É difícil prever quando teremos o total controle da pandemia, mas, depois de mais de um ano desde seu início, alguns cenários se fortaleceram na área da Saúde, como a utilização da telemedicina. Apesar aprovada em caráter emergencial no Brasil, a aposta é a de que ela veio para ficar.
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“A telemedicina no Brasil encontra-se em fase de consolidação, porém, com um amadurecimento rápido. As diretrizes de segurança digital e sigilo beneficiaram esse processo. A aceitação ocorreu na medida em que a necessidade aumentou e restou aos médicos e pacientes aderirem”, conta Fernando Arruda, médico especialista em Cardiologia e Clínica Médica, Gestão e Administração em Saúde e Mestre em Gestão da Clínica, coordenador do curso de Medicina na Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).
E não restam dúvidas sobre os benefícios do atendimento remoto. “Em países com dimensões continentais, como o Brasil, nunca vamos ter especialistas em todos os lugares. A telemedicina, portanto, é uma prática excelente para cobrir essa falta de profissionais em locais distantes e auxiliar médicos que precisam de uma segunda opinião, por exemplo”, conta Luiz Ary Messina, engenheiro eletrônico, mestre em banco de dados, doutor em computação gráfica e presidente da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTms).
Um olhar mais amplo
Uma pesquisa feita pela Associação Paulista de Medicina, em parceria com a Associação Médica Brasileira, revelou que, devido à pandemia, quase 50% dos médicos no Brasil estão atendendo seus pacientes de forma virtual, sendo que a maioria destes (51,7%) é autônoma. 42,9% dos profissionais atendem pacientes novos e antigos com casos não relacionados à Covid-19. Do ano passado para cá, aumentou o número de prescrições eletrônicas. Em abril de 2020, 15% dos médicos usavam. Hoje, são 26,9%.
A pesquisa ainda mostra que 89,2% dos médicos são favoráveis à regulamentação definitiva da telemedicina, muito embora apenas 18,1% deles tenham efetivamente se capacitado para o atendimento digital.
Em outras partes do mundo, a prática também vem exercendo papel fundamental. O relatório da pesquisa “2021 Global Medical Trends”, sobre tendências de custos médicos, realizada pela Willis Towers Watson, analisou o impacto do atendimento remoto no primeiro ano de pandemia. Feita com 287 seguradoras de 27 países, a pesquisa revelou, por exemplo, que 50% das seguradoras do mundo possuem o serviço de telemedicina em todos os seus planos, sendo mais comum nos países da Europa (60% das seguradoras). Em segundo lugar está a região do Oriente Médio e África (46%) e, em terceiro, a América Latina (46%). Na Ásia Pacífico, a telemedicina é oferecida em 31% em todos os planos e 36% em planos seletivos.
A clínica do futuro
"O objetivo da Telemedicina antes da pandemia era encontrar uma forma de conectar médicos e pacientes localizados em lugares remotos. Isso mudou, e hoje as funcionalidades vão muito além da comunicação a distância, envolvendo prontuário, prescrição, exames e consultas. O teleatendimento não apenas reduz o risco de exposição ao vírus, mas continua fazendo sentido mesmo fora desse contexto de pandemia, já que exclui variáveis como sala de espera, agenda lotada, atrasos e custos com o consultório físico", explica Jomar Nascimento, diretor geral e head de Tecnologia da ProDoctor.
Segundo Fernando Arruda, operacionalmente, o modelo de negócio das clínicas foi impactado pela telemedicina. "Há uma redução dos pacientes agendados e que ocupam as instalações, contrapondo-se ao maior número de agendas remotas com períodos mais curtos de consulta. Temos clareza que entraremos na fase do cuidado hibridizado (ora virtual, ora presencial), o que não permite às clínicas abrir mão de suas instalações e material humano”, avalia.
Este modelo híbrido, para Arruda, deverá ser o “novo normal”, com o processo assistencial em momentos remotos (rotinas/orientações/busca ativa) e momentos presenciais (primeira consulta/mudanças de quadro clínico /necessidade de complementação diagnóstica /urgência e emergência), de acordo com a demanda do paciente.
“A telemedicina parece ser um caminho sem volta, restando a necessidade de clarificar os limites de sua prática e responsabilidades dos envolvidos”, lembra. Novos protocolos também deverão existir para compreender melhor sobre quem é o paciente elegível para atendimento físico ou remoto, ou em que circunstâncias.
A estrutura tecnológica, assim como operações e processos envolvendo o cuidado, deverão passar por modificações importantes. “Devemos imaginar espaços distintos que vão se articulando no cuidado, na medida em que as demandas do paciente vão sendo identificadas”, conta Fernando. A adaptação física, segundo ele, se dará otimizando os ambientes. Uma vez que a telemedicina não precisa ser realizada de dentro do consultório, isso representa um ganho de espaço em salas clínicas.
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