Realizado no impecável complexo onde se encontra do Teatro Santander, o congresso da ABVCAP tratou de diversos temas da conjuntura política, econômica e financeira atual de modo compreensivo. Um dos assuntos tratados foi investimento em saúde, contando com Brenno Raiko, da Advent Internacional, Fernando Pereira, do Pátria Investimentos, Priscila Rodrigues, da Bozano Investimentos e Carlos Eduardo Guillaume, da Confrapar. Como moderador estava o Eduardo Paoliello, do escritório de advocacia Pinheiro Neto.
Foi um painel extremamente interessante com muitas perguntas boas. Foi comentado sobre a demanda crescente da população por serviços de qualidade na área da saúde. Fernando cita que ao redor de 3% do PIB é investimento da saúde do governo, o que corresponde a um pouco menos que a metade dos gastos na área de saúde como um todo. Este valor tem de ser utilizado por aproximadamente 75% da população que não tem acesso à saúde privado. Além disso, de acordo com Fernando, há uma defasagem importante na tabela SUS que pode acabar atraindo prestadores de serviço que atendem por quantidade em detrimento da qualidade. Ele também comentou sobre a forma de pagamento na saúde suplementar que pode ser perversa. A forma atual, pagamento por serviço, cria pressão entre as operadoras e as prestadoras de serviço, em que os pacientes ficam no meio tentando ser bem atendido.
Falando em tabela SUS, recentemente conversei com alguns Professores sobre a remuneração dela. É de fato desanimador e preocupante para muitos procedimentos, especialmente contabilizando os anos (e horas) necessários para se tornar um especialista e as horas necessárias para execução de alguns procedimentos. É pernicioso que o incentivo à quantidade em detrimento da qualidade possa preponderar.
Carlos Eduardo comentou, dentre outras coisas, da utilização de tecnologia na área da saúde. Em muitas circunstâncias, não é necessário uma tecnologia de ponta mas trabalhar na base da tecnologia, de acordo com ele. Carlos mencionou que uma plataforma integrada poderia mostrar facilmente quando e onde um especialista se encontra. Ele também mencionou a telemedicina e o acesso à saúde que muitas populações em área remotas poderiam ter com ela. Perguntei sobre saúde digital na Confrapar e atualmente existem 3 empresas investidas: NutreBem, ePrimeCare e HelpSaude.
Ao ser perguntado sobre para onde apostara, a Priscila falou das clínicas especializadas. É uma área que tem poucas consolidações e um espaço muito grande, de acordo com ela. Outro exemplo citado foi de hospitais de baixa complexidade. “Começa a ter nuances no setor que no Brasil é novidade”, comenta. Conversei com ela no final do painel, e Priscila comenta da presença crescente no setor de educação médica. Ela comentou que se formou uma holding de educação médica, em que se encontra a Medcel e algumas universidades médicas, e que quer atuar em diversas etapas da educação médica.
Foi um consenso entre os palestrantes que saúde é uma das áreas mais difíceis de internacionalizar. Brenno mencionou que em alguns setores como Pharma, em especial de alta complexidade, o caminho para ir a outros países é comum. Mas os panelistas foram unânimes em falar da dificuldade em escalar prestação de serviço médico para outros países. Foi perguntado ao Brenno sobre entrada de private equity em testes clínicos no Brasil. Brenno mencionou que recentemente foi realizado nos EUA um investimento em uma das maiores empresas de testes clínicos, e que no Brasil, o problema é o tamanho e a atratividade do setor. No entanto, ressalta que apesar de alguns falarem que a inovação em Pharma está acabando, esta afirmação não é verdade. De acordo com ele, medicamentos novos na saúde primária diminuíram, no entanto, medicamentos novos dentro especialidades estão aumentando, e muitos são lançados por empresas de nicho.
Pessoalmente, gostei muito do painel, das perguntas e de ouvir alguns investidores da área de saúde reunidos e falando sobre as perspectivas nesta área. O evento estava muito bem organizado e executado!