Embora o conceito da cloud computing e das vantagens que ela pode oferecer já sejam bem compreendidos pelas instituições na área da saúde brasileira que atendem pacientes, ainda existem muitos obstáculos para que a cloud seja uma realidade na maior parte delas. Nos hospitais, por exemplo, dos 7.200 existentes no Brasil, mais de 30% ainda não tem um sistema informatizado para gerenciar as informações do paciente, de acordo com Vitor Ferreira, presidente da Associação Brasileira CIO Saúde (ABCIS).
Desafios da cloud computing na área da saúde no Brasil
Cloud computing é uma tecnologia que aproveita a internet de alta velocidade e a ampla disponibilidade para abrigar diversos recursos, aplicativos e dados, possibilitando aos usuários acessá-los de qualquer dispositivo, como computadores, tablets ou smartphones.
Existem vários tipos de desafios que ainda precisam ser superados para que esta ferramenta seja uma realidade em todas as instituições do setor de saúde brasileiro, explica Vitor. “São desafios estruturais, de governança, de segurança e de conectividade em um país continental bastante esparramado, com diferenças regionais que podem ser bem significativas”.
“O primeiro passo seria estabelecer uma infraestrutura básica padrão para que todos pudessem trabalhar projetos em cloud”. Mas ele chama a atenção para outras questões que também precisam ser levadas em conta. Especialmente quatro aspectos, que são os seguintes:
- Legado de informações existentes
Ao se comparar os desafios de projetos de cloud em uma instituição mais antiga com os de uma instituição nova, um dos grandes obstáculos e diferenças que se tem é o legado de informações, diz Vitor.
“Uma instituição que já funcionou com outros sistemas on-premise - ou seja, nos quais os dados e os processos são armazenados e gerenciados na própria organização -, ou que tem um grande legado de informações em papel, certamente vai ter mais dificuldade em estabelecer um projeto para cloud computing”.
Para as instituições que estão começando, como um hospital que esteja abrindo agora, esse peso é bem menor, avalia Vitor. “É muito mais fácil já nascer totalmente na nuvem ao invés de ficar pensando nas várias etapas necessárias para ter a informação já existente disponível em cloud, como o processo de organização delas e a assertividade do banco de dados”.
- Governança tecnológica
Vitor alerta que um projeto de virada para nuvem traz consigo a importância aumentada de uma governança tecnológica bem estabelecida, onde as responsabilidades estejam plenamente atribuídas.
“É necessário que os desdobramentos para cada para cada situação imaginável já estejam definidos e a instituição esteja protegida por uma política de de privacidade e de responsabilidade de dados ampla. Quando se fala na implantação de um projeto de cloud computing, todas as partes envolvidas têm que estar plenamente cientes das suas responsabilidades”.
- Configuração da cloud
É importante que a nuvem seja trabalhada especificamente para cada situação, ressalta Vitor. “Porque se uma cloud for mal configurada, ela realmente pode custar mais caro do que qualquer sistema on-premise.
“Então, há que se ter atenção para uma configuração correta e uma visão ampla de como os workloads - ou seja, a carga de trabalho e a quantidade de processamento que o sistema recebe em um determinado momento - devem funcionar”.
- Tempo de resposta da computação na nuvem
Outro ponto crítico é que muitos sistemas de saúde precisam de resposta em tempo real, enquanto o paciente está sendo atendido pelo médico, como acontece em situações dentro dos hospitais, diz Vitor. “Essa é uma das coisas que precisam ser resolvidas para ser possível uma adoção maciça à nuvem".
“Onde o tempo de resposta não é tão dramático, a cloud já é uma excelente opção, principalmente pela escalabilidade e pela segurança que oferece. Mas, para uma instituição hospitalar virar totalmente cloud, ainda é preciso enfrentar a questão da velocidade de resposta para diversas situações dentro desse tipo de ambiente”.
Além desses desafios, com certeza, existem outros de variadas fontes, pondera Vitor. “Desde projetos políticos que devem considerar, de forma séria e no longo prazo, o desenvolvimento da tecnologia brasileira a projetos que possam ajudar os hospitais a financiar essa migração para um ambiente que não é barato, o desenvolvimento de profissionais capacitados para poder fazer a gestão desses sistemas na nuvem etc.”
“Mas, mesmo com todos esses aspectos a desenvolver, nós temos uma velocidade acelerada de adoção de projetos na nuvem”, ressalta.
Proteção de dados e segurança do setor de saúde na cloud computing
Hoje em dia, principalmente quando se trata de nuvem oferecida pelas big techs, como Google, Microsoft e Amazon, diz Vitor, “estamos falando de clouds que atendem completamente às legislações mais rigorosas de privacidade e segurança de dados”.
Especificamente em relação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) brasileira, ele considera que a computação na nuvem oferece, inclusive, um ambiente mais propício para que ela seja cumprida.
Integridade dos dados - por serem ambientes completamente atualizados o tempo inteiro, explica Vitor, “são favoráveis para que os dados estejam íntegros e para que se tenha uma facilidade maior em situações como recuperação de desastres ou mesmo no backup dos dados. A nuvem é um ambiente propício para isso”.
Cibersegurança – “é muito mais fácil a instituição contratar hoje um serviço de nuvem que esteja constantemente atualizado com os drivers mais novos e bem protegido de invasões e de malwares ou ransomwares do que para quem tem uma instalação no on-premise. Então, a cibersegurança é um dos principais ativos que pesam a favor de uma migração para a nuvem. Se existe o aspecto do legado como uma das grandes dificuldades, com certeza, cibersegurança é um dos grandes ativos para quem pensa em um projeto na nuvem”, diz Vitor.
Escalabilidade da computação na nuvem na área da saúde
Segundo Vitor, há vários benefícios em projetos na nuvem para instituições no setor de saúde no Brasil. Porém, “o principal deles é a capacidade de escalar rapidamente, quando for necessário, de ser possível aumentar o tamanho até a necessidade que a demanda pede”.
“Isso vale tanto para os processos administrativos e financeiros quanto para processos de gestão direta do paciente. Por exemplo, a verificação e auditoria de informações, protocolos clínicos e apoio à decisão médica”.
Computação na nuvem e o futuro das instituições do setor de saúde
Vitor considera que a cloud é um caminho sem volta para as instituições do setor de saúde por tudo o que ela oferece. “Pela questão custo-benefício, pela possibilidade de manter o ambiente plenamente atualizado, pela possibilidade de escalabilidade”.
“Até pelo número de ferramentas que vêm sendo desenvolvidas especificamente para funcionar em nuvem e a quantidade imensa de sistemas que são oferecidos hoje como serviço. Enfim, são vários itens que convergem para que a cloud seja um ambiente prioritário para o desenvolvimento do setor de saúde brasileiro”.
Mas, para isso, é preciso ter uma gestão adequada das pessoas, uma documentação robusta e bem distribuída dos processos e o uso aplicado e inteligente das tecnologias disponíveis. São exatamente os pontos avaliados pela Certificação INMAT, que foi desenvolvida pela ABCIS e oferecida gratuitamente para as instituições de saúde, conta Vitor.
“Acreditamos que quando esse tripé está bem equilibrado, a gente tem o ambiente propício para o surgimento de projetos robustos, de grandes projetos de transformação digital”, conclui.