Você certamente se lembra da época em que nos referíamos ao Google com desdém quando o assunto era saúde.
Criamos até mesmo um acrônimo meio irônico, o famigerado Dr. Google, para dizer que as pessoas estavam se arriscando ao buscar informações sobre saúde numa empresa de internet, ao invés de buscar os conselhos seguros de um profissional de saúde.
Pois é. As mudanças continuam acontecendo rápido nesse começo de século - muito mais rápido que nossa capacidade de mudar a forma de enxergarmos o mundo a nossa volta e mudarmos junto com ele.
Vejamos a questão sob outro ângulo.
A primeira incursão do Google na saúde através de seu mecanismo de buscas, ainda que de forma involuntária, levou milhões de pessoas em todo o mundo a se empoderar mais sobre a própria saúde e, de quebra, deve ter colaborado de forma orgânica e espontânea na coordenação de demanda dos grandes provedores de assistência médica.
Afinal de contas quantas pessoas passaram a procurar os especialistas mais indicados para suas necessidades a partir de resultados de busca sobre possíveis causas, deixando assim de navegar à esmo pelo sistema de saúde de forma totalmente aleatória, e consumindo recursos desnecessariamente?
Difícil estimar.
O que podemos afirmar com toda certeza, porem, é que a busca por temas ligados à saúde na internet é uma tendência sem volta que já chegou a ser o terceiro motivo de utilização da rede nos EUA, segundo estudos do respeitado Pew Institute. E que não há nenhum relato conhecido de morte por erro de informação na web até esse momento nos Estados Unidos nem em nenhum lugar do mundo.
E quem não se recorda do Google Health?
Aquela foi uma iniciativa do Google que permitia às pessoas guardarem e gerenciarem suas informações médicas em apenas um local. A ferramenta também permitia que médicos buscassem seus registros e lhe informava se você precisava tomar algum remédio. Teve suas atividades encerradas devido à falta de procura.
Para muitos havia sido o prenúncio de que o Google estava se retirando definitivamente do setor de saúde.
Ledo engano!
Basta constatar que - no ano de 2014 - mais de 1/3 do capital de risco do Google foi investido em projetos de saúde e ciências da vida. Não é pouco.
Com todo esse foco em apenas uma área estratégica, alguém consegue duvidar da relevância da empresa para o futuro do setor?
Para ajuda-lo a entender melhor, separei abaixo 7 segmentos em que eles já estão fazendo bastante diferença:
1.Genoma: Desde março do ano passado o Google está oferecendo para Hospitais e Universidades seus serviços de armazenagem de dados genéticos em nuvem. Mas não apenas isso. Conectando e comparando milhões de genomas através de sua tecnologia de indexação ele irá propiciar novas descobertas médicas, bem como melhorar diagnósticos, ao longo da próxima década. O National Cancer Institute, por exemplo, já anunciou um investimento de US$ 19MM na criação de uma nuvem de genoma de câncer com dados de milhares de pacientes se dividindo entre Google e Amazon (outro concorrente do Google nesse segmento, juntamente com IBM e Microsoft). Na outra mão do mercado, já começaram a surgir startups que desenvolvem genetic browsers para que cientistas possam explorar e tirar proveito dessa inédita camada de dados.
2. Pesquisa em Câncer. O Google também está trabalhando para detectar doenças como o câncer antes mesmo que elas comecem a se desenvolver através da construção de uma pílula de detecção. Essa pílula será preenchida com nano-partículas que são atraídas magneticamente a certas moléculas relacionadas ao câncer, na corrente sanguínea, enquanto um vestível utilizado no pulso, irá alertar o usuário sobre a identificação de quaisquer problemas.
3. Saúde e Fitness. Através da suíte Google Fit é possível coletar dados sobre saúde e fitness de diferentes fontes e ajudar os usuários a monitorarem seus objetivos saúde e bem estar.
4. Google Glass. Apesar de não ter sido criado para o setor de saúde, sua capacidade de capturar dados enquanto mantem as mão livres caiu como uma luva junto aos médicos. Sua estréia foi na transmissão de uma cirurgia para um grupo de estudantes de medicina, mas já existem outros pilotos em instituições médicas tanto como ferramenta de ensino quanto de teleconferência.
5. Telesaúde. Através da plataforma Google Helpout, o Google está mergulhando mais fundo na tendência de auto-diagnóstico na rede conectando pacientes com dúvidas a médicos através de vídeo-chats.
6. Lentes de contato inteligentes. No ano passado, o Google se uniu com o laboratório Novartis para desenvolver uma lente de contato inteligente que pode controlar os níveis de açúcar no sangue de um portador. O protótipo utiliza sensores em miniatura e uma antena de rádio micro-fino para controlar os níveis de glicose que podem então ser enviados para um dispositivo móvel e monitorados tanto pelo paciente quanto pelo médico. As lentes podem ser a primeira ferramenta de gestão de crônicos e saúde populacional de seu tipo no mundo.
7. Diagnósticos. Em fevereiro de 2014 o Google formalizou uma parceira com a Quest Diagnostics para facilitar e melhorar a comunicação entre médicos e pacientes através do acesso eletrônico e seguro a informações sobre resultados de exames laboratoriais de uma rede de mais de 100.000 médicos ao redor dos EUA.
Como você pode ver o Doutor Google não está para brincadeira. Ele está chamando para si algumas iniciativas arriscadas e ousadas que a bem da verdade apenas uma empresa acostumada e transformar visões arrojadas sobre o futuro em realidade seria capaz de levar adiante.