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Por quê cresce demanda por consultorias que gerenciem planos de saúde corporativos ?

Trocar o plano de saúde costumava ser a medida mais comum tomada pelas empresas diante de um reajuste relevante feito pela operadora contratada. Hoje, porém, a mudança já não é tão simples. A consolidação no setor e o crescente número de prestadoras desse serviço em dificuldades financeiras diminuíram as opções de convênios médicos no mercado. Além disso, a forte elevação nos custos têm feito as operadoras preferirem perder clientes a arcar com prejuízos.

Diante desse cenário, ganha força a contratação de consultorias especializadas em gerenciamento dos planos de saúde das companhias, capazes de indicar soluções para redução de custos após uma análise de como benefício vem sendo utilizado pelos funcionários. Na Qualicorp, por exemplo, a receita líquida desse segmento teve aumento de 48,4% no ano passado, para quase R$ 90 milhões. A Aon, uma das maiores consultorias do mundo, registrou crescimento de 28% no faturamento no Brasil em 2012. Para este, projeta um aumento de 30%.

Além disso, grupos internacionais desembarcam no país de olho nessa demanda. Na semana passada, a seguradora SulAmérica fechou uma parceria de cinco anos com a americana HealthWays, uma das líderes em monitoramento da qualidade de vida de usuários de planos. Em fevereiro, a espanhola Telefónica Digital comprou 51% da Axismed, consultoria brasileira que faz um trabalho semelhante (ver texto ao lado).

"Não adianta apenas trocar de plano de saúde porque se houver um problema na carteira ele será repassado para outra operadora e na renovação do contrato haverá aumento de preços de novo", disse Paulo Hirai, sócio da SantéCorp, consultoria especializada nesse tipo de trabalho, que cresceu 60% no ano passado e espera uma expansão ainda maior para este ano. Uma das soluções recomendadas pela SantéCorp é a implementação de clínicas dentro das empresas para atendimento médico de casos simples e orientação para procedimentos complexos para os funcionários.

O banco HSBC foi um dos que adotaram tais medidas para barrar a alta. "Tínhamos um convênio médico com alto índice de satisfação, mas fizemos um estudo e detectamos que seria inviável mantê-lo se continuássemos naquele patamar de reajuste", disse Vera Saicali, diretora de recursos humanos do HSBC. "Em 2006, o custo médio por funcionário do banco era R$ 93,02. Aplicando a inflação até 2011, subiria para R$ 167,88, mas com a consultoria o custo ficou em R$ 148,76, uma economia de 13%", acrescentou Vera, que tem contrato com a SantéCorp.

O trabalho feito pelas consultorias especializadas em planos de saúde ainda é pouco conhecido no mercado brasileiro. Estima-se que nos Estados Unidos, 37% das companhias com mais de 5 mil empregados contratam esse tipo de serviço. No Brasil, o percentual não chega a 1%. "Realmente, muitas vezes, é um trabalho difícil de ser compreendido e mensurado. O HSBC foi um dos nossos grandes desafios porque fizemos questão de fechar um contrato por performance e não um valor fixo", disse Eduardo Reis Oliveira, sócio da SantéCorp.

"Atualmente, a área de recursos humanos de grandes companhias tem funções mais estratégicas e ao mesmo tempo não tem conhecimentos para gerenciar uma carteira de planos de saúde", disse Marcelo Borges, vice-presidente-executivo da Aon Hewitt, que gerencia uma carteira com 1,6 milhão de usuários de planos. "Em 80% dos casos, não vale a pena mudar de operadora. Recomendamos um redesenho da carteira", acrescentou. O executivo conta que há empresas que concedem convênio médico com direito a Hospital Albert Einstein e laboratório Fleury para todos os funcionários, o que eleva o custo. Ele sugere que o "benefício extra" seja ofertado apenas nos planos destinados a cargos de gerência para cima.

Outra recomendação é a segunda opinião com médicos "medalhões" em casos de maior complexidade. Esse médico renomado cobra um valor maior pela consulta, porém tem uma eficácia maior e evita que o usuário do plano de saúde procure vários especialistas diferentes até conseguir solucionar o problema, o que pode até gerar um custo superior. Essa já é uma prática adotada em empresas como HSBC e Vivo. Segundo Oliveira, uma pessoa que agenda mais de 17 consultas por ano provavelmente passa por algum problema que deve ser administrado.

Outro caminho bastante indicado pelas consultorias para frear o uso exagerado do convênio médico é a cobrança de uma parcela das consultas e exames mais comuns, a chamada coparticipação. Vale observar que é uma medida diferente de o funcionário ter de pagar, todo mês, uma parcela da mensalidade do plano. Neste último caso, a empresa terá de arcar com um passivo no futuro. "Um funcionário na ativa que contribui durante 10 anos tem direito a um plano de saúde da empresa pelo resto da vida", disse Francisco Bruno, consultor sênior da Mercer Marsh. Ao se aposentar, o funcionário passa a pagar integralmente o valor do convênio, mas é uma quantia muito menor se comparada a de um plano individual. O ponto sensível é que esse aposentado usa muito mais o plano de saúde por causa da idade e, com isso, afeta as taxas de sinistralidade de toda a carteira do convênio médico da companhia.

O custo de um plano de saúde em um grupo de pessoas com faixa etária entre 25 e 54 anos aumenta 2% ao ano. Já entre os 55 e 79 anos - quando normalmente a pessoa está aposentada - esse percentual mais do que dobra, para 4,5% ao ano. Uma curiosidade é que após os 80 anos o custo cai para 3%. "Pesquisas mostram que as pessoas que chegaram aos 80 anos normalmente se cuidaram ao longo da vida. Após essa idade, diminuem as possibilidades de ocorrer um AVC ou câncer, que demandam tratamentos caros e costumam acontecer numa faixa etária anterior. Essas pessoas morrem normalmente de velhice", afirmou o executivo da Mercer Marsh, consultoria que vem crescendo a um ritmo de cerca de 20% ao ano.

Outra frente de ação bastante comum para baixar os desembolsos é o gerenciamento de pacientes com doenças crônicas, que representam 70% dos gastos de uma carteira de usuários de planos de saúde. Porém, esse tipo de trabalho ainda carece de dados concretos de resultados. Poucas empresas conseguem comprovar quanto foi realmente a economia ao administrar pacientes com doenças crônicas. "Criar uma área de telemarketing só para ligar e checar se todos os 'crônicos' tomaram o remédio é um engodo. É só marketing. É melhor dar orientações. Tem gente com asma que acha que é só espirrar a bomba dentro da boca, não sabe que precisa aspirar", disse Alberto Coutinho, presidente da consultoria WeCare. Segundo Hirai, da SantéCorp, o ideal é acompanhar apenas de 1% a 2% dos doentes crônicos que representam os casos mais complexos e geram economias efetivas.

Fonte: Beth Koike, Valor Econômico, 19/04/2013