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Da coleta de dados à gestão estratégica em saúde

A Outcome Based Healthcare (OBH) é uma organização privada inglesa de propósito social com o compromisso de apoiar os sistemas de saúde na transformação e desenvolvimento de modelos de cuidados sustentáveis, desenvolvendo ferramentas que auxiliam a compreensão das populações atendidas e suas necessidades. Juliana Bersani, co-fundadora e COO da OBH, esteve no Brasil para o CONAHP e falou sobre os desafios para coleta de dados e sua utilização na gestão estratégica das instituições.

Juliana conta que os serviços de consultoria sustentam os produtos oferecidos pela OBH, que são uma plataforma de desfechos, uma biblioteca online e um segmentador populacional. O tipo de consultoria vai diferir de acordo com a maturidade do cliente, podendo variar da criação de um modelo de segmentação populacional a estudos populacionais para determinar quais serão os desfechos medidos.

“O modelo de segmentação que usamos é um modelo clínico. É baseado em codificação clínica, como CID-10 e outros. Depois da alocação das pessoas em grupos, começamos a olhar os determinantes sociais”, explica Juliana. De acordo com a OBH, a expectativa de vida pode ter uma diferença de até 19 anos entre grupos de pessoas dependendo das condições de moradia no Reino Unido, por exemplo. Entender os determinantes sociais é extremamente importante para que o trabalho da saúde fique integrado com as políticas públicas sociais.

Todo movimento entre os segmentos da população é estudado, como por exemplo o de pessoas com doença crônica indo para fases finais de vida, entrando em cuidados paliativos e consequentemente morrendo. O healthspan™ é outro indicador estudado pela OBH para entender o que faz com que pessoas saudáveis deixem de ser saudáveis. “O mais importante para o governo é o healthspan™, pois eles têm que se focar em manter as pessoas saudáveis pelo maior número de anos possíveis diminuindo a utilização de recursos [em saúde]”, complementa Juliana. Hoje o NHS é o principal cliente da OBH.

No Reino Unido a coleta de dados da população saudável só é possível graças a um sistema de atenção primária muito forte que atua como um gatekeeper para acessar outras áreas do sistema de saúde. Isso quer dizer que, se você nasceu ou reside no Reino Unido você obrigatoriamente é registrado com um general practitioner (GP), o equivalente a um médico de família. Desta forma, há dados suficientes para estudar tanto a população saudável como a doente.

Juliana conta sobre a reforma dos sistemas de saúde dos últimos anos no Reino Unido que culminou na criação de Integrated Care Systems (ICS), equivalente às Accountable Care Organizations (ACO) americanas, e acredita que sem um sistema integrado de dados, não é possível medição de valor em saúde. “Aqui no Brasil temos um foco muito grande no provedor, especialmente nos provedores de atenção terciária, os hospitais, e não temos a visibilidade do que acontece com um paciente do momento de seu nascimento ao momento de sua morte, como no Reino Unido”, enfatiza a COO.

Para o Brasil, Juliana considera que o foco na atenção primária e na prevenção são primordiais. Em seguida, fala sobre a cultura para preenchimento de dados em prontuário, que precisa ser reforçada entre os profissionais de saúde como algo mandatório. Ainda, defende a utilização de um código único para identificação do paciente, como por exemplo o CPF, o que seria essencial para obtenção de dados fidedignos.

Para finalizar, a COO reforça o cuidado necessário com empresas estrangeiras que trazem metodologias e produtos prontos para serem implementados no país. De acordo com Juliana, não é adequado que algo seja concretizado sem compreender e estudar o cenário atual do país, seja sua infraestrutura ou sua cultura.