A resolução do Conselho Federal de Medicina de 2011, que regula a publicidade médica, impede o médico brasileiro de prestar qualquer atendimento aos seus pacientes que não seja por meio presencial, ou seja, é vetado ao médico prestar consultoria ao paciente ou aos seus familiares por vídeo, mensagem de texto ou telefone. Essa resolução pode estar deixando o Brasil para trás no que diz respeito a evolução da medicina.
Na semana passada aconteceu em Los Angeles o encontro anual de Telemedicina. O nível da conversa aqui nos EUA é outro. Hoje 49 dos 50 estados americanos permitem atendimento médico através de vídeo conferência ou outros meios digitais. O que se discute no momento é como remunerar os médicos por esses serviços e garantir a privacidade e segurança no que tange as informações dos pacientes. Hoje 24 estados americanos já tem política definida para que os planos de saúde (públicos e privados) possam reembolsar os médicos por atendimentos feitos online.
Todos nós fomos ensinados como médicos a tocar o paciente, examinar, olhar e ouvir. Então é normal que a ideia de separar a presença física da consulta médica seja algo polêmico e até certo ponto assustador. Mas a gente precisa ter em mente que a telemedicina não substitui a prática tradicional da medicina, ela é apenas mais uma ferramenta para entregar cuidados de saúde. Uma ferramenta que tem demonstrado ótimos resultados tanto em termos de sucesso no tratamento quanto em satisfação dos usuários.
A questão que se coloca é: será que um médico ao avaliar um paciente por no máximo 15 minutos, entre outros 60 pacientes que ele vê no mesmo dia em um plantão está mais bem munido de informações e ferramentas para fazer um diagnóstico correto e propor o tratamento adequado do que um médico que usa a tecnologia para ouvir e ver esse paciente à distância? Isso sem levar em conta o desgaste e riscos inerentes as horas de espera que fazem parte de qualquer visita ao setor de pronto atendimento.
Na prática, a telemedicina nunca irá substituir a consulta presencial, o que ela oferece é uma maneira complementar, conveniente e custo-efetiva quando as circunstâncias ou a distância impossibilita uma consulta presencial.
O sistema de atendimento à saúde nos Estados Unidos tem mudado de um modelo de pagamento por serviço (consulta ou procedimento) para um modelo em que a remuneração é baseada no resultado, ou seja, no grau de saúde geral da população. Com isso, há um incentivo muito maior para medidas de saúde preventiva. Atender e educar os pacientes através das ferramentas digitais fazem muito sentido nesse novo modelo.
No final das contas precisamos pensar por que praticamos medicina? Para mim praticamos usando nosso conhecimento e a nossa técnica sempre com o objetivo de oferecer a melhor alternativa de cuidado ao paciente. Por isso é hora de fazermos o melhor para os nossos pacientes derrubando os nossos preconceitos e medos que envolvem a telemedicina.