A definição de Medicina Baseada em Evidências (MBE) é clara: movimento que que se baseia na aplicação de método científico a toda a prática médica, com o intuito de auxiliar no diagnóstico e no tratamento de doenças. Entretanto, é preciso tomar alguns cuidados ao utilizá-la para que não haja má interpretação das pesquisas ou confiança em dados sem fundamento. Veja, a seguir, os três principais erros ao utilizar a MBE e como evitá-los:
- Pesquisas pouco embasadas
Atualmente, muitos estudos são publicados sem o embasamento científico adequado. De acordo com Regina El Dib, professora assistente doutora do Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pesquisadora do Instituto de Urologia da McMaster University (Canadá), para saber se as pesquisas são confiáveis, é preciso checar se contam com um mapeamento e uma análise crítica de tudo que já foi publicado ou analisado em estudos sobre o assunto. O material deve mostrar qual foi o método de análise utilizado, além da descrição das etapas de realização e das referências teóricas. “Muitos só apontam dados estatísticos. Eles são muito importantes, já que compõem a metanálise da pesquisa, mas sozinhos e sem contextualização não dizem nada e podem conduzir a uma interpretação equivocada dos resultados”, explica Regina.
- Má interpretação do termo “ausência de evidências”
Algumas vezes, depois da realização de revisões sistemáticas, a pesquisa conclui ausência de evidências, ou seja, incapacidade de comprovar cientificamente que a intervenção ou diagnóstico sob investigação é efetivo. Isso não significa, porém, que a ideia que o médico teve não funcione; apenas que não há estudos de poder estatístico alto que comprovem a eficácia de um tratamento, ou mostrem que uma substância é melhor do que a outra. “O médico não pode perder a esperança quando, ao usar a Medicina Baseada em Evidências, uma pesquisa não apontar evidências sobre o tratamento que ele acredita. Por exemplo, se trabalha com a teriflunomida para tratar esclerose múltipla com bons resultados e surge uma pesquisa publicada em revista de alto impacto, mas pautada em metodologia fraca sobre a eficácia de outra droga, não é recomendado que o tratamento mude exclusivamente por conta disso”, ressalta Regina. Segundo ela, na análise não pode levar em consideração qual foi a revista que publicou o trabalho, quem foi o autor que conduziu o estudo e, nem se a publicação é mais recente do que as demais; o ponto principal é a resposta do paciente.
- Estratégia de coleta de informações heterogêneas
Ao pesquisar, o médico deve tomar cuidado para reunir somente estudos homogêneos. Isso quer dizer que se ele está fazendo uma pesquisa para comparar a eficácia da dipirona e do paracetamol para aliviar a dor de cabeça, deve considerar somente os estudos feitos com essas duas substâncias. “Se ele acrescentar ácido acetilsalicílico, uma droga diferente, pode comprometer os resultados finais”, exemplifica Regina. É importante, também, que o desenho do estudo - como a pesquisa foi estruturada - mostre qual grupo foi analisado, se serve para todas as faixas etárias, se depende do sexo, comorbidades etc. “Achados com alta heterogeneidade clínica (critérios de inclusão e exclusão bem diferentes entre os estudos somados em uma metanálise) ou metodológica (estudos com baixo e alto risco de viés) sobre determinado assunto não devem ser levados em consideração, pois não são exatos, o que inviabiliza a prática da medicina baseada em evidências”, explica.
Para evitar esses três erros e praticar a Medicina Baseada em Evidências de forma correta, o médico deve levar em consideração quatro pontos:
- Formular uma questão clínica clara baseada nos quatro itens-chave decorrentes de um problema do paciente. Perguntas clínicas bem formuladas precisam de quatro componentes essenciais: paciente, intervenção, comparação e desfecho. Essa estratégia, denominada Pico, facilita a construção de uma boa pergunta clínica e pode ser utilizada para construir questões de pesquisa de naturezas diversas;
- Pesquisar na literatura por relevantes artigos clínicos;
- Avaliar criticamente a evidência em relação a sua validade interna (metodologia) e aplicabilidade na prática clínica (validade externa);
- Implementar os achados úteis na prática clínica, considerando o nível e grau de evidências.
Esta matéria é a terceira de um especial de cinco capítulos que mostrará como a MBE e a gestão hospitalar informatizada trabalham para uma melhor segurança do paciente. Veja as primeiras: Medicina Baseada em Evidências #1: mais segurança na assistência à Saúde e Medicina Baseada em Evidências #2: o papel do médico
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