Leitos inteligentes, salas de cirurgias conectadas e wearables, como relógios e celulares, coletando preciosos dados clínicos em tempo real já são realidade entre as inúmeras possibilidades da Internet das Coisas Médicas (IoTM). E o avanço desse tipo de tecnologia continua em ritmo acelerado. De acordo com uma pesquisa do Gartner, apesar da crise econômica e dos impactos gerados pela pandemia da Covid-19, 47% das organizações planejam aumentar seus investimentos em projetos de implementação de Internet das Coisas (IoT) na Saúde.
Um dos principais usos atualmente é em aplicativos e dispositivos vestíveis que monitoram sinais vitais, acompanham a prática de atividades físicas, controlam a dieta, entre várias outras funcionalidades, sendo que todos têm em comum a coleta de dados sensíveis. “Os aplicativos de monitoramento da Saúde hoje permitem que eu entregue ao meu médico um filme do meu estado atual, e não mais apenas uma foto, para o diagnóstico. Digo isso porque os dados coletados pela IoT reúnem várias horas ou até vários dias de informações vitais à minha própria Saúde”, compara Wagner Sanchez, pró-Reitor do Centro Universitário FIAP e coordenador acadêmico do MBA em Health Tech.
E é aí que mora o perigo. Com a popularização do uso da IoT na Saúde, é fundamental que fabricantes e usuários estejam atentos à segurança da informação, pois o vazamento desses dados sensíveis eleva a possibilidade de sequestros e/ou extorsões digitais. “A segurança dos dados da Saúde sempre me preocupou como um profissional de tecnologia porque sei o poder que pessoas mal intencionadas detêm ao se apropriar de dados médicos. E esses prejuízos podem englobar tanto questões financeiras quanto o aspecto psicológico do usuário exposto”, confirma Sanchez.
O poder computacional em relação à IoT na Saúde ainda deve evoluir muito nos próximos anos, como elenca o especialista: “A permanência das teleconsultas e as possibilidades de diagnósticos a distância darão ao tratamento mais agilidade e assertividade. E com a chegada do 5G, do uso da inteligência artificial e machine learning nos dispositivos vestíveis, dá até para pensar registros digitais de exames ao invés de compartilhamento de arquivos, entre outros benefícios.”
Também aumentará muito o número de aplicativos cujo propósito será o monitoramento da Saúde dos usuários para prevenir e retardar o aparecimento de doenças. “Tem muito espaço para crescimento e a criação de aplicativos de vários tipos. Só para o médico, por exemplo, temos dezenas de especialidades e algumas delas tem necessidades específicas que a tecnologia pode suprir. Cresce ainda o investimento na área de saúde populacional, principalmente ao tema da atenção primária”, diz Tiago Calado, líder de desenvolvimento de aplicativos na MV no episódio 1 do podcast Bastidores da Saúde "Mas pra quê tanto aplicativo", que você ouve aqui.
Cabe aos usuários e organizações de Saúde, portanto, começarem a se proteger de riscos iminentes dessa popularização da IoT, como o fato de a informação chegar nas mãos de pessoas erradas. “Esse risco é grande e precisa ser combatido. A IoT da Saúde é relativamente recente e existem inúmeros fabricantes atuando nesse mercado, mas eu percebo que a segurança está sendo deixada para uma segunda versão em detrimento da agilidade da solução”, reflete Sanchez.
A segurança não pode ficar em segundo plano e cabe aos fabricantes de IoT promover investimentos financeiros e de pesquisa para evitar que o prontuário médico de uma pessoa e outros dados sensíveis acabem na deep web. “Contra isso, o segredo está no investimento financeiro e em pesquisa e conhecimento para uma maior segurança da informação. Eu acredito que deixar de usar esses dispositivos não resolve o problema e ainda bloqueia o avanço de outras tecnologias que podem ser destravadas a partir da IoTM”, reflete Sanchez.
Ao usuário, portanto, cabe ter bastante atenção na hora de comprar dispositivos IoT e escolher produtos e serviços de fabricantes conhecidos que, provavelmente, estão investindo na manutenção da integridade dos dados coletados. “Essas empresas contratam profissionais capacitados para a proteção correta dos dados para estabelecer sistemas seguros e evitar que criminosos o invadam”, descreve o coordenador. Por fim, uma dica simples, porém ainda bastante preciosa, não se esqueça de colocar senhas em seus dispositivos.
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