Como os setores de produção se adaptaram para as necessidades imediatas da pandemia
As cadeias de suprimentos globais se afetaram drasticamente com a instalação da pandemia de Covid-19. A demanda hiper aquecida de materiais médico-hospitalares faz com que indústrias tradicionais não tenham como suprir todas as necessidades. Os desafios logísticos foram intensificados pelo medo, acúmulo de suprimentos e dificuldade de encontrar fornecedores alternativos de matérias-primas.
A produção destes materiais é majoritariamente localizada na China. Em entrevista ao jornal O Globo, Mandetta fez a seguinte declaração: “Espero que nunca mais o mundo cometa o desatino de fazer 95% da produção de insumos que decidem a vida das pessoas num único país. Isso é uma das partes das discussões do pós-epidemia”. Nesse cenário, países com maior poder de barganha acabaram sendo favorecidos em detrimento de outros – fomentando uma reflexão entre os limites da bioética, diplomacia e saúde pública.
A China tem transformado sua imagem de originadora da pandemia para principal fornecedora de soluções para a doença. As relações com o país vão se alterar de maneira significativa com diversas regiões do mundo.
No Brasil, o Ministério da Saúde (MS) tem defendido a centralização da compra e distribuição destes insumos aos estados. Por enquanto, apenas os respiradores estão seguindo esta regra. Como uma medida, o Ministério Público Federal (MPF) solicitou ao governo de SP no início de abril a divulgação de estoque, aquisição e cronograma de distribuição de insumos e equipamentos médicos.
E como os outros setores de produção se envolveram nessa conjuntura?
Empresas de todos os tamanhos se articularam para combater a pandemia e se manter em funcionamento. Encontrar novos parceiros e mudar o rumo dos negócios para onde o mercado guiar tem sido uma das estratégias de sobrevivência nesta crise.
Estabelecimentos que já utilizavam impressoras 3D iniciaram a produção de máscaras de proteção facial, como foi o caso da Siemens e outras iniciativas lideradas pelo Senai. Indústrias automotivas, como Ford e Fiat, se mobilizaram tanto na fabricação do EPI como de ventiladores mecânicos.
Fabricantes de cosméticos, como Mary Kay, Amend e Pierre Fabre, produzirão álcool em gel em suas plantas. Instituto Mauá, Leroy Merlin e Alpargatas são mais exemplos que também focaram na produção de máscaras faciais.
Parcerias entre indústria e centros universitários foram formadas, como o caso da Escola Politécnica da USP que receberá chapas de alumínio fornecidas pela Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) para produção de ventilador pulmonar mecânico de baixo custo.
Além de produção, uma força tarefa foi elaborada para consertar 3,6 mil respiradores do SUS. A ação envolve o Sesi/Senai, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Poli/USP e uma rede solidária de dez grandes indústrias que coletam os respiradores nos hospitais e, depois de consertá-los, devolvem os aparelhos higienizados e prontos para uso.
Os tradicionais players
Até mesmo os tradicionais fabricantes formaram parcerias, como é o caso da Magnamed, maior fabricante nacional de ventiladores. Ela contará com o suporte da Embraer na produção de peças de alumínio que vão permitir substituir as importações neste momento.
As farmacêuticas Sanofi e Johnson já anunciaram esforços voltados para a pesquisa e desenvolvimento de vacinas. Enquanto o grupo Prati-Donaduzzi aumenta sua produção de cloroquina, potencial medicamento para o tratamento da doença.