Um dos muitos impactos da pandemia foi a aceleração da digitalização de forma geral nas empresas. No âmbito da saúde, houve um importante avanço da telemedicina e outros recursos tecnológicos que passaram a ser utilizados, por exemplo, pelos planos de saúde, para atender à população em um momento de restrição na mobilidade e confinamentos.
Neste cenário aumentou a relevância da Inteligência Artificial como ferramenta que está provocando verdadeira revolução na saúde corporativa, pelas amplas possibilidades que abre no atendimento aos colaboradores das empresas e com as consequentes repercussões em termos de bem estar no trabalho, satisfação desse stakeholder fundamental na operação de qualquer organização e no incremento da produtividade.
O potencial da IA na saúde corporativa ficou de fato evidente no contexto da atual grave crise sanitária global, que determinou mudanças profundas no desenho de seus processos internos. O imperativo do uso do home office em muitos casos, a sensação de se trabalhar, a partir de casa, em uma jornada eventualmente superior à normal, e infelizmente a multiplicação de casos de Covid-19 no grupo de colaboradores foram alguns resultados que afetaram diretamente o cotidiano empresarial.
O inevitável aumento do absenteísmo foi registrado no campo da saúde corporativa. E esse resultado da pandemia ainda parece longe de ser concluído, na medida em que a enfermidade derivada do Sars-CoV-2 deixa sequelas que continuarão incidindo na vida de muitos colaboradores.
Outra repercussão da pandemia foi em termos da saúde mental da população em geral e trabalhadores em particular. São muitos os estudos confirmando essa derivação da eclosão de Covid-19. Um levantamento executado pela B2P, em um universo de mais de 300 mil funcionários de 18 empresas brasileiras, no período de março de 2020 a março de 2021, revelou que o absenteísmo por saúde mental teve uma evolução de 23% no período.
É multidimensional, portanto, o rol de consequências da pandemia na saúde corporativa e, nesse sentido, cresce de importância o uso de ferramentas tecnológicas como a Inteligência Artificial nessa vertente da gestão empresarial. Os algoritmos podem, por exemplo, em associação com a expertise de especialistas, elaborar uma análise completa dos colaboradores de uma empresa, identificando-se quais estão em determinado grupo de risco, quais as medidas preventivas podem ser adotadas e os procedimentos mais adequados em cada situação.
Um outro exemplo real, agora olhando apenas para o histórico de sinistro de um grupo de empresas, comprovou estatisticamente que os colaboradores engajados na Atenção Primária à Saúde reduziram em torno de 29,4% o valor em sinistro ao longo do tempo, comparado aos não engajados. Além disso, com a atuação do Ambulatório de Atenção Primária em uma determinada companhia, foi possível reduzir em 49% a ida dos colaboradores ao Pronto Atendimento, assim como diminuir 64% dos exames de alto custo. E o resultado de todo esse trabalho reflete, diretamente, no absenteísmo das empresas.
É de enorme utilidade, portanto, a IA na esfera da Atenção Primária à Saúde (APS), no sentido de foco na prevenção - antes que a doença apareça - com repercussão, entre outras, na redução de exames desnecessários nos planos de saúde, que em sua imensa maioria contemplam colaboradores corporativos.
A associação entre o conhecimento de especialistas, com o emprego de tecnologias como a IA, pode trazer resultados expressivos na melhoria da saúde dos colaboradores. A aplicação da APS e recomendação de programas específicos pode trazer ganhos incomensuráveis sobretudo nesse momento de esforço coletivo imposto pela pandemia. A crise sanitária continuará impactando de uma forma ainda não totalmente definida. De qualquer modo, ficou claro que a IA se tornou peça estratégica na gestão da saúde corporativa.
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*Gregório Rodrigues é médico e gerente de Integração e Inteligência em Dados de Saúde na 3778, healthtech focada em Saúde Corporativa. Gregório possui especialização em Gestão de Saúde pela FGV, Economia em Saúde pela SIATOEFF, Health Data Science pela Data Science Academy, GreenBelt em 6Sigma pela Voitto, Scrum Master nível 1 pela Scrum Org, FHIR pela HL7-Brasil e Informática e Ciência de Dados em Saúde pelo Einstein. Mestrando na área de Saúde Pública pela UFMG, além de professor em diversos cursos e coordenador da pós-graduação em Saúde da Família pela Santa Casa de Belo Horizonte. Também é co-fundador da Empresa Dexpertio, de educação em Atenção Primária.