Uma edição especial da publicação
MIT Technology Review sobre saúde
publicada neste mês lembra a lei de Moore que prevê que a cada dois anos o
custo da computação cai pela metade. Esta lei foi comprovada em vários itens,
como a velocidade dos processadores e a capacidade de armazenamento dos
dispositivos. Graças à lei de Moore, podemos ter certeza de que os gadgets de
amanhã serão melhores e mais baratos.
No caso da saúde, a tecnologia se
constitui num dos fatores que elevam os custos. Novos medicamentos, novos
equipamentos, dispositivos e exames somente aumentam os custos. Nos Estados
Unidos a saúde é responsável por um a cada dólar gasto no país e estas despesas
atingem 17,9% do PIB sendo o principal responsável pela estagnação da renda do
americano médio. Este fenômeno também tem sido observado no Brasil, com custos
crescentes afetando a renda das famílias e a competitividade das empresas.
De acordo com o MIT Technology
Review, o desafio é encontrar maneiras de a tecnologia deixar de ser um fator
de aumento de custos para algo que os reduza com a mesma efetividade. A
publicação destaca uma frase do economista Jonathan Skinner que atualmente isso
é tão raro quanto encontrar dentes em galinhas. Segundo este pesquisador, o
sistema de saúde não oferece nenhum incentivo para usar alternativas
custo-efetivas. Ele destaca que o
aumento da longevidade está relacionado a abordagens de baixo custo como o uso
de aspirina, medicamentos beta bloqueadores ou antibióticos, mas o aumento dos
custos está associado a tratamentos cujo benefícios são pequenos ou ainda sem
evidências científicas, como alguns procedimentos cirúrgicos, quimioterápicos e
o uso de alguns dispositivos lançados como inovações tecnológicas.
Para buscar ideias que reduzam
custos a publicação sugere que é necessário olhar fora da caixa. Como
exemplo, cita a iniciativa do cardiologista Eric Topol que está usando um
dispositivo para realizar eletrocardiogramas e que funciona ligado a um smartphone.
Segundo Topol, quanto mais a medicina for digital, novas idéias surgirão e
poderá ser aplicada a lei de Moore. Neste caso, precisamos estar abertos para
que os hospitais passem a usar a gestão da informação através do big data,
que os pacientes usem as redes sociais para terem maior controle sobre sua
saúde e os empreendedores lancem aplicativos matadores. Cita o caso de um
investidor do vale do Silício que prevê que os dispositivos digitais poderão
substituir até 80% do trabalho dos profissionais.
Apesar da tecnologia na saúde
estar sendo discutida há décadas, ainda hoje, a assistência à saúde é conduzida
principalmente pela experiência pessoal de cada profissional, a informação é
fragmentada e frequentemente observamos complicações decorrentes de interações
medicamentosas ou tratamento inadequado. Apesar dos hospitais adotarem
prontuários eletrônicos e os médicos possuírem computadores ligados à internet
em seus consultórios, o sistema de saúde ainda funciona como as lojas de varejo
antigas, com estabelecimentos desconectados, preços variados e desperdício nos
estoques. A publicação destaca que o caminho natural é se tornar digital e
integrado como uma Wallmart, produzindo naturalmente mais sinergia e custos
menores para os clientes. Nos Estados Unidos, uma lei federal criou o programa
HiTech que aloca bilhões de dólares para que os médicos, clínicas e hospitais
migrem definitivamente para a era digital.
No entanto, a publicação destaca
que todas estas iniciativas, como prontuários eletrônicos, gadgets em
celulares, modelos em internet, ainda não provaram ser efetivas na manutenção
da qualidade da assistência e efetivamente reduzir custos. Talvez isso ainda leve anos para ser
comprovado.
Este é um tema bastante relevante
está sendo inserido na agenda dos formadores de opinião em saúde no Brasil. Não
basta somente discutir a incorporação de uma nova tecnologia no país. É
importante incentivar que o dia-a-dia fique cada vez mais digital e com
consequente redução de custos para o sistema, para as empresas e para o país.