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Sírio-Libanês e Unimed Recife III são primeiros hospitais digitais do Brasil

Sociedade internacional de informática em Saúde quer popularizar modelo de avaliação do uso do prontuário eletrônico no País. Hospitais laureados apontam o caminho

Desde que desembarcou há cerca de um ano no Brasil com a missão de conhecer o nível de informatização das instituições e disseminar o uso do prontuário eletrônico do paciente (PEP), a HIMSS (Healthcare Information and Management Systems Society) tem feito um trabalho minucioso. O resultado da primeira rodada de avaliações coloca algumas instituições nacionais em um nível já próximo do máximo, ou seja, a informatização de alguns dos hospitais do País é próxima da encontrada em países desenvolvidos.

O Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e o Hospital Unimed Recife III, da rede credenciada da cooperativa de mesmo nome, foram os primeiros encaixados no estágio 6 do modelo de adoção de prontuário eletrônico (Eletronic Medical Record Adoption Model, ou EMRAM) da HIMSS - organização dedicada a melhorar a qualidade, segurança, custo-efetividade e acesso à Saúde por meio do uso de tecnologia e gestão de sistemas de informação.

ENTENDA: Entenda o modelo de adoção do prontuário eletrônico da HIMSS

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Os dois hospitais trabalham com fabricantes de software distintos: enquanto o Sírio-Libanês utiliza uma versão customizada do Tasy, da Philips, o Unimed Recife III se baseia no sistema de gestão da também pernambucana MV Sistemas – que trabalhou em conjunto com o hospital durante quatro meses para alcançar o reconhecimento.

Também responsável pela realização de um dos maiores eventos de tecnologia da informação e telecomunicações (TICs) para a Saúde, a HIMSS teve sua primeira edição no Brasil (e na América Latina), nos dias 18 e 19 de setembro, fruto de uma parceria com a Associação Brasileira CIO Saúde (Abcis). A cerimônia de premiação dos primeiros hospitais digitais brasileiros ocorreu durante o evento.

Sedimentação
Em seu primeiro ano em terras brasileiras, a HIMSS avaliou nove instituições, número considerado “um começo e nada mais que isso”, pondera Isabel Simão, responsável pelo HIMSS Analytics no Brasil e em vários países da Europa. Ela é uma das representantes da organização responsáveis pelo controle da qualidade dos dados coletados durante o processo de auditoria.

Trata-se, claro, de uma amostra irrelevante no universo de mais de 7 mil hospitais brasileiros. Apesar de não haver uma meta precisa, a perspectiva da HIMSS é aumentar o número de instituições avaliadas despertando um interesse das organizações e dos CIOs brasileiros. “Apesar de não ser completamente desconhecido, muitos ainda não veem o valor por trás do modelo, por que responder o questionário e quais são os benefícios da participação”, explica Isabel. “Estamos a desenvolver esforços de divulgação do modelo.”

Apesar disso, já é possível estabelecer ao menos uma conclusão: os hospitais avaliados não estão exclusivamente em São Paulo, o que é considerado um ponto positivo. Em seis meses a organização deve iniciar um novo ciclo de validação de estágio 6.

“Para a HIMSS, o motor é ajudar na melhoria da implementação de TI e segurança do paciente. É a dinamização do próprio mercado. É essa nossa função”, diz Isabel.

O interesse, no entanto, como pondera Claudio Giuliano da Costa, da Folks e-Saúde, consultoria que trabalhou diretamente com Sírio-Libanês e Unimed Recife III na preparação para o processo de auditoria da HIMSS, depende do quanto a instituição considera o ‘selo’ importante. No momento, a Folks trabalha na prospecção de hospitais potencialmente interessados em fazer um trabalho similar e obter uma classificação superior a 6 no EMRAM. 

“Acho que isso vai ganhar cada vez mais relevância a medida que mais hospitais são validados no estágio 6”, pondera Costa. “Daqui um tempo os primeiros [em estágio] 7 servirão no mínimo de inspiração para que eles busquem isso.”

O especialista em TI na Saúde faz um paralelo com as acreditações: se até poucos anos atrás era incomum conhecer hospitais com selos da Joint Commission International (JCI), por exemplo, hoje não só já é possível encontrá-los com facilidade como também dizer que o interesse é quase generalizado.

Neste artigo, publicado pelo Saúde Business 365, o consultor da Folks e-Saúde aponta o caminho para as instituições interessadas no EMRAM.

Experiência paulistana
Segundo a HIMSS, Sírio-Libanês e Unimed Recife III estão entre cerca de 200 hospitais em todo o mundo incluídos no estágio 6, o que significa que puderam “implementar soluções tecnológicas que têm a capacidade de melhorar a segurança e a qualidade da assistência ao paciente”.

Segundo Margareth Ortiz de Camargo, superintendente de tecnologia da informação do Hospital Sírio-Libanês, o processo de avaliação começou em agosto, com uma pré-validação em que foi demonstrado o uso do PEP e do sistema de gestão pela entidade “na perspectiva dos diferentes profissionais da área assistencial e evidenciados os requisitos definidos”, com participação de quatro auditores da HIMSS da Europa.

Em setembro, houve uma visita presencial de dois auditores para validação final dos requisitos. “Durante quase cinco horas, percorremos várias áreas do hospital e conversamos com diferentes profissionais a respeito do uso da tecnologia, dos sistemas de informação e o impacto destes no processo assistencial”, diz Maggie.

O próximo passo, diz a executiva, é alcançar o derradeiro estágio 7. “Estar tão próximo do estágio máximo no modelo de adoção de prontuário eletrônico da HIMSS nos dá a sensação de que fizemos as escolhas corretas”, diz. “Após o anúncio, nosso diretor técnico assumiu o compromisso em nome da nossa instituição de empreendermos todo o esforço possível para que possamos atingir o estágio 7, que representa a adoção completa do prontuário eletrônico”.

Segundo Maggie, alcançar este objetivo passa por um projeto já em andamento: a criação do Portal Multiprofissional, em que todos os profissionais envolvidos no cuidado ao paciente acessem uma ferramenta com a mesma usabilidade disponibilizada ao público médico. Outro projeto é a adoção de terminologias que permitam o uso do suporte às decisões clínicas e garanta interoperabilidade de informações.

“Mais do que uma premiação, a avaliação da HIMSS indica os nossos acertos e os pontos a serem melhorados nas nossas escolhas do uso da tecnologia e dos sistemas de informação”, pondera a executiva. “Ter uma entidade externa que faça essa avaliação de forma clara e objetiva ajuda a entender o resultado dos nossos esforços na melhoria da qualidade do cuidado, segurança e satisfação do paciente, eficiência, comunicação interna e satisfação da equipe de profissionais. E também permite entender onde estamos inseridos não apenas em relação as instituições nacionais, mas globalmente.”

Fora do eixo
Para o Hospital Unimed Recife III, o processo de adequação para EMRAM da HIMSS foi até certa medida natural. Nascida em 2011, a unidade própria da cooperativa médica já nasceu com o intuito de ser “paperless”, ou seja, sem papel. Andreza Montezuma, coordenadora de TI da instituição, explica que por esse motivo os processos já estavam na maior parte alinhados com as normas e as determinações da HIMSS.

“A gente só precisou ajustar algumas coisas que não tínhamos”, explica a gestora, se referindo principalmente à falta de protocolos clínicos integrados. Antes do processo de certificação, eram empregados apenas protocolos informativos, mas a HIMSS “preza que os protocolos possam sugerir ações aos profissionais”.

A MV Sistemas, fornecedora dos softwares de gestão utilizados pela unidade, ajudou ativamente na criação desses protocolos. Foi a fabricante, aliás, que engajou a instituição no processo de avaliação da HIMSS, mostrando “como seria interessante se a gente tivesse”.

“Foi uma conquista muito gratificante e desafiadora. A gente vive em Recife, no Nordeste do País, e a tecnologia aqui é às vezes um pouco escassa”, pondera Andreza, destacando o envolvimento dos profissionais de TI, do corpo de enfermagem e dos médicos cooperados no processo. “Então pra gente é um orgulho muito grande.”

O estágio 7 é o próximo objetivo do hospital. Aliás, um objetivo urgente. “A gente não quer deixar isso pra adiante. Amanhã já vamos ter uma reunião com a direção administrativa para traçar os planos de ação”. A meta é ganhar o apoio da direção administrativa da unidade, uma vez que a diretoria médica já apoia o objetivo. “A gente anda lado a lado com eles, e acho que isso é muito importante para o processo.”

Segundo Andreza, os esforços para o próximo estágio devem se concentrar no investimento em equipamentos (um novo ambiente de data center), checagem a beira de leito em todo a unidade e recursos humanos – especialistas em TI na área de saúde são escassos em Recife.