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O que o gestor do serviço de reprodução humana deve ter em mente?

A resposta de Pedro Monteleone é “seu público-alvo”. A medicina reprodutiva, antes apenas acessível a uma pequena parcela da população, agora alcança mais pessoas

Um médico, para obter destaque na área de reprodução humana, não basta aplicar sua melhor medicina. Ter uma clínica de reprodução humana de sucesso é reflexo de uma série de decisões tomadas diariamente, que envolvem tanto a área assistencial quanto a gerencial.

Em uma área em que são utilizadas tecnologia avançada, drogas e equipamentos de alto custo e que, mesmo assim, os resultados estão longe de alcançar os 100% de sucesso, é esperado que a palavra inovação ganhe destaque. Surgem, periodicamente, novos medicamentos para os ciclos de fertilização in vitro, novos equipamentos para o laboratório de embriologia, novas técnicas para manipulação dos embriões. E todos eles com a mesma promessa de trazerem maiores taxas de gestação.

Porém, é interessante observar que muitas inovações nesse campo são introduzidas na prática clínica sem estudo adequado de resultados e sem comprovação de eficácia e segurança. E, nesse contexto, o gestor do serviço de reprodução humana exerce papel fundamental. Ele deve estar constantemente atualizado sobre as novidades desse mercado e, ao surgimento de alguma tecnologia promissora, analisar se ela deve ou não ser adquirida.

O gestor do serviço de reprodução deve, primeiramente, ter em mente qual é o seu público-alvo. A medicina reprodutiva, antes apenas acessível a uma pequena parcela da população, agora pode alcançar pessoas de nível socioeconômico inferior.

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Nos últimos anos, as clínicas chamadas “de baixo custo” ganharam espaço no mercado. Por ser um tratamento em que se emprega alta tecnologia, o custo é alto e a margem de lucro não é grande, e aí, ganha-se se pelo volume de tratamentos realizados. Nessas clínicas, a aquisição de novas tecnologias que elevam consideravelmente o custo do tratamento e que, por sua vez, não oferecem garantia de melhoria de resultados, não deve ser considerada. É frequente, inclusive, encontrar serviços de reprodução humana que utilizam centro cirúrgico, laboratório de embriologia e andrologia terceirizados. Ou seja, o médico realiza consultas e estimulação ovariana em sua clínica, que, na prática, abrange apenas um consultório provido de um aparelho de ultrassonografia, e os processos de aspiração de óvulos, transferência de embriões, inseminação intrauterina e manipulação de embriões e gametas são realizados em outra clínica.

No outro extremo do mercado, encontram-se as clínicas que oferecem tratamentos mais dispendiosos e que pretendem atingir uma população de nível socioeconômico mais elevado. Seu público é mais exigente e opta por pagar por um serviço que acredita ser de melhor qualidade.

A clínica que investe nesse setor deve estar disposta a oferecer o que há de mais atual e promissor no mercado, e investimento em inovações faz parte desse cenário.

Outro fator que o gestor deve considerar no momento de decidir se investe ou não em nova tecnologia é o resultado de gravidez de sua clínica. O ditado popular “Não se mexe em time que está ganhando” aplica-se bem nessa área da medicina. Se as taxas de gravidez estão altas, para que arriscar com tecnologias ainda não bem estabelecidas? É válido, entretanto, que se invista em drogas e técnicas já testadas e comprovadamente benéficas, visando sempre a melhoria de taxas de gestação que, em um cenário excelente, chega a 60%. Ainda, os resultados da clínica devem ser revistos com curta periodicidade, para que se detecte prontamente queda nos resultados e se identifiquem possíveis fatores para essa alteração. Variações muitos sutis em laboratório podem trazer grande impacto nos resultados, e cabe ao gestor, em conjunto com a equipe de laboratório, traçarem ações estratégicas objetivando elevar novamente essas taxas. Trocar meio de cultura, ajustar ambiente das incubadoras e do laboratório podem ser úteis.

E o meio de cultura é outro ponto de grande variabilidade entre as clínicas. Cada uma utiliza aquela que lhe traz melhores resultados, e isso depende de habilidade e experiência dos embriologistas com o meio e das adaptações já implantadas nas incubadoras para aquele meio já utilizado. Trocar o meio de cultura a cada novo produto lançado simplesmente por ser o mais moderno geralmente não traz grandes benefícios.

Quando se fala em reprodução humana, os objetivos morais são claros: obter tratamentos cada vez mais eficazes, menos onerosos e mais amplamente acessível para casais inférteis ou com elevado risco de transmissão de determinada doença genética.

*Dr. Pedro Monteleone, especialista em fertilidade, fundador do Centro de Reprodução Humana Monteleone e coordenador técnico do Centro de Reprodução Humana do HC da Faculdade de Medicina de São Paulo.