Conversamos com Leandro Caldeira, CEO, e Priscila Siqueira, VP de Vendas do Gympass, sobre o processo de internacionalização e outras estratégias que a empresa adotou
O Gympass foi fundado em 2012 como uma plataforma que vendia passes diários de academia diretamente para o consumidor final. Com este formato, a empresa enfrentou problemas com o custo de aquisição alto e um grande esforço de marketing para pouco volume de usuários.
A estratégia foi então pivotada em 2013 para atender empresas ao perceberem que as soluções oferecidas nem sempre eram boas ou atendiam todos os colaboradores. No modelo atual, B2B, o ecossistema possui três elementos: a empresa, os funcionários e a academia. O uso é ilimitado por mês, portanto mais flexível, versátil e serve à toda pirâmide das empresas em diversas cidades.
Em 2015, as próprias empresas clientes no Brasil solicitavam ao Gympass expansão para outros países em que também tinham operação. No mesmo ano, o México foi escolhido como primeiro país para a internacionalização. A partir de então, começaram a expansão pela Europa em 2016 e para os EUA em 2017.
“Sempre vai ter uma empresa querendo um colaborador mais ativo, uma pessoa querendo fazer atividade física sem ter uma solução boa e uma academia que está em busca de mais volume”, segundo Leandro. A lógica da expansão seguiu um misto de oportunidade em um mercado sem um player dominante e a demanda dos clientes solicitando atendimento em locais específicos.
Claro que algumas adaptações foram necessárias. No Brasil, a saúde privada é majoritariamente paga pelos empregadores. A atividade física entra, portanto, como uma forma de prevenção que ajuda a diminuir o sinistro, em um contexto de inflação médica altíssima. Em outros países, se o custo da saúde não é pago diretamente pelo empregador, o apelo de venda precisa se ajustar.
Do lado dos usuários também existe diferença. “Enquanto nos EUA a penetração de atividade física já é bem grande, 18 a 20% da população tem matrícula em academia, no Brasil é 5%. Aí quando vai para o México é 3%”, afirma Leandro. Sendo assim, os estímulos precisam ser adequados para cada população.
Outra distinção ainda se dá em como fazer a entrada na academia. Na Alemanha, por exemplo, a maioria das academias não tem recepção, enquanto na América Latina tem uma pessoa na porta e um sistema antifraude.
Uso de inteligência artificial e machine learning
Em 2019, o Gympass adquiriu a Flaner, empresa portuguesa de IA e ML. Seu fundador é hoje o Head de Tecnologia do Gympass. O tema engajamento foi um motivador e é um grande tópico, mas os objetivos com a aquisição vão além disso.
Toda a jornada de compra e comunicação com as empresas tende a ser melhorada com o uso destas tecnologias. Depois que ela vira cliente, existe, é claro, o desafio de fazer todos os colaboradores conhecerem o Gympass e aumentar a adesão. “Com base na sua jornada no nosso aplicativo, eu consigo te impactar de maneira mais relevante”, explica Leandro.
Além disso, as soluções de chatbot para atendimento mais rápido são importantes “se não, conforme cresce base, cresce o número de atendentes no call center e no final vira uma empresa de call center e não de tecnologia”.
Os benefícios para as empresas
Alguns índices conseguem mostrar melhor o valor do Gympass para as empresas. As taxas de absenteísmo, sinistro dos planos de saúde, pedidos de demissão voluntários e até engajamento tendem a ser menores com a promoção de atividade física pelo empregador.
Algumas empresas acompanham melhor estes indicadores que outras. De acordo com Leandro, algumas já conseguiram reduzir em 30% os custos de saúde e até 50% nos pedidos de demissão voluntária e no absenteísmo. “São ganhos que no final justificam um investimento no programa”, afirma.
Para Priscila Siqueira, VP de vendas, o maior benefício é que com o Gympass consegue-se atingir todos os colaboradores, diferente de programas que normalmente são criados para determinados grupos de funcionários com certas características, como fumante, diabético, etc.
Integração com outros players no modelo de ACO
No projeto liderado pela Fundação Assistencial dos Servidores do Ministério da Fazenda (ASSEFAZ) de Accountable Care Organization (ACO), o Gympass entrou como player responsável pela prevenção em saúde dos funcionários. Foi iniciado com 8 mil vidas e atualmente já conta com 80 mil.
É um projeto em expansão e com várias fases. Hoje não há uma integração dos outros players diretamente com o Gympass, segundo Leandro. “A ideia é conforme for dando certo, será mais integrado e conectado”, afirma.