Um médico na Itália faz uma cirurgia de próstata no paciente que está em um hospital de Pequim. A mais de 8 mil quilômetros de distância, o cirurgião remove com precisão o tecido tumoral da próstata do paciente, usando braços robóticos controlados por um console cujos comandos são enviados em tempo real através da internet. O procedimento é um sucesso e o paciente se recupera bem.
Eu estava em Roma assistindo de perto à telecirurgia feita pelo chinês Zhang Xu. A cena que vi dias atrás, em junho, na conferência anual Challenges in Laparoscopy and Robotics & AI só foi possível, porque a rede de telecomunicações 5G da China disponibiliza a velocidade necessária para a telecirurgia. A latência (o tempo entre comando e resposta) é segura o suficiente para guiar os movimentos milimétricos das pinças.
Nos países desenvolvidos não se discute mais se a cirurgia robótica é a melhor via de acesso para os procedimentos que exigem alto grau de exatidão, como no caso dos tumores de próstata. Isso já está bem estabelecido. Quando medicina e tecnologia caminham de mãos dadas, os resultados são incrivelmente melhores.
O que se vislumbra é como a telecirurgia vai revolucionar a medicina, aproximando médico e paciente como nunca se viu antes. Será possível, por exemplo, implantar centrais à distância para realizar cirurgias de urgência e expandir cuidados médicos para regiões de difícil acesso. Para o paciente, as vantagens são inúmeras. Imagine você ter acesso a um cirurgião de referência sem sair da sua cidade e aproveitar o pós-operatório no seu ambiente familiar. Para o cirurgião, descortinam-se novas e promissoras fronteiras de atendimento aos pacientes.
Agora se inicia uma corrida pela liderança nessa frente promissora que é a telecirurgia. A China desponta nas pesquisas e em breve começará a ganhar com patentes para aplicações médicas. O que se espera é que a telecirurgia seja vista como ela é: um avanço tecnológico capaz de salvar vidas e cuidar do bem-estar das pessoas. Anseio que os investimentos em infraestrutura no Brasil permitam estender os benefícios da tecnologia ao maior número de pacientes no menor prazo possível.
*Sérgio Augusto Skrobot é médico urologista, especializado em cirurgia oncológica, cirurgia robótica e minimamente invasiva, pela Orsi Academy e no OLV Hospital, ambos com sede na Bélgica, referências mundiais de conhecimento na área.