O diagnóstico laboratorial tido
como ideal é aquele quando o exame correto é utilizado para o paciente certo no
momento adequado. Temos acompanhado nos últimos anos o crescimento na
utilização dos serviços disponíveis devido a fatores clínicos, como o maior uso
da medicina preventiva; fatores tecnológicos, pois muitas vezes temos novas
tecnologias não substitutivas; questões mercadológicas, associadas à oferta de
serviços e, ainda, a pressão dos pacientes, pelo maior conhecimento e o famoso
Dr. Google e as algumas longas prescrições.
Sabemos que este é um ciclo não
virtuoso e que contribuiu e contribui para a pressão de preços existente no
setor privado, como ferramenta de sustentação e alimentado pelo modelo de
remuneração. Basta compararmos as taxas de crescimento de volume de exames
(dados públicos de empresas listadas ou de associações das indústrias
demonstram variação de 8% a 12%) com os baixos índices de reajuste ou inflação
destes serviços (dados do IESS de cerca de 3,5%), onde vemos mais utilização
aos mesmos valores, sem reajustes ou adequações de valor.
Muito se discute sobre a
utilização ideal dos recursos laboratoriais, levando-se em conta o uso
inapropriado (o exame errado para o paciente errado no momento errado ou também
a ausência do exame correto), o uso excessivo (mais testes que o necessário), o
uso obsoleto (ainda há muitas metodologias e exames obsoletos disponíveis no
rol de procedimentos) e também, como contraponto, a sub-utilização, seja esta
pela ausência de acesso (exames não disponíveis) por não estarem no rol de
procedimentos, baixo P&D local (pressão de fornecimento com maior foco
comercial) ou por desconhecimento técnico.
Há, realmente, uma necessidade
imediata de análise e estudos dos dados disponíveis sobre a utilização, para termos
um diagnóstico preciso do tamanho dos recursos disponíveis, das reais necessidades
destes recursos e de qual é o valor agregado que estes devem possuir, para
continuarem com sua evolução tecnológica e com um padrão necessário de qualidade.
Destaco duas, de várias,
importantes ferramentas que podem atuar diretamente sobre o problema: a educação
e as evidências. No primeiro, surpreende de forma negativa a pequena, quando
existente, carga horária disponível nas faculdades para a disciplina de
medicina laboratorial frente ao grande impacto que esta possui nas decisões
clínicas. Para a segunda ferramenta, a necessidade de definição e,
principalmente, a utilização das evidências diagnósticas em protocolos e
diretrizes, com apoio de especialistas de áreas clínicas, de economia em saúde
e laboratorial.
Transformando os dados em
informação, gerando o conhecimento com a educação e definindo as necessidades
com as evidências, possivelmente seguiremos para um setor com mais saúde.