Uma rápida olhada na programação
do principal congresso de recursos humanos em nosso país nos permite constatar
que o tema saúde não está entre as prioridades dos gestores das organizações,
pois o tema não foi abordado em nenhuma sessão na programação principal. Ainda
hoje, a questão da saúde está restrita à área de benefícios que faz as
contratações e gestões do plano de saúde.
Uma pesquisa feita pela
consultoria Towers Watson e publicada na última edição da Revista Melhor, que é
uma publicação da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) em vários
países constatou que 73% dos respondentes no Brasil apontam os programas de
saúde e produtividade como muito relevantes (acima dos respondentes nos Estados
Unidos e Canadá, 49% e 48% respectivamente) e 82% acreditam que o tema ganhará
mais importância nos próximos anos. Apesar do número baixo de participantes
brasileiros nesta pesquisa (apenas 49 empresas) que não deve ser representativa
do ambiente corporativo nacional, é relevante assinalar que os gestores no
Brasil assinalaram que o comprometimento do funcionário com a própria saúde é
prioridade nas empresas. Ela destaca também que os temas mais relevantes nos
programas foram o stress, a inatividade física e a obesidade. De acordo com
esta pesquisa, a questão da saúde e segurança no trabalho está no quinto lugar
entre as prioridades. As principais barreiras listadas envolvem a falta de
engajamento dos trabalhadores nos programas, a necessidade de maior apoio das
lideranças, com consequente maior aporte de orçamento e de uma estrutura
organizacional que promova a importância da saúde dos empregados como razões
para o baixo nível de engajamento.
Outra pesquisa, realizada pela
Buck Consultants, em âmbito global, constatou que na America Latina, a área de
recursos humanos é a principal responsável pela gestão dos programas de saúde e
bem-estar nas organizações e que temas ligados à saúde e segurança no trabalho,
produtividade (incluindo absenteísmo), stress e estilo de vida são muito
relevantes.
Neste contexto, talvez haja até
um ciclo vicioso em que os gestores de recursos humanos não incluem a questão
da saúde como prioridades em suas atividades e planejamentos e olham o tema
como um mero problema de gestão de custos a ser terceirizado para uma consultoria ou corretora. Com isso, não buscam soluções integradas e
estratégicas que integrem a questão de performance do capital humano focado em
trabalhadores saudáveis, motivados e resilientes.
Recentemente, o renomado
pesquisador Nicolaas Pronk, do departamento de saúde pública da Harvard University
publicou um ensaio no boletim do Center of Diseases Control (CDC) dos Estados
Unidos em que ressalta a importância de se construir programas amplos e focados
em evidências científicas para que se possam obter os resultados desejados. Em
sua ampla revisão da literatura, constatou que há nove pilares para que os
programas sejam planejados de acordo com as boas práticas e evidências: (1)
liderança (2) relevância (3)parcerias(4)programas amplos e
integrados(5)Implementação eficaz (6)Engajamento (7)Comunicação efetiva
(8)Ações baseadas em evidências científicas (9)Compliance.
Neste contexto, os programas irão
além somente da busca desenfreada de um retorno sobre o investimento (ROI)
baseado em custos de assistência médica, mas poderão efetivamente gerar valor
para as organizações traduzidas através do maior engajamento dos trabalhadores,
melhoria do clima organizacional, melhor comunicação interna, mais criatividade
e melhor atendimento ao cliente e possibilidade do trabalho efetivo em times.