A telemedicina é um assunto que está em destaque em todos os setores da saúde desde a publicação da Resolução n° 2.227/18 do Conselho Federal de Medicina. Para falar sobre o tema, o blog da Hospitalar convidou o médico Vitor Asseituno, diretor de mercado da Healthcare Business Unit, da Informa Exhibitions, que atua diretamente em ações de inovação, tecnologia, mercado e saúde, como é o caso dos eventos Hospitalar e Healthcare Information and Management Systems Society (HIMSS), que ocorrem no Brasil.
Para Vitor, a telemedicina é um assunto que envolve custo, qualidade e acesso que precisam ser equilibrados. Ele explica que uma das possibilidades é que um paciente que antes esperava semanas para ser atendido tenha um médico on-line quando ele precisa de um presencial, ou que o médico que já o acompanha possa fazer um acompanhamento melhor e mais fácil, sem se preocupar com a distância.
“Este recurso possibilita que as pessoas tenham mais acesso ao médico. Ele diminui os gastos porque permite que os profissionais atendam mais pacientes durante o dia, reduzindo custos com deslocamento e mantendo a qualidade. No entanto, a telemedicina não pode substituir a consulta tradicional em consultório, pois isso faria a qualidade desse atendimento cair. No entanto, se a consulta por meio da telemedicina for um recurso adicional em relação à presencial, a qualidade com certeza aumentará”, afirma o diretor.
Leia a entrevista completa com Vitor Asseituno.
A resolução sobre a telemedicina gera um impacto a curto prazo nos serviços de saúde brasileiros?
Sim. Quando falamos em adoção de uma nova tecnologia devemos avaliar o seguinte: demoraram 50 anos para a população ter acesso à televisão. Para termos acesso ao celular foram aproximadamente 20 anos e para acesso às mídias sociais, por volta de 12 anos. A cada nova tecnologia que é lançada à população, o tempo de adoção se torna mais rápido. Um dos exemplos é o WhatsApp. Então, hoje nós acreditamos que o acesso à telemedicina será muito mais explosivo do que em qualquer tecnologia anterior. Inclusive, as operadores de saúde suplementar já estão interessadas em implantar a telemedicina. Viveremos uma corrida pela telemedicina devido às oportunidades e novos modelos de negócio que surgirão com ela.
Como o mercado da saúde se prepara para receber esta demanda da telemedicina?
As empresas já vêm se preparando para isso há algum tempo. Temos várias startups, hospitais e empresas de tecnologia que antes estavam oferecendo a telemedicina de médicos para médicos e, agora, simplificarão a equação. Por isso quando falamos em tecnologias de vídeo, prontuários eletrônicos e segurança da informação, elas já existiam e, agora, se adequarão às normas estabelecidas. Acredito que a telemedicina será a tendência de mercado mais importante da saúde em 2019.
O que vai mudar nos hospitais com esta nova perspectiva?
Acredito que isto [telemedicina] vai acelerar o desenvolvimento tecnológico dos hospitais. Hoje nós temos um número muito grande de internações e idas desnecessárias ao pronto-socorro. Alguns destes pacientes podem ser atendidos de forma resolutiva por meio da telemedicina e, neste caso, você pode economizar tanto na consulta presencial quanto na internação, além de trazer um resultado melhor para o paciente.
Outro ponto importante é que os hospitais precisarão de médicos cada vez mais especializados no atendimento de pacientes graves, daqueles que precisam do atendimento emergencial. Isso será um grande passo para o desenvolvimento destas instituições de saúde, que têm o seu atendimento com base em evidências científicas.
Como os médicos se adaptarão para esta nova era da telemedicina?
Cada especialidade médica é diferente. A oftalmologia é diferente da ortopedia ou da dermatologia e assim por diante. Elas são diferentes no uso de equipamentos, em exames físicos, na maneira de realizar o tratamento, etc. Isso fará com que cada especialidade se adapte de forma diferente. É provável que a psiquiatria, por ser uma especialidade menos intervencionista, com menos exames físicos, consiga se desenvolver mais rápido. A teledermatologia é um setor muito forte, e as câmeras já se adequaram para detectar as menores lesões possíveis, ajudando o profissional a fazer o diagnóstico correto. No entanto, o impacto da telemedicina pode ser menor na ortopedia ou oftalmologia, que precisam de muitos equipamentos para análise. Cada um terá o seu ritmo de evolução.
E quais são os principais pontos que os pacientes precisam compreender sobre a telemedicina?
No geral, a relação de confiança e parceria entre o médico e o paciente continua fundamental. É importante que eles possam escolher um bom médico, independentemente se o atendimento foi on-line ou presencial. A prática continua a mesma. E além da consulta é necessário que o paciente colabore aderindo ao tratamento da forma como foi recomendado.