- Encontro discute anualmente novas tecnologias em saúde, enquanto representantes do governo e pesquisadores do setor propõem o aprimoramento das políticas públicas da saúde
Sob o tema Saúde 4.0 – Inovação e Conectividade, o 6º CIMES (Congresso de Inovação em Materiais e Equipamentos para Saúde), evento realizado pela ABIMO (Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios), recebeu grandes nomes nacionais e internacionais da indústria, da academia e do setor regulatório na área da saúde. O presidente da UBM Brazil, Jean-François Quentin, a presidente, Dra. Waleska Santos e a diretora, Mônica Araújo, estiveram presentes representando o time da Hospitalar Feira+Fórum.
O evento, que aconteceu nos dias 17 e 18 de agosto, trouxe intensas apresentações com foco na inovação tecnológica da cadeia de saúde, entre elas uma plenária a fim de debater qual o futuro do setor mediante à revolução industrial que leva o segmento a um novo patamar tecnológico.
Moderado por Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da ABIMO, o encontro provocou os participantes a uma nova racionalização sobre o que a cadeia de saúde pode esperar desta enorme revolução industrial que leva o setor a um momento inovador: o da saúde 4.0. “Esse é o assunto do momento, um tema provocador que nos permite o sonho de uma medicina quase ideal onde o médico saberá tudo o que passa com o paciente. Vamos trabalhar essas barreiras, esses conceitos dessa fase revolucionária que estamos vivendo”, comenta Fraccaro ao abrir o debate.
Com um discurso bastante abrangente, Gonzalo Vecina, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) não mediu palavras para apontar os erros e os acertos brasileiros na luta por essa evolução. “A medicina brasileira não está no 4.0, mas sim no 2.0”, diz ele que relembra que, há alguns anos, a medicina era feita com base em três Es: Escutar, Examinar e Explicar. Hoje, é possível acrescer mais duas ações a essas três. Seriam elas “escrever”, para que o conhecimento obtido seja repassado; e “eHealth”, já que a tecnologia da informação e a informática vêm transformando o setor.
O Brasil, que evolui dentre erros e acertos, deveria ter aproveitado melhor cada experiência, seja ela positiva ou negativa. “Temos mais a aprender com nossos acertos e nunca aprendemos o suficiente com nossos erros”, menciona Vecina ao detalhar o fechamento da CEME (Central de Medicamentos) em 1997 diante uma crise de corrupção, e as políticas ineficientes aplicadas à indústria naval.
Após utilizar momentos históricos vividos pelo país na área de saúde, Vecina passou a citar os inúmeros avanços tecnológicos que vão desde a IoT (Internet das Coisas) até mesmo a inteligência artificial e os wearable devices, lembrando, sempre, que é necessário aplicar este tipo de avanço na garantia da atenção básica. “Temos, no SUS (Sistema Único de Saúde), um modelo de atenção básica à família que cobre 60% da população e é reconhecido mundialmente. Já no sistema privado, que trata a doença, e não a saúde, há um desastre”, criticou.
Questionado por Fraccaro sobre quanto tempo precisaríamos para que boa parte da população brasileira tivesse acesso à saúde 4.0, Vecina analisou o atual cenário do país. “Se tivéssemos continuado em uma rota melhor de crescimento, nosso país, que é energeticamente independente e tem ampla capacidade de produção de commodities, poderia pensar neste acesso mais amplo em 15 ou 20 anos. Com um PIB maior, teríamos condições de investir muito mais em saúde”, finaliza.
Experiência internacional – Trazendo mais uma experiência internacional ao CIMES, Tobias Zobel, diretor executivo do Medical Valley (Alemanha), explicou esta rede de relacionamento entre hospitais, empresas e universidades, e mostrou que mesmo tendo uma evolução notável no comparativo com o Brasil, a Alemanha ainda batalha para vencer algumas barreiras na área da saúde. “Temos que pensar, no futuro, em como podemos crescer e aumentar o valor do paciente. Sabemos que este é um problema, visto que os custos são altos. Mas o novo mundo seria uma plataforma que centralizasse todos os dados”, declara.
Como sempre, a robotização é um tema em alta nos encontros sobre inovação da saúde. Desta vez, Zobel citou um estudo alemão que entrevistou pacientes sobre o quão confortáveis eles se sentiriam em uma cirurgia comandada por um robô. Na ocasião, 43% afirmaram não ver qualquer problema em uma operação robotizada com vantagens para o paciente. “Mesmo assim, precisamos de mais confiança”.
O que é preciso para inovar?
A sexta edição do CIMES recebeu quase 400 participantes que, durante os dois dias de congresso, tiveram a oportunidade de pensar e discutir questões relacionadas ao novo modelo de saúde. “Um modelo que precisa ser pensado e arquitetado, dentro do que a gente deseja para a próxima geração 4.0”, disse o diretor institucional da ABIMO, Márcio Bósio, no encerramento.
O presidente do SINAEMO e diretor titular do ComSaúde, Ruy Baumer, fez o fechamento questionando os presentes sobre o que é preciso para que, efetivamente, o Brasil possa se tornar inovador. A cultura da inovação foi levantada por ele como um dos principais pilares, bem como a falta de acesso. ”Grandes polos como o Vale do Silício, o Medical Valey vão te buscar para ajudar a inovar, enquanto que no Brasil o acesso é sempre difícil. ”
Baumer diagnosticou que ainda falta comunicação entre todos os envolvidos, pois existem promessas de leis, decretos e incentivos; existem parques tecnológicos e existe uma enorme capacidade de empreendedores que não conseguem interagir facilmente. “Tivemos aqui concentrados, além dos pesquisadores e das empresas que tem sede de inovar, todas as entidades que, de uma maneira ou outra, estão apresentando as suas soluções e apoios para as empresas poderem inovar”, disse em seu discurso. “O que precisamos é conseguir fazer com que essa união ultrapasse os dois dias de congresso e é para isso que a ABIMO vai trabalhar. ”
Confira a cobertura completa do evento: http://cimes.org.br/