A Jornada de Inovação em Saúde, ação promovida pela Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos (Abimo) em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), realizou o último encontro deste ano para tratar de biotecnologia, química e materiais.
Márcio Bósio, diretor Institucional da Abimo, enfatizou como a evolução do setor modificou as perspectivas tecnológicas do país, promovendo uma integração de setores antigamente inexistente. “Temos, por exemplo, conversas com o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) para envolver o setor da saúde na Lei da Informática, que inicialmente foi pensada apenas para bens de informática, mas, hoje, já pode ser utilizada pela indústria da saúde que incorpora tecnologias desse tipo”, declarou.
Ao apresentar a Embrapii, o coordenador de Mobilização Empresarial, Fábio Cavalcante, se mostrou satisfeito ao perceber a presença de profissionais diferentes nos quatro encontros realizados. “Fizemos um levantamento para entender qual tipo de tecnologia mais aparecia nos projetos de saúde e, para cada encontro, selecionamos, entre as nossas 96 unidades de pesquisa e excelência, aquelas mais coerentes com o tema. Assim casamos o público específico com a demanda e a oferta específicas”, disse.
Hoje a Embrapii atende a todos os setores da economia, sendo a saúde o segundo setor com mais demanda, atrás apenas do agronegócio. Até o momento, a Empresa já desenvolveu 262 projetos da área da saúde que, juntos, somam mais de R$ 260 milhões. Desses projetos, 178 já foram concluídos e 86 geraram pedidos de propriedade intelectual. “Interessante observar que, ao final, dos projetos as empresas, avaliam que o modelo Embrapii e todos os índices dessas avaliações estão acima de 90% de satisfação, demonstrando que o nosso modelo funciona bem”, pontuou.
Esse modelo a que Cavalcante se refere diz respeito à transferência de recursos não reembolsáveis que impulsionam a inovação de forma desburocratizada, ágil e flexível e aposta no compartilhamento de custos e de riscos, sendo que a Embrapii chega a arcar com 50% do valor do projeto e os outros 50% são divididos entre o centro de excelência e a empresa. O executivo também mencionou a importância da parceria com o BNDES e o relacionamento direto das empresas interessadas com as Unidades Embrapii.
Representando o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Vitor Pimentel, gerente setorial, participou do evento trazendo as percepções e novidades do banco para o debate sobre inovação. “Para nós, do Banco, o mais importante é olhar para a efetividade do desenvolvimento do produto e se ele tem potencial de aplicação no SUS”, disse. Pimentel também comentou que já foram criados vários casos de sucesso graças a essa parceria entre Embrapii e BNDES.
Experiência da indústria
Para dar sequência ao evento, duas empresas associadas à ABIMO e que já fizeram uso do modelo Embrapii de financiamento para inovação foram convidadas a compartilhas suas experiências. Felipe Bier, gerente de Manufatura e Manutenção da Lifemed, contou sobre o desenvolvimento de um importante projeto com o Instituto SENAI de Inovação, na criação de um componente polimérico para o ventilador da marca. “Conseguimos melhorar a qualidade das ferramentas, o desempenho do equipamento e reduzir o número de falhas”, disse.
Posteriormente, César Bellinati, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Angelus, comentou sobre como a empresa utilizou os recursos não reembolsáveis da Embrapii para fomentar projetos de inovação na área odontológica. “Tínhamos um enorme desafio em termos de tecnologia na área de biocerâmicos para cimentos odontológicos que entregamos ao IPT. E foi nesse momento que descobrimos a ampla estrutura da Unidade Embrapii, capaz de desenvolver um projeto que atendia ao nosso escopo praticamente sem nenhum atraso”, declarou.
Unidades Embrapii
Para trazer a perspectivas dos pesquisadores, quatro unidades Embrapii participaram do encontro. Questionadas por Bósio sobre quais as principais dificuldades enfrentadas para a evolução dos projetos das empresas, Rafaela de Oliveira Penha, do Instituto SENAI de Inovação em Biomassa, argumentou que os centros de pesquisa normalmente recebem dois tipos de abordagem empresarial: a ideia pronta para execução ou um problema a ser solucionado.
“O maior desafio acaba sendo reunir toda a equipe multidisciplinar para um brainstorm que supra a demanda da empresa. Isso porque somos uma Unidade Embrapii e o processo burocrático já é simplificado”, disse.
Uma das dificuldades apontadas pelo Instituto Federal de São Carlos se dá quando a empresa não está aberta a soluções diferentes daquelas planejadas inicialmente. “A dificuldade, às vezes, está na ideia pré-formada, ou seja, no entrave para implementação de outras formas mais acessíveis ao projeto que seriam melhores para a aplicação e o desafio da empresa”, disse Daniel Varela Magalhães.
Essas alternativas, porém, são benéficas quando a empresa chega à Unidade Embrapii ainda sem ter identificado de fato a sua demanda, segundo Maria Helena Ambrosio Zanin, do IPT. “Elas vão nos visitar para conhecer a estrutura. Chegando lá, têm visibilidade do todo e, quando isso acontece, voltam para novas discussões de ideias. Então, o que seria uma conversa com um pequeno grupo pode expandir para vários setores e várias áreas da companhia”, explica.
Paralelamente, Leonardo Vieira Teixeira, do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, reforçou que a construção é sempre feita a quatro mãos. “Depois das primeiras reuniões vamos identificar quais as melhores fontes de fomento para o projeto, então é um processo gradativo que nos leva à solução”, declarou.