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O Índice Bloomberg de eficiência em saúde: aonde se encontra o Brasil?

Bloomberg divulga em um dos seus websites a sérievisual data: the best and the worst, que pesquisa vários temas que podem afetar o clima de negócios, sendo, portanto, de interesse para investidores e para aqueles que buscam oportunidades em países que oferecem melhores condições empresariais.

Introdução

Bloomberg L.P é um complexo de empresas de comunicação, sediado em Nova York, que tem por objetivo oferecer instrumentos para análises dos mercado de ações, títulos financeiros e valores, bases de dados sobre negócios e serviços correlatos, notícias e informações na mídia eletrônica, via web ou cabo e revistas semanais. Suas principais publicações são as revistas Bloomberg Businessweek e Bloomberg Markets. Foi fundado em 1981 por Michael Bloomberg e 30% de suas ações pertencem ao conglomerado financeiro Merrill Lynch. É uma instituição respeitada por oferecer informações confiáveis para investidores e para aqueles que vivem do dia a dia dos mercados financeiros e de negócios.

Com o processo de globalização, Bloomberg  tem cumprido o papel de informar aos interessados sobre o ambiente de negócios existente nos Estados Unidos e em distintos países, apoiando a tomada de decisões de investimento com informações comparativas sobre o clima de negócios, a economia e a sociedade. Tais informações são vistas pelos investidores como fatores que podem minimizar riscos e aumentar as sinergias para o retorno de seus investimentos.

Por este motivo, a Bloomberg divulga em um dos seus websites a sérievisual data: the best and the worst, que pesquisa vários temas que podem afetar o clima de negócios, sendo, portanto, de interesse para investidores e para aqueles que buscam oportunidades em países que oferecem melhores condições empresariais. Muitos temas tem sido analisados em distintos países, destacando-se perda de confiança dos investidores, uso de energia limpa, custos da justiça, preços dos imóveis residenciais, preços de comunicações, salários pagos a professores, pragas que contaminam a produção de alimentos, conectividade digital, desemprego juvenil, divida pública como proporção do PIB, risco de estagflação, gastos e principais destinos de turismo internacional, eficiência dos aeroportos, tendências da inflação, dependencia do petróleo, crescimento na venda de veículos, velocidade do processo de envelhecimento demográfico, disponibilidade de energia elétrica, tendências dos sistemas de aposentadoria e pensões, dimensão do emprego assalariado e por conta-própria, e muitos outros.

Na área de saúde, um dos temas que tem sido pesquisado (a última atualização ocorreu em agosto de 2013, foi o de eficiência da atenção à saúde. Os dados se baseiam em informações de 2011. A metodologia consistiu em ordernar os países de acordo com o nível de eficiência em saúde, medido por 3 indicadores: (a) expectativa de Vida ao Nascer (o mesmo utilizado pelo Índice de Desenvolvimeto Humano – IDH do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD); (b) o gasto em saúde como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) e; (c) o gasto percapita em saúde com a cobertura de atenção preventiva e curativa, planejamento familiar, atividades nutrição e cuidados de emergência. O primeiro indicador teria uma relação direta com a eficiência e os outros dois uma relação inversa. Estes tres indicadores foram combinados em um índice, que varia de 0 a 100, onde a esperança de vida tem peso de 60%, o gasto em saúde como proporção do PIB tem um peso de 30% e o gasto absoluto percapita em saúde tem um peso de 10%.

Foram considerados para o ordenamento dos países, somente aqueles com população de pelo menos 5 milhões de habitantes e renda percapita mínima de US$ 5,000.00. Isto permitiu que participassem 48 países, onde está incluido o Brasil. Os dados podem ser visualizados na página web. As informações utilizadas vieram das bases de dados do Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional e Organização Mundial de Saúde.

O índice de eficiência da saúde, neste sentido, seria medido pelo que se pode alcançar em esperança de vida ao nascer (medida em anos) com a atual porcentagem de gasto em saúde, dado uma certa dimensão do gasto absoluto em saúde.

Os Resultados do Índice de Eficiência

Sem questionar estes resultados, podemos dizer que, entre os 48 países analisados, os cinco mais eficientes, de acordo com os critérios estabelecidos, foram Hong Kong, Singapura, Japão, Israel e Espanha (nesta ordem) enquanto que os cinco mais ineficientes foram nesta ordem Brasil, Sérvia, Estados Unidos, Iran e Turquia. A tabela 1 abaixo mostra os resultados alcançados pela Bloomberg.

tabela1

Fonte: Bloomberg L.P

Para exemplificar as comparações que podem ser feitas, Hong Kong, com um gasto em saúde percapita pouco maior que o do Brasil (US$1,409 x US$1,121) e um gasto em saúde como proporção do PIB quase 3 vezes menor (3.8% x 9.9%) apresenta uma expectativa de vida ao nascer de 10 anos a mais que a brasileira (83.4 anos x 73,4 anos).

Como tem apontado recentemente a literatura internacional, vale notar que um americano médio, com um gasto de saúde de 17,2% do PIB, que chega a US$8,608 em termos percapita, tem uma esperança de vida de 5 anos a menos que um residente de Hong Kong, o que demonstra um elevado nível de ineficiência no gasto em saúde.

Decompondo o Índice de Eficiência

O primeiro componente que deve ser analisado é o de resultado, que no caso seria a esperança de vida ao nascer.

tabela2

Fonte: Bloomberg L.P

No que diz respeito a este indicador, o Brasil, entre os 48 países, empata com a República Dominicana na 45ª posição, mas tem a vantagem de estar melhor do que a Argélia e o Irã. Todos os outros países da América Latina que entraram na análise - Cuba, Chile, México, Argentina, Equador, Venezuela, Perú e Colombia – apresentam esperança de vida maior que a brasileira, mas paradoxalmente, todos eles tem um gasto per-capita em saúde bem menor que o do Brasil, segundo os dados da Bloomberg, como veremos nas tabelas 3 e 4.

tabela3

Fonte: Bloomberg L.P

A tabela 3 mostra que o Brasil, dos 48 países considerados no estudo do Bloomberg, é o 16º com gasto mais elevado em saúde como proporção do PIB, alcançando quase 10%. Com exceção de Cuba, é o país que apresenta a maior proporção de gasto percapita em saúde entre os latino-americanos. A participação do gasto em saúde no PIB brasileiro é maior que a de países que reconhecidamente tem os sistemas de saúde de melhor qualidade, como Suécia, Finlândia, Reino Unido e Austrália. Em que pese o fato de que o gasto em saúde no Brasil vem aumentando rapidamente nos últimos anos, existem alguns problemas já levantados em outras matérias deste blog, que são a baixa participação do gasto público no gasto total em saúde e a elevada participação do gasto direto das famílias. Mesmo assim, entre 2001 e 2011, a participação do gasto público em saúde no Brasil como proporção do PIB aumentou de 3,1% para 4,1%, de acordo com informações também levantadas pela Bloomberg L.P.

tabela4

Fonte: Bloomberg L.P

No que se refere ao gasto absoluto per-capita com saúde, o Brasil apresenta a 26ª posição entre os 48 países considerados, tendo o maior gasto per-cápita entre o conjunto dos países latino-americanos selecionados e também gastos superiores a vários países do leste europeu como Hungria, Polônia, Sérvia, Bulgária e Romenia.

Os resultados do Indice de Eficiência e seus componentes, permitem demonstrar, portanto, que o Brasil, não é um dos países que gasta menos em saúde, tanto do ponto de vista do gasto per-capita, como do gasto de saúde como proporção do PIB. Mas sua esperança de vida ao nascer é uma das mais baixas entre os 48 países selecionados pelo Índice da Bloomberg. Os dois gráficos abaixo permitem demonstrar que países como o Brasil e os Estados Unidos estão sempre dentro do que poderia ser chamado de zona de ineficiência dos resultados em saúde com relação ao gasto, ocorrendo o inverso com países como Hong Kong e Singapura.

A zona de eficiência seria aquela aonde a esperança de vida tende a ser proporcionalmente maior ao volume do gasto, em relação a uma curva que ajusta a média dos gastos em saúde de todos os 48 países. Isto fica ilustrado nos dois gráficos da seguinte forma: os pontos que representam os países que estão acima da curva de ajuste, estariam na zona de eficiência dos respectivos gráficos, ocorrendo o inverso com aqueles que se situam abaixo da curva.

grafico1

grafico2

Algumas Considerações sobre a Metodologia e os Resultados do Índice de Eficiência

Embora o Indicador de Esperança de Vida ao Nascer possa sintetizar a trajetória da probabilidade de morrer de uma determinada população ao longo do ciclo de vida, ele poderia não ser o melhor indicador de eficiência para a análise de sistemas de saúde. A esperança de vida saudável, que calcula os anos de vida perdidos pela mortalidade (os chamados YLLs na metodologia de cálculo dos DALYs) mas também pela morbilidade (os YDLs, de acordo com a mesma metodologia) seriam mais representativos porque abarcariam todas as dimensões do que pode resolver um sistema de saúde.

Ao mesmo tempo, indicadores como gastos de saúde em relação ao PIB ou o gasto per-capita em saúde, refletem custos e complexidades culturais e organizacionais dos sistemas de saúde que representam formas de relacionamento entre todos os atores envolvidos direta ou indiretamente na produção de bens e serviços de saúde. Portanto, nem sempre os dados refletem uma medida comparável de eficiência dos sistemas de saúde nos países, mas também indicam quanto a população ou o governo estariam dispostos a pagar ou a financiar para o funcionamento destes sistemas.

Mas mesmo que se tenha que considerar de forma relativa a metodologia utilizada, é inegável que os dados mostram que países como o Brasil e os Estados Unidos, por motivos diversos, se encontram abaixo da linha de eficiência do seu gasto em saúde e isto não é uma novidade. Nos Estados Unidos, é necessário incluir mais pessoas ao sistema com custos menores e isso se pode corrigir através das novas regulações que vem sendo implementadas pelo Plano Obama.

No caso do Brasil, as ineficiências estão na forma como se regula e se administra o gasto público e na falta de uma articulação eficiente entre o SUS e os planos de saúde. Um gasto eficiente do SUS poderia eliminar a elevada proporção dos gastos em saúde das famílias e incluir aqueles que ainda não colhem os frutos dos 25 anos de existência do SUS, como é o caso  dos órfãos do Programa de Saúde da Família. Uma melhor integração entre o SUS e os planos de saúde permitiria eliminar as ineficiências e dar opções  para aqueles que não encontram uma atenção adequada, fazendo com que o setor público também venha a ter flexibilidade e condições para aumentar sua competitividade e eficiência na busca da preferência pelos cidadãos.

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