No post anterior, elencamos os principais motivos para a falta de materiais e medicamentos em hospitais públicos de todo o Brasil, apontados em levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU). Dando continuidade ao assunto, hoje vamos abordar as principais falhas na gestão intra-hospitalar desses insumos.
Em visita técnica, os auditores do TCU encontraram, muitas vezes, situações absurdas, como afixação de cartazes com esparadrapos, estocagem em corredores, uso de luvas estéreis em vez de luvas de procedimentos, utilização de agulhas de maior calibre, que dobram o tempo de diluição dos medicamentos, e uso parcial de insumos, com descarte da parte que sobrou e ainda estava apta para consumo.
Se muitas vezes a aplicação incorreta se dá por falta dos suprimentos adequados, em outras os problemas são causados por negligência e até mesmo furtos por parte dos funcionários. Dos gestores entrevistados, 39% alegam haver desperdício de insumos por causa de hábitos inadequados ou negligentes das equipes.
Mais uma vez, percebe-se a falta de processos e da implementação das boas práticas de logística nessas unidades. Em muitos casos, a simples prescrição é suficiente para que os medicamentos sejam retirados do estoque, sem que haja verificação do protocolo ou questionamento das quantidades solicitadas.
Os gestores reconhecem o problema: 53% afirmam não ter nenhum instrumento de gestão dos insumos, o que facilita a ocorrência de furtos, relatados com frequência, e a inutilização de materiais por perda do prazo de validade: apenas em Sergipe, 32 toneladas foram descartadas por esse motivo.
Face à restrição orçamentária e ao número de pessoas na fila por tratamentos de saúde, é inaceitável que situações como essas continuem sendo rotineiras pelo Brasil. Se há falta de pessoal habilitado internamente para tratar da logística hospitalar, torna-se urgente a aquisição de serviços de terceiros especificamente para esse fim, a exemplo do que já acontece em áreas como segurança e limpeza, por exemplo.
Não se espera que o Estado detenha tão ampla gama de conhecimentos, mas sim que seja capaz de provisionar seus recursos para aquisição de bens e serviços que resultem em eficácia, eficiência e segurança ao paciente, mantendo o foco em sua atividade-fim: o cuidado à população.
Domingos Fonseca, Presidente da UniHealth Logística Hospitalar
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