Ao observarmos as campanhas publicitárias relacionadas ao Novembro Azul, observamos uma abordagem quase monotemática, o câncer de próstata. Este fato remete novamente à questão do rastreamento do câncer de próstata, ou seja, a realização da dosagem do PSA no sangue associado ou não ao toque retal em homens sem qualquer sintoma e aparentemente saudáveis. As diretrizes internacionais (canadense, europeia, americana) e nacionais, através do Instituto Nacional do Câncer (INCA) são claras. Não existem evidências de que o rastreamento para o câncer de próstata reduza a mortalidade por esta doença e, ao contrário, pode gerar sobrediagnóstico com aumento da ansiedade, efeitos colaterais e custos. Recentemente uma publicação constatou uma redução na realização da dosagem de PSA nos Estados Unidos em consequência destas Diretrizes. O INCA destaca que, com o advento da dosagem do PSA como instrumento de rastreamento, os custos com o câncer de próstata aumentaram de 3 a 10 vezes. Orienta, finalmente, que os pacientes que forem realizar o exame de rastreamento sejam informados por seus médicos sobre os riscos e benefícios associados a esta prática.
Curiosamente, estas campanhas não abordam a prevenção primária do câncer (inclusive de próstata). Já está comprovado que uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais, e com menos gordura, principalmente as de origem animal, ajuda a diminuir o risco de câncer. Nesse sentido, outros hábitos saudáveis também são recomendados, como fazer, no mínimo, 30 minutos diários de atividade física, manter o peso adequado à altura, diminuir o consumo de álcool e não fumar, orienta o INCA.
Naturalmente, a opção individual de realizar o exame de rastreamento deve ser respeitada pelos médicos e ele deve ser realizado em todas as pessoas que desejarem.
A questão está relacionada à abordagem dos diversos fatores relacionados à saúde do homem e não apenas estimular a realizar exames de rastreamento de câncer de próstata. Neste contexto, vale a pena conhecer a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem do Ministério da Saúde, que envolve cinco eixos prioritários: acesso e acolhimento; paternidade e cuidado; doenças prevalentes na população masculina; prevenção de violência e acidentes; e saúde sexual e reprodutiva.
Sabemos que a expectativa de vida dos homens é inferior à das mulheres em sete anos e meio, em média e as principais causas de mortalidade estão associadas às causas externas (violência, acidentes), muitas vezes associada ao uso abusivo do álcool e às doenças cardiovasculares (infarto, AVC e insuficiência cardíaca) associadas ao estilo de vida não saudável (inatividade física, alimentação inadequada e tabagismo).
Deste modo, um mês para discussão e sensibilização sobre saúde masculina deve envolver temas como o estilo de vida saudável, comportamento preventivo, uso abusivo do álcool, saúde sexual, paternidade responsável e como viver com mais qualidade e bem-estar. Enfim, o homem é muito mais que uma próstata.