Muito já se falou sobre a condição combalida da economia europeia. E no Velho Continente, assim como em outros países e regiões, a questão do envelhecimento populacional não raro aparece como vilã desse cenário, com as aposentadorias dos cidadãos cada vez mais longevos figurando como verdadeiros drenos de recursos que poderiam ou dar o boost necessário para reverter a crise, num cenário de investimentos públicos, ou como um gasto excessivo que deveria estar sendo retido, num cenário de austeridade fiscal. Discussões de economia política à parte, o fato é que vem dessa Europa ainda em luta para emergir da tsunami que varreu o mundo em 2008, mais especificamente da França, uma das iniciativas mais originais e ousadas (ao menos na minha visão) em matéria de explorar o envelhecimento populacional como motor, e não apenas como pedra no sapato.
É nos arredores da antiga Paris que vem nascendo o Silver Valley. Trata-se de um polo de negócios, pesquisa e desenvolvimento de soluções e produtos focados no envelhecimento com qualidade de vida. O conjunto imobiliário Charles Foix será o coração do Silver Valley. São mais de 5000 m² onde estarão sediadas as empresas, laboratórios e um showroom que exporá o resultado do trabalho produzido ali. Em meados do ano passado, já havia mais de 50 empresas gerando 645 empregos. A meta é reunir 300 empresas, com uma expectativa de mais de 5000 empregos de forte valor agregado. Conheça o projeto:
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Mas para fazer acontecer o Silver Valley, não basta o prédio. Acontecerão ali de pequenos a grandes eventos com a finalidade de promover o intercâmbio entre profissionais, empresas, investidores, formadores de opinião, enfim, toda sorte de stakeholders que podem e devem estar presentes para gerar o florescimento de um ambiente de negócios favorável; serão desenvolvidas ações que favoreçam o fortalecimento da iniciativa como lobbying com o governo e desenvolvedores de políticas públicas e ligação com iniciativas semelhantes em nível nacional; treinamento profissional e acadêmico; coaching para start-ups; entre outras.
Nas palavras de Jérôme Arnaud, Presidente da Soliage: “Queremos criar dentro de um território próximo a Paris um Silver Valley [Vale Prateado, em referência aos cabelos grisalhos dos idosos] que – tal como o Silicon Valley – estimule um ecossistema em torno da Silver Economy [Economia do Envelhecimento ou da Longevidade], provendo imóveis e facilidades atraentes assim como acesso simplificado à pesquisa e financiamento a fim de dinamizar a inovação e intercâmbios frutíferos entre membros”.
Esta iniciativa é levado a cabo pela Soliage, que congrega a três anos os players da comuna de Ivry-sur-Seine (10 km da capital francesa) atuantes no setor. É nisso que reside o apelo do Silver Valley, em face do objetivo de alavancar a economia a partir do envelhecimento populacional: trata-se de uma iniciativa de desenvolvimento territorial. A Soliage, ou o Silver Valley, são mais de 100 instituições do setor produtivo (indústrias, distribuidores de produtos, grandes empresas, etc.), mas também parceiros de inovação (centros de pesquisa e ensino, investidores, órgãos de desenvolvimento econômico, etc.) e até usuários e seus representantes (coletividades locais, grupos de pacientes, estabelecimentos que abrigam idosos, etc).
Mas a pergunta fundamental é: o envelhecimento populacional é capaz de sustentar uma empreitada deste porte? Ainda segundo Arnaud, o mercado de serviços e produtos para idosos ainda tem muito a se desenvolver. Para ele, apenas os serviços de teleassistência já decolaram. No entanto, o Silver Valley, por meio da Soliage, oferece uma ajuda financeira no valor de 10 a 15 mil euros, a Bourse Charles Foix, para produtos em desenvolvimento que ofereçam inovações relevantes para os idosos, seguida de orientação e mentoring para os empreendedores. Com este tipo de iniciativa, pretende-se acelerar a passagem da pesquisa ao mercado. Independentemente dos resultados que serão obtidos, o Silver Valley é uma novidade que merece a atenção de quem tem interesse em empreendedorismo voltado para pessoas idosas. Leia aqui uma entrevista original em francês (em português pelo Google Translate) com Jérôme Arnaud.
