Quando alguém deseja criar uma startup de sucesso, o primeiro passo é escolher um problema que possa ser solucionado. O segundo é encontrar pessoas dispostas a pagar por essa solução.
Os gastos com saúde hoje representam cerca de um quinto do PIB norte-americano. É um mercado enorme com problemas igualmente gigantescos. Com isso temos os dois ingredientes que abrem os olhos de empreendedores e investidores do Vale do Silício: grandes problemas com grandes orçamentos.
Por esse motivo hoje, a área da saúde é um dos assuntos mais quentes quando se pensa em investimentos em inovação. A saúde é considerada por muitos como a última fronteira do desenvolvimento tecnológico.
Mas como tudo na área da saúde é grande, os desafios para quem quer empreender nessa área também são. De agências reguladoras, passando por instituições governamentais, profissionais de saúde a até uma parcela significativa dos pacientes, a verdade é que somos muito conservadores quando falamos de saúde. Conservadorismo e tradição são barreiras que dificultam o avanço das inovações.
Até hoje não é raro, aliás é impressionantemente comum, encontrar médicos que ainda mantém o histórico dos seus pacientes apenas em papel. O seu extrato bancário já é digitalizado há cerca de 20 anos, mas o seu prontuário médico continua guardado em pastas que acumulam pó. A principal ferramenta de trabalho do clínico médico continua sendo o estetoscópio, um equipamento que foi inventado há mais de 230 anos!
Mas tudo isso está mudando, e como não poderia ser diferente quem está impulsionando essas mudanças são os pacientes.
As pessoas que hoje já estão da faixa dos 30 anos são nativos da era digital e querem ter acesso a informação na palma da mão. São pessoas conectadas e que querem ter total acesso aos dados referentes a sua saúde. Eles querem ter controle sobre o seu corpo e não estão dispostos a terceirizar suas decisões de saúde. São pessoas que enxergam o médico como um parceiro e não como “sabe-tudo”.
Ao mesmo tempo, a despeito de todas as barreiras, a tecnologia também avançou. Hoje os wearables possibilitam que quantidade enorme de dados gerados a partir do corpo dos pacientes seja disponibilizada na nuvem digital e com isso abre-se um campo gigantesco para desenvolvimento de pesquisas que podem antecipar o diagnóstico, prevenir e até tratar doenças.
Ao mesmo tempo estamos desenvolvendo mecanismos de consulta digital que podem diminuir a demanda por consultas ao vivo com profissionais da saúde, atendendo uma necessidade de ampliar o acesso a saúde que é um problema grave no mundo todo.
As oportunidades nesse segmento são claras, mas se não forem tratadas com a seriedade que o tema exige podem ser perigosas.
No Blog Saúde no Vale, iremos falar sobre as tendências da área de saúde que estão em foco aqui na Califórnia, onde eu moro. Essa pequena, mas barulhenta área do planeta de onde tem sido criada boa parte das inovações na atualidade. A saúde não pode e não irá ficar de fora dessa revolução tecnológica.
*Renata Velloso é médica e mora no vale do silício com a sua família desde 2011. É responsável pelo programa Doctors on the Cloud, que tem como objetivo fomentar a medicina brasileira através do uso profissional na internet