Publicado em Julho deste ano, o relatório "A disparidade salarial entre homens e mulheres no setor de saúde e cuidados: uma análise global na época do COVID-19", da OMS, conclui que as mulheres no setor de saúde e assistência enfrentam uma disparidade salarial entre homens e mulheres maior do que em outros setores econômicos, ganhando em média 24% menos do que seus pares homens. Além da diferença nos salários, a representatividade também é deficiente na alta gestão: mesmo representando 70% da força de trabalho na área da saúde no mundo, mulheres ocupam apenas 25% das posições de liderança no setor.
"Não existe inovação sem diversidade" - Adriana Costa, Managing Director da Siemens Healthneers |
Desafio também em outros setores da sociedade, a representatividade e a diversidade nas empresas são questões que vem ganhando força nos últimos anos, impulsionadas pelo incentivo à políticas de ESG e pela presença de lideranças femininas dispostas a usar suas vozes para levantar debates e incentivar a evolução do setor em direção a um futuro mais inclusivo. Managing Director da Siemens Healthineers Brazil, Adriana Costa reforça a importância de conversas transparentes e diretas sobre o assunto, envolvendo pessoas de gêneros e perfis diferentes. “Se estamos falando sobre igualdade de gênero só com mulheres, essa discussão é incompleta, do mesmo jeito que ela é incompleta se as mulheres não são incluídas. Ou falamos com todo mundo ou não vamos conseguir resolver os problemas”, defende a executiva.
Para Adriana, o impacto da diversidade vai além do social. “Empresas que efetivamente trabalham no aumento de diversidade podem aumentar de 5% a 20% os índices de lucratividade”, aponta. Ela defende também a importância de capacitar as novas lideranças com softskills indispensáveis para a construção de um ambiente mais diverso, como a autoconfiança e a adaptabilidade. “Essas são características necessárias para todos os líderes, homens e mulheres, e que não são desenvolvidas em universidades, por exemplo. Precisamos incentivar esse desenvolvimento dentro das empresas”, acredita.
Diversidade: muito além do lugar à mesa
Representante de um dos principais players da cadeia de saúde no Brasil, Lídia Abdalla, Presidente do Grupo Sabin Medicina Diagnóstica, também defende a importância de manter a discussão em pauta. “A questão da desigualdade de gênero é um dos pilares da discussão sobre diversidade nas empresas e, com as políticas de ESG ganhando espaço, é indiscutível a importância de debatermos a presença feminina nos cargos de liderança”, defende. “Mas acredito também que, no final do dia, essa diversidade é uma consequência de um ambiente de trabalho positivo, em que todas as pessoas se sintam acolhidas, respeitadas e cientes de que suas vivências e ideias importam e vão ser ouvidas”, afirma.
Engajar as equipes para proporcionar esse ambiente positivo e igualitário é um dos desafios observados também pela Siemens Healthineers. “A diversidade não é uma pauta de mulheres, nem de negros ou de qualquer outro grupo. Essa é uma pauta que necessariamente deve ser de todos nós. Da mesma forma, essa não deve ser uma responsabilidade só da alta liderança ou só do time de RH: precisamos de estratégias que engajem toda a companhia nisso. Precisamos criar ambientes que dêem mais espaço para o que é diverso”, acredita Adriana Costa. “Não existe inovação sem diversidade”, pontua.
"A diversidade é uma consequência de um ambiente de trabalho positivo, em que todas as pessoas se sintam acolhidas, respeitadas e cientes de que suas vivências e ideias importam e vão ser ouvidas", Lídia Abdalla, presidente do Grupo Sabin |
Com 77% do quadro de funcionários e 74% dos cargos de liderança ocupados por mulheres, o Grupo Sabin é uma referência em diversidade e inclusão. “A diversidade está na essência da empresa e, por isso, isso sempre pareceu muito natural para nós. Mesmo assim, acreditamos que é importante nos posicionarmos sobre isso, até mesmo para incentivar que outras empresas invistam em seus programas de diversidade. Hoje, a maior parte da liderança do setor é a masculina. Então, são os homens que ainda estão com a caneta na mão para tomar as decisões - e , naturalmente, temos uma tendência a nos cercar de quem é mais parecido conosco, o que leva líderes homens a promoverem outros homens, por exemplo”, aponta a presidente.
Mas, mais do que presença, Lídia reforça que a inclusão depende principalmente da oportunidade de ser ouvido. “O mundo é diverso. Dentro das empresas, em todas as áreas, muitas vezes já existe um ambiente de diversidade. Mas essas pessoas estão sendo incluídas na conversa? Suas opiniões estão sendo ouvidas e respeitadas?”, questiona.
Para Adriana, o respeito à diversidade tem um valor inegável para a saúde. “Como podemos incentivar ideias disruptivas e encontrar olhares diferenciados para os problemas da saúde sem incentivar a diversidade? Precisamos de visões e vivências diferentes de mundo para construir as soluções que o setor necessita”, diz. “E não adianta recrutar esses talentos se não nos comprometermos a, de fato, ouvir o que essas pessoas têm a dizer. Não basta chamar para a festa, precisa tirar para dançar”, finaliza a executiva da Siemens Healthneers.