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Custo Brasil é Muito Maior na Saúde

Os programas de governo não dão foco na eficiência dos serviços de saúde, que estão sufocados com o Custo Brasil, tanto no SUS quanto na Saúde Suplementar

Quando criticamos os programas de governo muita

gente fica horrorizada, demonizando os comentários como se estivéssemos contra

o partido A ou o partido B, e não se trata disso. O ‘pano de fundo’ das

críticas é a direção que todos adotam em crescer ainda mais uma máquina

ineficiente, criando novos serviços ineficientes ao invés de dotar o sistema de

saúde pública da eficiência necessária.

Isso vale também na saúde suplementar, que durante

muito tempo conseguiu sobreviver porque o sistema de remuneração é mais ‘generoso’

que o SUS, mas de alguns anos para cá começou a ficar ‘dolorido’ a ponto de agora

estar chegando aos níveis de ‘dor insuportável’ que começa a levar instituições

privadas de grande tradição à ‘insolvência’.

O que parece que as pessoas não entendem é que o ‘Custo

Brasil’ é muito maior na área da saúde do que nos demais ‘segmentos de negócios’.

Só de citar saúde como negócio já é suficiente para que os ‘puritanos de plantão’

se incomodem ... mas vamos lá !

Se analisarmos a média de custos dos hospitais

divulgadas por instituições de ilibada reputação no mercado de saúde veremos

que quase 50 % do custo hospitalar é devido à mão de obra. Classificado em

grandes grupos, o restante das despesas são 35 % de insumos, e 15 % para o

resto.

Ao hospital sobra 15 % para investir em tecnologia,

dar manutenção em uma das mais complexas estruturas físicas que uma empresa

pode ter, desenvolver processos, dotar os processos de qualidade, desenvolver

programas de educação continuada, ensino e pesquisa, etc.

E ao hospital cumpre gastar metade do que tem

disponível para pagar funcionários. Seria louvável se este custo com pessoal

fosse alocado para pagamento de profissionais assistenciais (médicos,

enfermagem, fisioterapia, odontologia, etc.) mas quem é do ramo sabe que isso

está longe de ser verdade. O ‘Custo Brasil’ faz com que os hospitais gastem

mais com pessoal de apoio e administrativo do que com aqueles que estão diretamente

alocados na assistência ao paciente.

Ou seja, em uma empresa onde a mão de obra direta é

‘o equipamento necessário’ para a produção, o custo com ela é menor do que o custo

com a mão de obra que existe independentemente do número de pacientes tratados

!!!

Isso existe raramente em uma indústria, por

exemplo. A indústria que manufatura seus produtos manualmente tem muito mais

funcionários na linha de produção do que os de apoio e administrativos.

Esta ‘sinuca’ em que os hospitais brasileiros foram

colocados é explicável pelo Custo Brasil da Saúde.

O sistema de remuneração da saúde suplementar é tão

insano que exige uma estrutura de auditoria de contas, especializada de cara.

Médicos, enfermagem e toda a gama de profissionais administrativos estão direta

ou indiretamente envolvidos:

  • Quando envolvidos diretamente, deixam de atuarnaquilo para que foram formados (atenção ao paciente) para atuar exclusivamenteem atividades de auditoria;
  • Quando não envolvidos diretamente, são convocados aatuar em atividades de apontamento e registro de consumos, desviando parte dasua carga de trabalho assistencial para tarefas relacionadas à formação e auditoriade contas hospitalares;

Quem eventualmente pode pensar que isso não ocorre

em hospitais públicos não tem ideia de que mesmo nos hospitais onde não existe

porta 2, o faturamento SUS está exigindo grande envolvimento dos profissionais

assistenciais, e quando isso não ocorre o hospital tem dificuldade para obter

receita, como no caso das Santas Casas que acabam requerendo cada vez mais

recursos, ao invés de realizar a receita devida da sua produção.

Uma infinidade de normas e práticas de mercado foram

incorporadas à atividade hospitalar, e exigem estruturas organizacionais especializadas

e caras, que não têm lastro de remuneração, ou seja, é um custo adicional que o

sistema de remuneração SUS ou Saúde Suplementar não paga. Não se discute aqui

se é necessário ou não (‘todo mundo’ sabe que são importantes), mas sim que não

existe diferencial de pagamento pelo atendimento se o hospital pratica ou não.

Alguns exemplos:

  • Programas de certificação em qualidade (ONA, JC,ISO, etc.). Se somar o custo da estrutura organizacional dedicada, mais asconsultorias e, principalmente, mais as horas de todas as áreas hospitalaresgastas nos programas, é um valor imenso. Mas se o hospital é certificado ounão, o preço pago pelos procedimentos pelo SUS ou pela Saúde Suplementar é omesmo;
  • Atividades de vigilância de infecção.Independentemente do índice de infecção hospitalar do hospital, o valor pago éo mesmo;
  • Controle de validade e rastreamento de insumos. Nãotemos notícia de nenhum hospital fechado pela falta de controle efetivo noBrasil, mas é sabido que nem todos fazem e alguns gastam muito para fazer – nosdois casos a remuneração é a mesma.

O que chamamos de Custo Brasil na Saúde pode ser

classificada em 4 grupos:

  • A tradicional carga de impostos que os produtostêm. Mesmo em hospitais que gozam de algum tipo de isenção por benemerência, amaior parte dos insumos já estão carregados de tributos nas operações anterioresà aquisição por parte do hospital. Nisso os hospitais são iguais às outrasempresas;
  • O tradicional custo com logística. É sabido que o transporteno Brasil, feito quase 100 % sobre rodas e não sobre trilhos, é caro. Quando secompara o gasto com insumos em países desenvolvidos com o que se gasta noBrasil costuma-se esquecer este fator, o que pode levar alguém inadvertidamentea afirmar que o Brasil está melhor estruturado na saúde porque gasta mais cominsumos hospitalares que os demais ... um grande erro a que análise feitas nasempresas dos outros segmentos de mercado estão igualmente expostas;
  • O custo a que o hospital se obriga pela constantepublicação de leis e normas que regulam o segmento para dotar os atendimentosde maior qualidade. Não existe outro segmento que tenha tantas novas regras deregulação do que a saúde, sem lastro de remuneração que compense os novosprocessos. Nos demais segmentos de mercado as ‘organizações patronais’ sãoatuantes e ajustam, de uma forma ou de outra, o sistema de remuneração paracompensar os novos custos. Em última instância acrescem o valor do produto aocliente, coisa que os hospitais não podem fazer em relação ao SUS, e nãoconseguem fazer em relação à saúde suplementar;
  • O custo a que se obriga devido ao sistema deremuneração. Operar um hospital no sistema SUS, ou na Saúde Suplementar, oupior, nos 2 sistemas ao mesmo tempo, é muito elevado. Não só o processo deauditoria como também os próprios processos comerciais, de formação de contase, principalmente, os próprios processos assistenciais. Os que acham que bastamudar o pagamento por produção para o plano operativo (ou ‘contratualização’)no SUS ainda não se depararam com a dificuldade que os hospitais que jámigraram estão tendo depois que a receita deixou de ser apurada pela produção epassou a ser discutida politicamente – sugiro que procurem estudar o que estáacontecendo com ‘os pobres dos hospitais que caíram nessa’. E na SaúdeSuplementar a ANS teima em produzir cada vez mais normas para aumentar o custodos hospitais – nos últimos meses você viu alguma ação que resulte em melhoriaou só ouviu falar da ANS em relação à TISS 3.0 ?

Então, voltando aos comentários sobre programas de

governo, quando escutamos algum candidato dizer que existem 100 hospitais e ele

vai inaugurar mais 100, só temos a lamentar porque sabemos que os 100 atuais

são ineficientes, e os próximos 100 que serão inaugurados, além de serem

igualmente ineficientes, vão dividir uma verba insuficiente tornando o sistema ‘ineficiente

ao quadrado’.

Por isso gostaríamos muito de ver programas de

governo que estivessem com foco em reduzir o Custo Brasil da Saúde, e dotar de

eficiência o que existe.