Recentemente, a ANS anunciou a inclusão de mais quatro medicamentos no rol de coberturas obrigatórias dos Planos de Saúde. Apesar da medida ser direcionada às operadoras e seguradoras de plano de saúde, certamente haverá impacto direto nas empresas e na gestão saúde dentro destas companhias. Do ponto de vista humano, a cobertura é fantástica; já do ponto de vista da saúde financeira das operadoras e destes impactos nos custos da manutenção do plano de saúde pelas empresas existe ainda uma grande discussão do efeito positivo desta medida.
Afinal, esta decisão é boa ou ruim? Tenho escutado essa pergunta com uma enorme frequência desde o anúncio da ANS, e a verdade é que considero um grande avanço do ponto de vista do cuidar das pessoas. A saúde está sempre em primeiro lugar e ter acesso a medicamentos, exames e qualquer tipo de recurso que assegure o direito do usuário do plano de saúde é essencial.
Mas, por outro, lado, as empresas não precisam ficar de braços cruzados apenas esperando o impacto desta medida no custo do plano de saúde de seus colaboradores, é preciso agir, ter processo de gestão para o bom uso do plano para que não haja nenhum tipo de equívoco, processos truncados ou desperdícios de qualquer ordem; tudo isso ajuda na saúde financeira, na previsibilidade de gastos, nos altos índices de sinistralidade e consequentemente nos abusos dos reajustes das apólices de seguro-saúde.
Para isso, é preciso fazer gestão, acompanhar indicadores de utilização, verificar dados, números, inteligência de dados com BI para enxergar a utilização do benefício dentro da companhia, fazendo seu uso de forma humana, correta, racional e justa para quem usa e para quem paga pelo benefício.
Existem, claro, várias especulações no mercado de que os planos de Saúde podem aumentar os preços, pois um dos medicamentos, o que é indicado para Atrofia Muscular Espinhal, por exemplo, é um dos tratamentos mais caros do mundo e, segundo as operadoras, não há como absorver o seu custo sem impactar no preço dos planos no mercado. Hoje existem aproximadamente 700 operadoras e, sem dúvida, boa parte delas sentirá muito o impacto do custo da compra destes medicamentos.
Ou seja, a decisão pode sim afetar diretamente quem contrata um plano de Saúde e, no caso das empresas que oferecem esse benefício para os seus funcionários, o aumento poderá ter um impacto significativo nas finanças da companhia. E perceba, não é de hoje, estes custos já eram altos antes da medida recém anunciada pela ANS. É sabido que gastos com o benefício saúde dos colaboradores são o segundo maior custo para as empresas, ficando atrás apenas da folha de pagamento.
Não existe neste momento a melhor equação para resolver o anúncio desta nova resolução, mas o mercado terá, de alguma forma, se adaptar, buscando medidas multidirecionais para não ter que sacrificar a saúde em prol da manutenção do mercado ou vice-versa; de não fazer do direito à saúde um vilão para a saúde financeira das empresas.
Até a implementação na prática da nova medida, as empresas precisam revisitar seus KPIs de gestão de saúde, implementado tecnologia, processos e ferramentas para equacionar ainda mais a utilização do benefício de forma a atender colaboradores e a si própria como negócio, trazendo tecnologia, previsibilidade de gastos, ajustes de rotas, programas de manutenção de saúde etc. Não há como escolher um lado, é preciso encontrar o meio para ligar os dois extremos, considerando e priorizando as pessoas e as empresas para que as mesmas consigam manter o benefício saúde para seus colaboradores, mas que se mantenham saudáveis e perenes do ponto de vista financeiro também. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas é possível percorrê-lo com sensibilidade e inteligência.
Karen de Boer é diretora operacional da Safe Care, empresa especializada na área de gestão de benefício saúde que oferece soluções completas de administração e consultoria em saúde.