O Brasil é um país que gosta de tropicalizar ideias que vêm de fora (essa vocação natural já nos serviu – inclusive - para criarmos versões bastante inusitadas de fórmulas estabelecidas no resto do mundo).
Talvez isso agora também esteja acontecendo na nossa forma de enxergar as redes sociais - pelo menos na área de saúde, onde o engajamento de pacientes vem se tornando uma tendência grande e cada vez mais irreversível.
A matéria afinal não é tão nova assim. As redes sociais foram criadas nos anos 50, nos EUA, justamente para ajudar cientistas sociais a realizarem estudos de saúde populacional.
Da utilização de tabaco entre adolescentes até a atividade sexual prematura entre menores de idade, muitos comportamentos de risco em saúde passaram a ser compreendidos, naquela época, levando em consideração a estrutura da rede social da pessoa, suas representações visuais e um emergente pacote de fórmulas matemáticas (Jacob Moreno, um dos pais do psicodrama, foi o criador da sociometria, que hoje turbina algoritmos de empresas como LinkedIn e Facebook).
É fato: a área de saúde deu o primeiro empurrão para o nascimento da análise de redes sociais, mas apesar de toda essa proximidade entre berços, a simples relação entre redes sociais e saúde causou, durante um certo tempo, um ar de estranheza entre gestores de saúde.
Mas agora isso vem mudando, principalmente em empresas de saúde americanas. Ali as fronteiras entre o mundo digital e o universo de saúde continuam sendo diariamente questionadas (e nesse caso talvez ela nem exista de fato). É o que mostram cases como o da Mayo Clinic.
Um dos maiores centros de excelência em saúde dos EUA já criou sua própria rede social e vem obtendo importantes ganhos para si e para seus pacientes.
Através da Connect muitos grupos de pacientes têm encontrado um ambiente discreto e seguro para discutir à distância e com a moderação de profissionais da Clínica. Para a Mayo os dados produzidos em rede têm servido adicionalmente para que sejam realizados estudos que antes dependiam de um sem número de coincidências para acontecer.
Já a United decidiu seguir uma estratégia diferente: adquiriu a plataforma Audax visando oferecer para seus segurados um ambiente online onde possam se engajar no seu tratamento usando redes sociais com técnicas de gamification e conteúdo personalizado.
A Kaiser Permanente, por seu lado, demorou um pouquinho, mas vem seguindo o mesmo caminho atenta ao fato de que os tempos mudaram, os hábitos de engajamento passaram por uma drástica transformação e isso não irá diminuir daqui em diante. Pelo contrário.
Pode parecer uma estranha coincidência que – conforme falei nos meus últimos artigos – empresas como Google, Uber e Facebook estejam tendo seus nomes cada vez mais associados a um setor tão tradicionalista e ainda resistente às mudanças como o de Saúde.
Mas talvez, por esse mesmo motivo, não se trate apenas de uma mera coincidência e exista muita estratégia por trás desse novo estado de coisas.
Quem sobreviver verá.
Istvan Camargo é especialista em engajamento de pacientes. Foi membro do Comitê Científico da Health 2.0 Latam e residente digital do Centro de Mídias Sociais da Mayo Clinic / USA. Atuou como Chief Innovation Officer do Grupo Notredame Intermédica. Realizou palestras sobre o tema em conferências como Social Media Week, Campus Party e HIS. Em 2012 fundou a primeira rede social de saúde do país. Já realizou projetos para Laboratórios Farmacêuticos, PBMs, ABQV, Virada da Saúde SP, UNIFESP, dentre outros, engajando grupos de pacientes das mais diversas patologias.