Pela primeira vez, o Saúde Business marcou presença no Hacktown, um dos principais festivais de inovação, negócios, tecnologia e criatividade da América Latina. Sediado em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais, o evento, este ano, ocorreu de 1º a 4 de agosto.
Como curadora de conteúdo, tive a oportunidade de moderar um painel, no último sábado, sobre a transformação digital a favor da experiência do paciente. Luís Pecci Neto, fundador da LAV e médico radiologista do HCor, e Fabio Napchan, fundador da Quality 24, falaram sobre como a tecnologia tem sido cada vez mais explorada na Saúde para gerar mais eficiência, diminuir custos e, principalmente, tornar a jornada do paciente mais fluida, amigável e personalizada frente à pior crise que o setor vive.
Inteligência artificial na radiologia e satisfação do paciente
Dentre as tecnologias mais efetivas na melhoria e personalização dos cuidados de saúde, Pecci destaca a inteligência artificial (IA) como principal fator transformador na radiologia. Para ele, a IA tem mudado drasticamente a experiência do paciente, especialmente com a introdução de relatórios radiológicos audiovisuais.
“Os relatórios que antes eram entregues em texto, agora são apresentados em vídeo, o que facilita a compreensão dos diagnósticos pelos pacientes”, explica.
O radiologista também ressalta o impacto da IA generativa no atendimento médico. Aplicativos que utilizam IA permitem que médicos mantenham atenção plena nos pacientes, enquanto a transcrição e análise das consultas são realizadas em segundo plano. “Isso não só melhora a qualidade do atendimento, mas também aumenta a satisfação do paciente, que se sente mais ouvido e compreendido”, enfatiza. A abordagem humaniza e personaliza a entrega de diagnósticos, gera feedback positivo tanto de médicos quanto de pacientes, além de melhorar a experiência e diminuir a ansiedade da pessoa.
Eficiência operacional e experiência do paciente
Fabio Napchan traz um olhar sobre o impacto da digitalização das operações hospitalares não assistenciais está diretamente ligada à satisfação do paciente. Napchan evidencia a importância de monitorar e mensurar a experiência do paciente em tempo real, utilizando o Net Promoter Score (NPS), por exemplo.
"Ao digitalizar operações, como o tempo de espera e a clareza das informações, conseguimos reduzir significativamente os custos operacionais e aumentar a receita dos hospitais", afirma.
Ele pontua que a maioria das reclamações dos pacientes estão ligadas a questões operacionais, e não necessariamente ao cuidado médico direto. “A digitalização dessas áreas permite que as equipes hospitalares se concentrem em melhorar a experiência como um todo”, explica.
Desafios para uma melhor experiência
O paciente não é preparado para cuidar da saúde, muito menos para lidar com “novidades” como telemedicina, prontuário eletrônico, aplicativos. A falta de letramento em saúde no Brasil é um fator que compromete a jornada do paciente.
Pesquisa realizada pelo The Economist revela que apenas 18% da população brasileira tem conhecimento adequado sobre sua própria saúde. Enquanto na Austrália, os níveis de letramento em saúde são significativamente mais altos.
Pecci argumentou que a educação em saúde pode reduzir custos para o sistema de saúde por meio da prevenção de doenças e a diminuição da ansiedade dos pacientes. Para isso, ele enfatizou a necessidade de campanhas educacionais, workshops e uso de redes sociais para promover a saúde e disseminar conhecimento.
Para potencializar essa transformação digital, Pecci abordou como a tecnologia pode ser uma aliada na educação e engajamento dos pacientes. Ele destacou o uso de wearables e aplicativos que ajudam a monitorar a saúde de maneira mais eficaz, fornecendo dados visuais que facilitam a compreensão e a ação sobre suas condições de saúde. Essas tecnologias permitem que os pacientes vejam correlações diretas entre seus hábitos e seus impactos na saúde, promovendo maior conscientização e mudança de comportamento.
Resistência a tecnologias
A implementação de novas tecnologias envolve muitas barreiras. Napchan discutiu as dificuldades enfrentadas por hospitais, muitos dos quais ainda não possuem processos digitalizados. Isso dificulta a obtenção de dados precisos sobre o tempo de atendimento e outros indicadores importantes.
Também mencionou que a resistência dos colaboradores é comum, especialmente porque novos sistemas podem expor ineficiências e exigir mudanças significativas nas operações.
Para as dificuldades inerentes ao processo, tanto Pecci quanto Napchan enfatizaram a importância do apoio das lideranças em implementações. Sem esse suporte, as mudanças necessárias para melhorar a operação hospitalar e a experiência do paciente são difíceis de alcançar. Pecci ressaltou que a combinação de tecnologia com um atendimento humanizado é fundamental para garantir uma boa experiência ao paciente, desde a recepção até o atendimento médico.