- Em 80% dos estudos, o resumo não mencionava complicações, apenas o benefício.
- Nenhum estudo continha análise de risco/benefício ou análise da validade externa.
- Em 40% dos trabalhos, o resultado referente ao desfecho primário foi negativo, mesmo assim concluíram que a terapia deveria ser utilizada na prática clínica.
Os periódicos científicos não escapam de questionamentos e críticas. Matéria da Folha de São Paulo de 2009 ilustrou como um artigo com aparência de real, mas inclusive sem sentido nenhum, passou por todo um crivo científico e acabou publicado em um periódico de acesso aberto. Informaram aos dois autores que seu manuscrito havia passado por "peer-review", processo pelo qual artigos científicos são avaliados por pareceristas independentes - justamente para evitar erros ou fraudes. Em seguida, cobraram deles US$ 800 de taxa de publicação. Acontece que tudo no trabalho era falso, a começar por seus autores, David Philips e Andrew Kent, pseudônimos do doutorando em comunicação científica Philip Davis, da Universidade Cornell (EUA), e de Kent Anderson, executivo do periódico de acesso fechado "New England Journal of Medicine".
Outra publicação interessante tratou dos comitês de ética em pesquisa neste complicado cenário, partindo da premissa que não conduzem bem o acompanhamento depois das aprovações iniciais (Pich et al., 2003). De 123 estudos aprovados por estes comitês e analisados, 31 não estavam de acordo com o protocolo original e 26 não foram publicados após 3 anos. Não à toa que organizações importantes como Cochrane e Centre for Evidence-based Medicine at the University of Oxford se juntaram na iniciativa The All Trials (www.alltrials.net), pedindo que o resultado de todos os trabalhos sejam reportados, incluindo (por mais óbvio que pareça) os negativos. Por tudo isto, a própria Medicina Baseada em Evidências vem sendo colocada em cheque (Every-Palmer e Howick, 2014).
Para refletir
Um dos autores acredita que treinamento em análise crítica da evidência pode ser uma barreira neste ponto, enquanto outro questiona a capacidade do profissional da ponta em lidar com um corpo de informação que se expande a cada segundo. Sugerimos que faça uma pausa aqui: qual sua opinião? Como aperfeiçoar o sistema para obter uma melhor produção inicial do conhecimento e sua disponibilização adequada na ponta? Independente de quantos são éticos e quantos são corruptos entre os médicos cientistas e geradores de conhecimento, a Academia Médica e o Governo têm feito o tema de casa?
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Conflitos entre a prática médica e o interesse das indústrias - Parte II/V
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O cérebro ético na Medicina (o eu ético - o outro não) e considerações finais - Parte V/V