Com custos estimados de US$ 41,3 bilhões por ano, as reospitalizações estão entre as principais vilãs da sustentabilidade em saúde nos Estados Unidos. E o quadro se repete, em maior ou menor grau, em todos os sistemas de saúde do mundo.
No Brasil, o caso é tão grave que interfere até no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação utilizado como base para reajustes dos contratos firmados entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviço.
“Diversos estudos mostram que um grande número de hospitalizações são evitáveis, particularmente entre os pacientes que têm o que são conhecidas como ‘condições ambulatoriais sensíveis’, tais como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica, insuficiência cardíaca congestiva, diabetes, etc. Além disso, uma alta proporção de pessoas que estão hospitalizadas são readmitidas em 30 dias, frequentemente para a mesma condição em que foram admitidas ou por uma complicação ou infecção resultante da admissão inicial. Reduzir internações e reinternações representa uma vitória para a qualidade e custo [da assistência]”, atesta o órgão norte-americano Center for Healthcare Quality & Payment Reform (Centro para a Qualidade de Saúde e Reforma do Pagamento).
Um artigo publicado no King’s Fund, órgão dedicado a pesquisas e análises para melhorar a assistência à saúde na Inglaterra, indica que um planejamento estruturado de alta e o desenvolvimento um programa personalizado de cuidados para pessoas em home care, mas que são frequentemente hospitalizadas, podem reduzir as readmissões.
A conclusão é corroborada por pesquisadores do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, ligado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Ao encontro de outros estudos, as reinternações na população adulta se deveram a pacientes portadores de doenças crônicas, na sua maioria doenças cardiovasculares, doenças do trato gastrintestinal, patologias pulmonares e neoplasias. Avaliando o perfil dos pacientes suscetíveis à reinternação, acreditamos que o investimento em cuidados domiciliares, uma política de integração com a rede de atenção primária, retorno ambulatorial precoce e a possibilidade do desenvolvimento de Hospital Dia possam ser alternativas para evitar reinternações hospitalares não programadas.”
Pelo Brasil
Algumas iniciativas começam a surgir pelo País para reduzir o impacto das reospitalizações. Em Canoas (RS), o Hospital de Pronto Socorro criou a Equipe de Suporte de Alta Hospitalar, que orienta os pacientes na transição do hospital para a casa e desenvolve um plano de conduta terapêutica, incluindo integração com a rede municipal, para cuidados primários. O objetivo é “reduzir inseguranças e proporcionar melhor qualidade de vida familiar e social, prevenir complicações e/ou comorbidades e evitar reinternações”.
No Rio de Janeiro, o Hospital Estadual Eduardo Rabello dedicou uma equipe multidisciplinar às visitas domiciliares, para dar continuidade ao tratamento e evitar reospitalizações e, em Brasília, mais de mil pacientes crônicos recebem visitas periódicas de profissionais da Gerência de Atenção Domiciliar, ligada à Secretaria de Saúde.