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Hospitais de campanha e outras medidas no combate à COVID-19

Gonzalo Vecina Neto dá sua opinião sobre a situação

Governos de diversos municípios e estados pelo Brasil decidiram pela construção de hospitais de campanha como uma medida no combate à pandemia de COVID-19. Os hospitais de campanha surgiram na segunda guerra mundial, como apoio ao esforço dos combatentes. Podem apresentar diferentes aspectos em seus projetos e composições estruturais e organizacionais para atender às suas finalidades específicas nas atividades de saúde a que se destinam.

Em 21 de março, o governador do estado de São Paulo, João Doria, e o prefeito da capital, Bruno Covas, decretaram calamidade pública tanto para o estado como para a cidade. Desta forma, foi possível dispensação de licitação para aquisição de bens, serviços e insumos de saúde.

Como forma de desafogar hospitais e permitir que usem seus leitos para alta complexidade, a prefeitura de São Paulo iniciou a montagem de 2.000 leitos de baixa complexidade no estádio do Pacaembu e no Anhembi, além de 490 novos leitos de cuidados intensivos. A Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, como Organização Social, assumirá a administração de leitos no Pacaembu, que tem previsão de entrega em 27 de março.

Já foram anunciadas mais de 1.000 vagas para profissionais de saúde na capital para tempo determinado. Estas medidas contarão com investimentos de cerca de R$ 35 milhões da administração municipal.

Foto da montagem do hospital de campanha no estádio do Pacaembu (Edson Lopes Jr/ SECOM)

Opinião do especialista

Gonzalo Vecina Neto é médico e mestre em Administração de Saúde. Já atuou como Secretário Municipal da Saúde de São Paulo, Secretário Nacional da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde e Diretor Presidente da Anvisa. Foi superintendente do Hospital Sírio Libanês e hoje é presidente do Conselho do Instituto Horas da Vida.

Para Vecina, três medidas são necessárias para evitar o colapso do sistema de saúde brasileiro: suspensão de cirurgias eletivas – na medida em que isso seja possível, parcerias público-privadas – para disponibilizar maior número de leitos em prol da crise, e construção de leitos – como os hospitais de campanha.

O modelo de cooperação público-privada que o médico defende se baseia nos seguintes números: o total de leitos de UTI no país é de 55.101, destes 27.445 pertencem ao SUS. O sistema público conta, portanto, com 13,06 leitos de UTI/ 100 mil habitantes, considerando o total da população. Já a iniciativa privada, conta com 57,61 leitos/ 100 mil beneficiários (aproximadamente 48 milhões de brasileiros, considerando dados de dezembro de 2019 da ANS). Se todos os leitos de UTI do país fossem considerados dentro de um único pool durante a pandemia, teríamos 26 leitos/ 100 mil habitantes, ou seja, o dobro do número disponível hoje no SUS.

Vecina compara o número com os da Itália, país onde a pandemia colapsou o sistema de saúde - lá são 12 leitos de UTI/ 100 mil habitantes. “Isso vai exigir que os governantes acordem para a necessidade de criar essa situação excepcional. E aí, vai ter que ter regramento jurídico para permitir que isso aconteça, transferência de recursos para iniciativa privada. Eu acho essa providência complexa, mas necessária”, afirma.

O maior desafio para os hospitais de campanha, segundo Gonzalo, está na contratação de pessoal adequadamente preparado para assumir os leitos de alta complexidade. “A experiência italiana de utilizar não intensivistas para tocar leitos abertos assim de repente foi uma experiência muito ruim. Mas tem que tentar! Não tem muita saída, porque a rede vai ser insuficiente!”

O médico defende ainda o uso extensivo da telemedicina especialmente na situação atual – medida reconhecida pelo CFM em caráter de excepcionalidade no último dia 19. Finaliza se posicionando contra a medida de quarentena vertical proposta pelo presidente da república em pronunciamento na última terça-feira. “Temos que tomar muito cuidado para devolver vida à economia. O futuro do Brasil depende da existência de vidas. Nenhum país do mundo fez quarentena vertical. Se a quarentena vertical der certo, nós reativamos a economia. Se a quarentena vertical não der certo, nós vamos ter um monte de mortos no colo. Só que tem que ficar claro de quem será a responsabilidade por tomar essa decisão”.