A transformação digital chegou para ficar, queiramos ou não. E, em tempos de pandemia, a tecnologia é o que vem garantindo o funcionamento do mundo como um todo. Na área da Saúde, mais ainda. Graças a serviços como telemedicina, aplicativos para acompanhamento de dados e comunicação, envio digital de receitas e exames, por exemplo, a relação médico-paciente ganhou uma nova cara: mais agilidade e conforto, menos deslocamentos e risco de contágio na sala de espera.
O passo a passo da telemedicina em tempos de coronavírus
Mas, assim como acontece com qualquer mudança, é preciso que a mentalidade também se renove. E é aí que mora o desafio. A evolução tecnológica, que vem acontecendo de forma acelerada por conta das necessidades, pegou médicos, gestores de instituições de saúde e pacientes de surpresa. E a adaptação de muitos não ocorreu na mesma velocidade. Resultado: ainda há muita resistência às novidades.
“Além de termos uma questão cultural, com médicos habituados a terem outras pessoas assumindo tarefas administrativas, enquanto se dedicam exclusivamente ao atendimento ao paciente, há o temor de sobrecarga ou a percepção de que esses recursos não trazem benefícios ao seu dia a dia ou ao paciente”, explica Cylene Souza, mestre em Ciência, Tecnologia e Sociedade pela Universidade de Viena, jornalista especializada em saúde e cofundadora da agência Lighthouse.
Para ela, o engajamento de profissionais de saúde só será maior quando os benefícios da evolução da tecnologia forem mais claros e a experiência do usuário for levada em conta.
Pacientes e suas dúvidas
A falta de intimidade com a tecnologia pode ser apontada como uma das barreiras na demora dos pacientes em aderir a novos recursos, sobretudo quando falamos em uma geração mais velha. Mas não é só isso. O temor de vazamento ou uso indevido de seus dados ainda é grande.
“As discussões sobre essa questão estão ganhando força, com iniciativas como a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) no Brasil e a GDPR (General Data Protection Regulation) na Europa. A percepção é que a relação com as empresas de tecnologia é assimétrica: elas controlam cada vez mais nossos dados e os limites da nossa privacidade e nem sempre sabemos como essas informações serão usadas ou o quão protegidos estamos”, conta Cylene.
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Comunicação é a base de tudo
O diálogo entre profissionais/instituições de saúde e seus pacientes é um dos caminhos que levam à mudança de mentalidade, tão necessária para a transformação digital. “Não basta apenas informar e divulgar tutoriais. Por exemplo: se o idoso é o público-alvo de uma tecnologia e tem dificuldades, essa tecnologia é que tem de se adaptar a ele. Veja o caso dos celulares para idosos, com números maiores e teclas para acesso rápido aos números de emergência. A tecnologia não pode ser disruptiva nessa faixa etária, ela tem que se integrar suavemente ao dia a dia do usuário. E, para saber como é essa rotina, as empresas precisam começar a ouvir o público e convidá-lo a participar ativamente do desenvolvimento dos produtos, em vez de somente imaginar seu perfil e suas necessidades”, lembra Cylene.
O mesmo raciocínio se aplica à gestão de organizações de saúde. “O treinamento é importante, mas o diálogo é mais. Não é só uma questão de explicar como funciona, mas, antes da contratação, entender como aquela tecnologia se encaixa no dia a dia da instituição. As pessoas estão interessadas em aprender e adotar tecnologias que melhorem suas vidas ou seus trabalhos, mas vão resistir se perceberem essas ferramentas como um fardo. Aí não há treinamento que resolva”, conta a especialista.
Caminho sem volta
Voltar ao modelo anterior de cuidado em saúde, centrado somente em instituições, não será uma opção para o futuro. Com a pandemia, usuários aprenderam que é possível fazer consultas e administrar os dados relacionados à sua saúde sem sair de casa. A jornada digital do paciente, ao que tudo indica, não será mais uma viagem fora da zona de conforto, mesmo aos mais resistentes. É questão de tempo.
“A tecnologia evolui e se espalha rapidamente e faz parte do nosso imaginário sociocultural. Nós adoramos gadgets e aplicativos e ligamos esses objetos às nossas ideias de conforto e progresso. Por isso, as barreiras não ficam de pé por muito tempo. Veja quantas pessoas agora têm oxímetros em casa por causa da pandemia, e quantas passaram a usar aplicativos para contar seus números de passos diários ou avaliar a qualidade de seu sono. É por isso que acredito na acomodação: nós nos adaptaremos um pouco, os objetos também serão adaptados para facilitar o uso e integrar-se melhor ao nosso dia a dia, e, no fim, ainda que em ritmo mais lento, o cuidado digital avançará”, finaliza Cylene.
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