Em meados de abril eu participei de uma visita com um grupo de empresários e executivos brasileiros ligados a saúde ao Garfield Innovation Center da rede Kaiser Permanente que fica localizado aqui na Califórnia, no Vale do Silício.
A Kaiser Permanente transformou um galpão de cerca de 3.500 metros quadrados em uma espécie de cidade cenográfica hospitalar com centro cirúrgico, uma ala completa de internação hospitalar, consultórios e uma unidade de atenção básica à saúde. Mas ao invés de usar para filmar um novo episódio da série Grey’s Anatomy ele é usado para testar soluções inovadoras para os mais diversos problemas de saúde.
Tudo o que pode modificar a atenção à saúde e que depois será implementado dentro da rede Kaiser Permanente (que hoje atende nos EUA cerca de 1,8 milhões de pessoas) é testado no Garfield Center. O nome é uma homenagem ao médico Sidney Garfield, fundador do Kaiser, o primeiro plano de saúde americano criado em 1930.
Dentro do centro são testadas desde inovações tecnológicas avançadas, como cirurgias feitas através de robôs ou quiosques de auto-atendimento em saúde (onde o médico conversa com o paciente através de vídeo e libera à distância equipamentos de diagnósticos fazer exame físico) até ideias simples e analógicas que podem fazer muita diferença no cuidado aos pacientes.
Uma dessas soluções simples de alto impacto que me chamou a atenção foi uma faixa fosforescente que é usada pelas enfermeiras ao ministrar medicamentos nos pacientes internados. O hospital percebeu que existia um número grande de erros na manipulação dos medicamentos pela equipe de enfermagem. Pesquisando as causas, descobriu-se que um enfermeiro era interrompido em média 17 vezes entre o momento em que ia buscar um medicamento até finalmente aplicá-lo ao paciente. Essas interrupções, claro, induziam o erro. Para solucionar o problema foram testadas várias soluções práticas que diminuíssem essas interrupções até chegar ao modelo final de faixa que enfermagem estava confortável em usar e ao mesmo tempo as outras pessoas respeitavam e não interrompiam. Uma solução simples que reduz custos e salva vidas.
Além de soluções tecnológicas e de processos, o centro também testa modificações no espaço físico. O projeto da UTI neonatal, por exemplo, foi desenvolvido no centro de inovação. O projeto que durou cerca de 2 anos, criou um modelo eficiente e que agora está sendo implementado nos hospitais da rede. Está em projeto no momento um modelo de consultório mais eficiente e informal onde o médico e paciente conversam lado a lado e discutem as alternativas de tratamento juntos em uma tela de computador que fica visível a ambos.
Quando a gente fala em inovação, a regra é que vários fracassos são necessários antes de sermos bem sucedidos. Um centro de inovação permite que essas ideias sejam testadas em um ambiente seguro, livre de julgamentos e riscos. É um projeto que certamente se paga, pois evita uma série de gastos desnecessários ao mesmo tempo em que protege os pacientes.
Os executivos e empresários brasileiros que participaram dessa visita saíram entusiasmados em montar uma estrutura semelhante no Brasil. Mãos a obra!
*Renata Velloso é médica e mora no vale do silício com a sua família desde 2011. É responsável pelo programa Doctors on the Cloud, que tem como objetivo fomentar a medicina brasileira através do uso profissional na internet