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Os caminhos em direção ao acesso - a próxima fronteira da saúde

Em entrevista ao Saúde Business, Antonio Silva, Strategy & Access Enabler da Roche, dividiu perspectivas e os desafios de ampliar o acesso às soluções de saúde no Brasil

Há 13 anos na Roche, passando por posições diversas dentro e fora do Brasil, Antônio Silva assumiu em setembro do ano passado um desafio: o cargo de Strategy & Access Enabler da companhia. Com a premissa desafiadora de promover estrategicamente o acesso à saúde a partir das soluções da empresa, Antonio defende que valores como coragem, integridade e paixão tem sido a base da transformação que a Roche busca. “Quando falamos de transformar, falamos principalmente da coragem de tomar decisões e desafiar o status quo. Queremos mudar nosso olhar e deixar de entregar só uma tecnologia para passar a fazer parte da construção da solução de um ecossistema complexo”, acredita. 

O executivo destaca que os últimos anos da Roche foram de mudança de foco para uma abordagem holística das dores e oportunidades de ação do setor de saúde, buscando a construção de um sistema mais humano e focado na prevenção. O foco em acesso tem guiado ações da Roche que vão além da atuação tradicional de uma indústria farmacêutica. Em prol do acesso - a próxima grande barreira da saúde - , a empresa lista ações voltadas para a medicina diagnóstica, o suporte ao paciente durante a jornada e a identificação de gargalos que dificultam o acesso ao tratamento.  “Descobrimos ao longo desses anos que muitas vezes o problema não é a solução oferecida para o tratamento, mas como, quando e com que frequência  esse paciente chega ao sistema de saúde”, defende o executivo. “Se a gente desenvolve soluções que não chegam no paciente, nosso trabalho está incompleto”, acredita. 

Nessa entrevista exclusiva ao Saúde Business, Antonio Silva divide suas percepções sobre a urgência do acesso e de que forma podemos, enquanto setor, responder a essas demandas. 

Healthcare Impact Plan e a promoção de ações conjuntas

Grande parte das ações da companhia é guiada pelo Healthcare Impact Plan (HIP), também chamado de plano de transformação da saúde - uma metodologia global desenvolvida pela Roche para identificar e priorizar ações necessárias para garantir mais eficiência e sustentabilidade aos ecossistemas de saúde. Por meio do HIP, afiliadas da empresa ao redor do mundo têm desenvolvido planos integrados e estratégicos que permitem à empresa colaborar com os principais desafios de saúde em diferentes nações - tendo sempre a colaboração como princípio-chave. No Brasil, a partir das análises iniciais, quatro áreas de atuação foram  priorizadas: novas tecnologias, infraestruturas eficientes, soluções de financiamento e dados em saúde.

Como exemplo de atuação integrada, Antonio destaca as ações do ConectSUS durante a pandemia e a cobertura vacinal da COVID-19, que exigiu tanto tecnologia e cooperação interoperável.  “Essa integração entre os diversos players, por meio da tríade de ciência, tecnologia e dados em prol de uma decisão clínica e melhor decisão de alocação de recursos, é pra onde estamos indo. É nesse futuro que estamos mirando”, afirma.  

Player importante do setor, a Roche se posiciona como um incentivador do ecossistema de saúde, em ações coletivas para uma jornada mais fluida e mais acessível para o paciente. “Hoje, sabemos que nem todos os agentes estão dispostos a cocriar. Mas não queremos impor nossa visão: queremos sentar e criar juntos. Por isso, trabalhamos para identificar quem são os agentes que têm interesse em começar essas conversas e nos dedicamos a trabalhar com eles”, posiciona. “Na Roche, falamos sempre que nosso inimigo é a doença, não as outras indústrias. A ciência vai vencer - seja a minha solução ou a do meu concorrente, nosso objetivo comum deve ser erradicar o câncer, por exemplo. Queremos encontrar a melhor solução para o paciente e sua jornada pelo sistema, colaborando com os outros agentes da transformação”, comenta. 

“Acreditamos que mesmo os avanços pequenos são positivos, porque são parte do caminho que vai levar às grandes transformações. Queremos fazer essa mobilização acontecer”, diz, reforçando que a empresa incentiva ações locais e controladas, que possam servir como provas de conceito e atrair mais parceiros para a discussão. “Temos encontrado ilhas de excelência e inovação em vários lugares do Brasil. Nosso próximo desafio é levar os outros atores a replicarem os cases de sucesso em outras regiões”, finaliza. 

Sustentabilidade de longo prazo: o próximo ciclo político e a saúde

Prestes a entrar em um novo ciclo de gestão federal e estadual, o Brasil se vê diante de oportunidades e desafios para a saúde pública e suplementar. “Apesar de tudo, não podemos perder de vista as coisas boas que a pandemia nos trouxe, com avanços na abertura de debates e diálogos, criando novos pilares e políticas em prol do crescimento. Precisamos manter as conversas ativas e trazer o ‘por que não?' para a mesa”, defende o executivo, reforçando novamente a urgência da cooperação entre os players, inclusive a saúde pública. “Em minha carreira, tive a oportunidade de acompanhar centenas de projetos inovadores, que geraram real impacto aos pacientes, mas pecaram na sustentabilidade. Projetos cuja duração era pré-determinada e/ou dependentes de uma única fonte de financiamento do setor privado - sendo, assim, bastante vulneráveis”, aponta. “A sustentabilidade do sistema passa por uma política pública revisada passo a passo e com recursos vindos de vários players, para não exaurir um único agente”, diz. 

Antonio defende que mais do que criar novas políticas, precisamos construir o hábito de visitá-las com frequência. “As políticas públicas precisam estar preparadas para avaliar se elas ainda são eficientes ou se já estão preparadas para dar um salto”, acredita. Sobre a próxima gestão, o executivo da Roche reforça que a Saúde foi severamente afetada pelos anos de pandemia e que a quantidade represada de pacientes crônicos, que vai entrar nos sistemas de saúde já em momentos mais avançados de suas doenças, vai exigir ações à altura tanto do Governo quanto da iniciativa privada, colocando à prova as lições de cooperação e digitalização desenvolvidas nos últimos dois anos. “Não podemos perder de vista a cultura de aprendizado contínuo que desenvolvemos na pandemia, garantindo a mobilização e trazendo mais agentes para a conversa”, finaliza.