O pagamento por performance é uma realidade experimentada por diversos segmentos profissionais. Com incentivos que consideram elementos que vão além de questões relacionadas à produtividade, profissionais têm sido motivados a desempenhar cada vez melhor suas atividades, resultando em benefícios para todos os envolvidos. E quando se trata dos profissionais de saúde, que lidam com uma série de questões regulatórias inerentes às suas atividades, é possível considerar o pagamento por performance?
Em todo o mundo, especialistas têm se debruçado sobre o tema para discutir os critérios que definem a remuneração médica e o modelo assistencial de saúde. No Brasil, embora ainda não haja consenso sobre um modelo a seguir, as discussões pautadas pelos desafios locais e as boas práticas internacionais avançam, como apresentado durante o 3º Simpósio de pagamento por performance realizado na última terça-feira (29/9).
Para André Medici, economista-sênior para Saúde, Banco Mundial, os desafios do modelo passam pela adoção de cultura de avaliação pelas instituições, sendo necessária a criação de métricas, pois ainda há muitas incertezas e poucas evidências. “Sabemos que os incentivos são fundamentais para mover as pessoas a realizarem determinados objetivos no seu trabalho. Agora, as métricas para que se possa dar a correspondente retribuição aos resultados que estão sendo mostrados nem sempre está disponível para comprovar se estes se associam ao uso de incentivos ou outros fatores”, disse Medici.
Ainda segundo o economista, falta de clareza quanto aos objetivos incentivados, falta de conhecimento das variáveis intervenientes do processo como um todo, dificuldade para definir e para mensurar os indicadores, falta de visão estratégica do processo e uma tradução adequada dos indicadores em incentivos estão entre os desafios para a prática do pagamento por performance em países em desenvolvimento.
Muito além do reconhecimento financeiro, para Leandro Tavares, da ANS, o pagamento por performance deve ser entendido como uma ferramenta valorosa. “É muito mais do que pagamento por algo objetivo. É uma ferramenta de gestão que deve ser utilizada com conhecimento de causa e não apenas em reformas pontuais. Aumento da qualidade, da eficiência assistencial e da capacidade de escolha do consumidor estão entre seus benefícios”, argumenta Tavares.
Atrelado a metas e métricas, como redução de custos e nível de satisfação do paciente, o pagamento por performance tem se mostrado eficiente nos Estados Unidos. De acordo com Maureen Lewis, professora visitante da Georgetown University, o modelo tem sido usado no setor público (parte do programa Obamacare) e também no privado em grupos pequenos, para uma boa mensuração. O enfoque tem sido no aumento de qualidade e na redução de custos. “Bonus por desempenho têm sido pagos e rankings publicados para que os pacientes e operadores conheçam os hospitais em que os pacientes saem mais satisfeitos”, diz Maureen.
Em meio a um sistema de saúde deficiente, não há dúvidas de que os debates em torno de incentivos e reconhecimentos de melhores práticas sejam pertinentes e relevantes. Desde que o produto final beneficie a todos os envolvidos, a sociedade agradece.
*Elaine Martins, especial para o Saúde Business