Cada vez mais comuns, devido ao envelhecimento da população e aos atuais hábitos de vida, pacientes com múltiplas doenças crônicas ou multimorbidades não têm encontrado o padrão ouro na assistência. Frequentemente, aliás, acabam sofrendo com eventos adversos ou vendo seus indicadores de saúde piorarem, mesmo quando estão sob tratamento.
Pesquisadores do National Health Service (NHS), o serviço público de saúde do Reino Unido, Keith Moffat e Stewart Mercer, da Universidade de Glasgow, na Escócia, elencaram sete desafios para gerir as comorbidades:
1) Evidências e diretrizes: em geral, as doenças são vistas individualmente e esses pacientes são excluídos dos testes clínicos, o que impede o bom gerenciamento de sua saúde;
2) Polimedicação: com diferentes medicamentos para tratar todas as suas condições clínicas, os pacientes são frequentemente expostos a eventos adversos ou doenças e reações causadas pelos próprios medicamentos ou pelas interações medicamentosas;
3) Especialização: cada vez mais, estruturas e profissionais têm se superespecializado em diferentes ramos da Medicina, em detrimento da visão generalista e holística da Saúde, o que leva a cuidados fragmentados e descoordenados;
4) O fardo do tratamento: com cuidados fragmentados, os pacientes precisam se submeter a inúmeras consultas, exames e intervenções e consideram difícil a gestão de sua própria saúde, o que pode levar à baixa aderência ao tratamento;
5) Recursos: pacientes com comorbidades geram mais custos aos sistemas de saúde. As condições crônicas são frequentemente apontadas como uma ameaça à sustentabilidade financeira do setor;
6) Multimorbidades mentais e físicas: depressão e outros transtornos mentais são comuns nesses casos, o que dificulta também o autocuidado;
7) Continuidade do cuidado e consultas: portadores de múltiplas doenças precisam de mais tempo e dedicação de seus médicos, bem como cuidados continuados, ambos pouco incentivados pelos atuais modelos de pagamento e estrutura dos sistemas de saúde.
Três caminhos para uma gestão melhor
Assim como acontece no Reino Unido e em diversos outros países ao redor do mundo, no Canadá, o problema também está debaixo dos holofotes. No Fórum de Saúde promovido pela Universidade McMaster, os pesquisadores sugeriram três caminhos para melhorar a gestão dos pacientes com multimorbidades:
1) Mudar a forma como a assistência é organizada, tornando o paciente o foco do sistema, oferecendo cuidados coordenados, considerando a complexidade dos tratamentos farmacêuticos e os fatores de risco associados às doenças;
2) Estimular a interação entre médicos e pacientes para que, juntos, priorizem necessidades e tracem um plano de cuidado, o que passa por investimentos em ferramentas de suporte à decisão médica e materiais educativos e informativos para que o paciente possa refletir sobre as opções de tratamento e suas consequências.
3) Incentivar o autocuidado, educando o paciente e seus familiares, apostando em ferramentas tecnológicas, como o monitoramento à distância e a telemedicina, apoio em casa, para que o paciente não precise recorrer sempre ao hospital, e intervenções para que utilize apropriadamente seus medicamentos.
Com o avanço tecnológico, que torna o monitoramento de crônicos mais fácil e ágil; a mudança de comportamento, que traz aos estabelecimentos de saúde pacientes mais questionadores e interessados em sua própria saúde; e a pressão crescente dos custos, que empurra o setor para a busca de novos modelos assistenciais, o momento é propício para uma mudança focada em garantir mais qualidade de vida aos pacientes e menos custos ao setor.