Já falamos aqui nesse blog que a saúde está super quente no Vale do Silício. A saúde é um problema de trilhões de dólares e pouco foi feito em termos de saúde digital até hoje. Enquanto isso os custos dos cuidados com a saúde continuam subindo sem um aumento proporcional na melhora dos resultados ou na qualidade dos serviços oferecidos. Mas esse cenário deve mudar nos próximos anos. No artigo de hoje eu vou listar 8 das principais tecnologias que estão sendo desenvolvidas e que tem o potencial de transformar a medicina que conhecemos hoje.
Nas próximas semanas eu irei escrever artigos que detalham cada uma dessas inovações e seus impactos na nossa saúde. Mas aqui vai um aperitivo para despertar a curiosidade de todos.
- Poder nas mãos dos pacientes: a tecnologia está possibilitando a democratização do conhecimento médico. Até a idade média, todo o conhecimento escrito era guardado nos mosteiros e poucas pessoas, em geral apenas os religiosos, tinham acesso a esse conhecimento. Com Gutemberg e a invenção da imprensa em 1436 começou um processo de democratização do conhecimento. Em termos de saúde, porém, até bem pouco tempo atrás o conhecimento continuou sendo guardado nas escolas e livros de medicina. Com a internet estamos vivendo um momento de Gutemberg na medicina. A democratização do conhecimento transfere o poder para os pacientes e o papel do médico passa a ser cada vez mais de parceiro o que não combina com paternalismo.
- “Gameficação”: essa palavra feia que ainda não está nos dicionários e derivada do inglês significa incluir jogos em diversos processos. O ser humano é competitivo por natureza e a maioria de nós é apaixonado por jogos ou algum tipo de esporte. Essa paixão já está sendo utilizada com sucesso na educação, onde as crianças aprendem através de jogos educativos. Essa tendência agora está sendo aplicada a saúde com aplicações infinitas tanto no tratamento quando na prevenção incentivando hábitos de vida mais saudáveis.
- Telemedicina e cuidados remotos: Já tratamos desse assunto aqui no blog. Muita gente vê a telemedicina apenas como uma consulta por vídeo com um médico a distância. Mas as possibilidades vão muito além disso. Novas tecnologias irão permitir diagnósticos e monitoramento remoto de pacientes. A tendência é que em breve apenas pacientes muito doentes, que necessitam de cuidados intensivos sejam internados nos hospitais, os demais poderão ser cuidados na sua casa e acompanhados por monitoramento remoto.
- Robôs Cirurgiões: Estamos ainda muitos anos de distância, e talvez nunca chegaremos ao ponto de substituir completamente cirurgiões por robôs. Mas o uso de robôs nas cirurgias já é uma realidade que deve crescer de maneira exponencial. Cirugias com precisão milimétrica poderão ser feitas por cirurgião localizado a milhares de quilômetros de distância do paciente. Uma outra tecnologia semelhante é a das próteses e implantes biônicos. Hoje já está se desenvolvendo uma tecnologia que permite uma pessoa com paralisia controlar um robô através do pensamento.
- Genômica e a medicina personalizada. Uma das expressões mais fortes da ciência médica hoje é a “medicina baseada em evidência”. Essas evidências são levantadas com base em estudos clínicos randomizados. Ela não leva em conta, porém, a individualidade de cada paciente. O fato de um medicamento funcionar em 90% dos casos (o que já é bem raro) não significa que irá funcionar para mim, especialmente não com a mesma dose. Com os avanços da engenharia genética estamos decifrando genes relacionados a resposta de cada pessoa a determinado tratamento, com isso a possibilidade de uma medicina realmente personalizada tem ficado menos distante. Essa tendência fica ainda mais forte quando associamos o chamado “big data” e os sensores (que falaremos a seguir) com a genômica. Sensores são capazes de gerar uma quantidade absurda de dados porque, por exemplo, medem os sinais vitais em tempo real, esses dados serão analisados por super computadores (“big data”) e com isso poderemos entender melhor as singularidades de cada paciente definindo parâmetros de normalidade diferentes dos que temos hoje.
- Sensores e wearables: O Apple Watch já é um sucesso e na esteira dele várias tecnologias estão sendo desenvolvidas para monitorar sinais vitais e outros parâmetros de saúde e ao mesmo tempo facilitar a aderência dos pacientes ao tratamento proposto. Um exemplo é um sensor que informa ao médico quando um determinado medicamento é ingerido pelo paciente. Esses sensores estão ficando cada vez menores e no futuro poderão ser inclusive ingeridos pelos pacientes, usando uma outra tendência na área de inovação que é a nanotecologia.
- Impressão 3D: A impressão 3D já está revolucionando os processos industriais. Hoje qualquer pessoa pode ter uma ideia de um determinado produto e fazer um protótipo de baixíssimo custo usando impressão 3D. Aqui nos EUA algumas lojas da UPS já oferecem o serviços de impressão 3D do lado da copiadora tradicional. Com menos de 100 dólares você faz um protótipo hoje. Essa tecnologia já permite a impressão de tecidos humanos que podem ser usados em testes de medicamentos e cosméticos. No futuro órgãos inteiros poderão ser impressos em impressoras 3D acabando com o problema das filas nos transplantes e incompatibilidade entre doador e receptor.
- Realidade Virtual: Essa é uma das tecnologias mais esperadas pela indústria do entretenimento mas que também pode ter aplicações importantes na saúde, especialmente quando tratamos de saúde mental e comportamental. Já estão sendo testados, por exemplo, ambientes de realidade virtual no tratamento de fobias e transtorno de stress pós traumático. Ambientes virtuais seguros podem ser utilizados para desensibilizar os pacientes.
Como vocês podem ter notado as possibilidades da tecnologia para inovação na saúde são infinitas. Não podemos, porém, tirar os pés dos chão. A inovação na área médica precisa vir com segurança e representar um valor verdadeiro na melhora dos resultados dos tratamentos a um custo viável. Não há mais espaço para inovações que são apenas cosméticas, vendidas a preços astronômicos e que que não mudam o a expectativa ou a qualidade de vida dos pacientes.