tomar decisões estratégicas, a figura do empreendedor não é mais decisiva para o sucesso das operações e os sistemas já devem ser mais robustos. Aqui a crise, assim como no dia que nossos filhos entram na universidade ou saem de casa, é o empreendedor saber lidar com o fato de que a sua criação cresceu e que tomará rumos nem sempre definidos por ele.
Maturidade de Recursos
Finalmente chega a fase da maturidade. A estratégia é melhorar o retorno sobre o investimento para todos os interessados no negócio, o estilo de gerenciamento é baseado em equipes, provavelmente o empreendedor estará no conselho, e chega a crise que será o diferencial para a empresa, assim como para os homens, de morrer ou perdurar por várias gerações, uma necessidade de revitalização. Aqui a organização tem que voltar a lembrar de suas origens, de que nasceu de um sonho de um empreendedor e procurar trazer esse desafio para todos os gerentes e colaboradores. Empreender dentro da organização.
Realmente as crises e os desafios não são fáceis mas, assim como quem decide ter um filho e criá-lo, criar e crescer uma organização implicará em sacrifícios, desapegos e decisões, quase sempre, muito difíceis. Mas o resultado, tenha certeza, será de uma realização indescritível.
Carlos Alberto Miranda é Mestre em Administração de Empresas e possui MBA em Finanças pelo IBMEC RJ. Foi sócio da Ernst&Young e responsável pelo Premio Empreendedor do Ano durante 5 anos. Atualmente é CEO da gestora de Venture Capital BR Opportunities, é do Comitê de Empreendedorismo e Capital Semente da ABVCAP e Voluntário da Endeavor.